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É zootecnista e especialista em gestão de processos com o método pecuária 360º

Apagão da mão de obra no campo é o maior limitante no agronegócio

Diante desse cenário, a organização do trabalho torna-se ainda mais essencial. A definição clara de processos é um dos fatores que contribuem para a eficiência, evitando retrabalho, desperdício de recursos e baixa produtividade

  • Renata Erler É zootecnista e especialista em gestão de processos com o método pecuária 360º
Publicado em 16/02/2025 às 10h00

A gestão de pessoas no agronegócio é um dos pilares fundamentais para garantir eficiência, produtividade e sustentabilidade nas operações. Diferentemente de outros setores, a agropecuária lida com desafios específicos, como sazonalidade, dependência de fatores climáticos e um mercado em constante transformação.

No entanto, nos últimos anos, um dos principais desafios enfrentados pelo setor tem sido o apagão de mão de obra, ou seja, a crescente dificuldade em encontrar trabalhadores qualificados para ocupar funções essenciais no campo. Enquanto a demanda por profissionais cresce, a oferta diminui, impactando diretamente a eficiência e a continuidade das operações rurais.

Entre as principais razões para essa escassez, destacam-se o êxodo rural, a falta de qualificação técnica, a mudança no perfil dos trabalhadores e as dificuldades na sucessão familiar. A migração da população jovem para os centros urbanos, aliada à crescente necessidade de conhecimento tecnológico no campo, tem gerado um vácuo de profissionais capacitados.

Outro grande problema que dificulta ainda mais a contratação formal no agro é a resistência de muitos trabalhadores em ter sua carteira assinada. Muitos preferem permanecer na informalidade para continuar recebendo auxílios governamentais, o que cria um impasse para os produtores rurais. Mesmo oferecendo vagas e boas condições de trabalho, o empregador encontra resistência por parte dos candidatos, que optam por não trabalhar formalmente para manter benefícios sociais.

Essa situação não apenas agrava o apagão de mão de obra, mas também cria instabilidade para o próprio trabalhador, que perde oportunidades de crescimento profissional e acesso a direitos trabalhistas, como aposentadoria e seguro-desemprego. Para os produtores, essa realidade aumenta a dificuldade em manter um quadro de funcionários fixo e qualificado, impactando diretamente a produtividade das fazendas e dificultando a implementação de processos mais eficientes.

Diante desse cenário, a organização do trabalho torna-se ainda mais essencial. A definição clara de processos é um dos fatores que contribuem para a eficiência, evitando retrabalho, desperdício de recursos e baixa produtividade. No agronegócio, onde as margens muitas vezes são apertadas e os prazos rígidos, a padronização das atividades garante maior previsibilidade e controle.

Além disso, investir na capacitação da equipe torna-se indispensável, especialmente quando há escassez de profissionais qualificados. O avanço tecnológico no setor traz soluções inovadoras que podem minimizar os impactos da falta de mão de obra, como a automação de processos, o uso de softwares de gestão e sensores inteligentes para otimizar tarefas no campo.

A alocação correta das pessoas dentro da estrutura operacional também desempenha um papel fundamental. Com menos profissionais disponíveis e dificuldades para formalizar contratos, torna-se ainda mais importante identificar habilidades e competências para que cada trabalhador esteja na posição certa, contribuindo com sua expertise.

Investir em treinamento e desenvolvimento permite transformar trabalhadores com pouca experiência em profissionais capacitados, suprindo parte do déficit de mão de obra. Além disso, motivar e engajar a equipe é um fator essencial para retenção de talentos, pois, mesmo diante das dificuldades do setor, um ambiente de trabalho positivo pode incentivar os trabalhadores a permanecerem e se desenvolverem dentro da empresa.

A manutenção de rotinas semanais bem estruturadas é outro aspecto crucial para a produtividade. No contexto atual, em que há menos pessoas para executar as tarefas e dificuldades na contratação formal, a disciplina e o planejamento são fundamentais. Reuniões periódicas ajudam a redistribuir funções conforme a necessidade, enquanto o monitoramento de indicadores permite ajustes estratégicos para compensar a falta de trabalhadores. Planejar atividades com antecedência reduz a sobrecarga da equipe e garante maior previsibilidade operacional.

A liderança no agronegócio também se torna um diferencial competitivo. O líder não pode ser apenas um gestor, mas sim um facilitador que inspira e motiva sua equipe. Em um contexto de escassez de mão de obra e resistência à formalização, manter os colaboradores engajados e comprometidos é essencial para evitar perdas ainda maiores.

A comunicação clara e objetiva, a participação ativa no dia a dia do campo e a valorização dos funcionários são aspectos fundamentais para garantir um ambiente produtivo. Além disso, a descentralização do poder, com a delegação de responsabilidades e o desenvolvimento da autonomia dos trabalhadores, ajuda a manter a eficiência operacional.

Outro grande desafio da gestão de pessoas no agronegócio é a integração de diferentes gerações no mesmo processo produtivo. A convivência entre profissionais experientes e trabalhadores mais jovens nem sempre é fácil, especialmente porque cada grupo tem uma forma diferente de enxergar o trabalho e interagir com as novas tecnologias.

Cultivo de café é forte em municípios da Microrregião Noroeste
Cultivo de café é forte em municípios da Microrregião Noroeste. Crédito: Freepik

Enquanto os mais velhos trazem consigo um conhecimento prático e valioso, os mais jovens chegam com habilidades digitais e uma mentalidade voltada para inovação. O apagão de mão de obra acentuou essa questão, tornando ainda mais urgente a necessidade de criar um ambiente colaborativo, onde haja troca de conhecimentos e valorização das diferentes perspectivas.

Para isso, é essencial adaptar a comunicação, oferecer capacitações contínuas que envolvam ambas as gerações e garantir que tanto a experiência quanto a inovação sejam aproveitadas da melhor forma possível.

A gestão de pessoas no agronegócio tornou-se um fator-chave para garantir eficiência e sustentabilidade no setor. O apagão de mão de obra trouxe desafios significativos, agravados pela resistência dos trabalhadores à formalização do emprego, exigindo novas estratégias para atrair, capacitar e reter talentos.

Diante desse cenário, o sucesso depende de processos bem estruturados, alocação inteligente de profissionais, cumprimento rigoroso de rotinas, liderança eficaz e integração geracional. Empresas e propriedades rurais que conseguirem equilibrar esses fatores estarão mais preparadas para enfrentar o futuro e garantir a continuidade de suas operações. Afinal, o agronegócio é feito de pessoas, e a forma como elas são geridas impacta diretamente na produtividade e na longevidade dos negócios.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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