Jucileia, Flavia, Juliana e Maria Gabriela: mulheres formam corrente do bem para ajudar outras mulheres
Jucileia, Flavia, Juliana e Maria Gabriela: mulheres formam corrente do bem para ajudar outras mulheres. Crédito: Divulgação / Arte: Geraldo Neto

Mulheres formam corrente do bem para ajudar outras mulheres

Capixabas formam rede de solidariedade para oferecer auxílio financeiro, apoio psicológico, conhecimento sobre direitos da mulher e até incentivo ao empreendedorismo feminino

Tempo de leitura: 4min
Vitória
Publicado em 10/03/2024 às 08h15

Em uma sociedade em que as desigualdades e violências de gênero persistem, capixabas têm se dedicado a ajudar outras mulheres, em uma rede de solidariedade que tem transformado vidas, dia após dia.

É o caso da boleira Jucileia Santos Ribeiro, que, após sofrer violência doméstica por 14 anos, conseguiu, há nove, pôr fim à relação abusiva, denunciar seu agressor e recomeçar. Em 2020, ela contou sua história no projeto Todas Elas, de A Gazeta, tendo recebido, inclusive, ajuda para uma prótese dos dentes que chegou a perder em uma das agressões que sofreu. Naquele mesmo ano, passou a integrar um grupo de ajuda a mulheres em situação de violência doméstica.

Jucileia Santos Ribeiro

Membro do grupo voluntário Liberta, que ajuda mulheres em situação de violência

"Quando eu fiz a denúncia em 2015, muita gente me ajudou. Então, resolvi fazer pelos outros o que um dia fizeram por mim"
Jucileia Santos Ribeiro virou boleira, após sofrer violência doméstica por 14 anos
Jucileia passou a integrar um grupo de ajuda a mulheres em situação de violência doméstica. Crédito: Divulgação / Arte: Geraldo Neto

O grupo voluntário surgiu no primeiro ano da pandemia, quando muitas mulheres cujas atividades não lhes permitiam trabalhar, ficaram trancadas em casa com seus agressores e sentiram na pele o aumento das agressões.

“Quando foi minha vez, recebi ajuda. Isso me motivou a ajudar outras mulheres. Temos um movimento chamado Liberta, que mobiliza vários voluntários para que alguém ‘adote’ essa mulher; um providencia alimentação, outro arranja leite para os filhos, ajuda com transferência de escola, passagem para sair do Estado, alguém com aluguel. O que estamos fazendo é dever do Estado. Então, ao mesmo tempo que é uma sensação de dever cumprido, também é de lamento.”

Coordenadora de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres da Defensoria Pública do Espírito Santo, Maria Gabriela Agapito também tem se dedicado a defender a pauta feminina nos últimos anos.

“A gente pensou nessa coordenação para ter um trabalho estratégico direcionado para a pauta das mulheres, não apenas pensando na repressão, mas também para tentar fazer um trabalho de transformação social, nos aproximando cada vez mais da população, falando dos direitos das mulheres e tentando levar mais autonomia e liberdade.”

Ela observa que o trabalho exige um olhar diversificado para a pluralidade de mulheres, além de uma linguagem mais acessível, que possa ser compreendida por todas.

“É preciso pensar nas mulheres do campo, das periferias, pensar nas mulheres não apenas em situação de violência doméstica, mas na perspectiva da saúde da mulher, da violência obstétrica que também atinge muitas mulheres em situação de vulnerabilidade social. E temos tentado abrir várias portas para as mulheres terem acesso ao conhecimento sobre seus direitos e como efetivá-los.”

Coordenadora de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres da Defensoria Pública do Espírito Santo, Maria Gabriela Agapito
Maria Gabriela Agapito tem se dedicado a defender a pauta feminina. Crédito: Divulgação / Arte: Geraldo Neto

Maria Gabriela explica que há comissões que atuam junto à sociedade civil, participação em iniciativas do governo estadual, um Núcleo de Defesa da Defensoria da Mulher, além de um canal virtual para acionamento da Defensoria Pública.

“O canal ainda está ativo desde a pandemia, e percebemos que, às vezes, as mulheres se sentem mais confortáveis, mais seguras em relatar situações de violência pelo canal virtual do que indo presencialmente. Disponibilizamos um formulário com perguntas básicas e, a partir daí, em até 24 horas, a Defensoria entra em contato, pega um relato mais completo e abre a medida protetiva, se necessário. É uma ferramenta importante.”

Outra ação ocorre dentro do Núcleo de Práticas Psicológicas da Multivix, que, conforme explica a psicóloga e professora Daniela Bello, além de atender a população geral, oferece apoio psicológico a mulheres em situação de violência.

“O Núcleo é uma clínica-escola, em que os estudantes de nono e décimo períodos vão atender pessoas que estão precisando. A gente atende várias demandas, e uma delas é voltada para as mulheres em situação de violência doméstica. E é um processo que auxilia tanto no suporte emocional como no processo de empoderamento e quebra do ciclo de violência.”

Para ter acesso, é necessário ligar para o telefone (27) 3335-5669 e fazer um cadastro. Pode haver fila de espera.

Psicóloga e professora Daniela Bello
Psicóloga e professora Daniela Bello. Crédito: Divulgação / Arte: Geraldo Neto

A união entre as mulheres, inclusive, se estende por outros meios, como o ambiente de negócios. É esse o caso do Papo de Quinta, um grupo fundado por Flávia Herkenhoff e Juliana Zaganelli, com o objetivo de fomentar o empreendedorismo e a liderança feminina no Estado.

“Eu sempre fiz parte de grupos associativistas, mas não existia ainda um espaço tão grande para as mulheres. Com essa dor, começamos o Papo; no começo, como uma confraria para dividir experiências, mas já nesse primeiro encontro foram mais de 50 mulheres e vimos que estávamos todas no mesmo barco, independentemente do ramo. Todas enfrentamos, por ser mulheres, outros desafios no campo profissional, e isso acabou nos unindo”, explicou Flávia.

Flávia Herkenhoff

Confundadora do Papo de Quinta, grupo de fomento ao empreendedorismo feminino

"A gente queria transformar o mundo, mas enquanto não consegue, a gente vai transformando onde consegue"
Flávia Herkenhoff e Juliana Zaganelli fundaram o Papo de Quinta, grupo com o objetivo de fomentar o empreendedorismo feminino
Flávia Herkenhoff e Juliana Zaganelli fundaram grupo com o objetivo de fomentar o empreendedorismo feminino. Crédito: Divulgação / Arte: Geraldo Neto

Ela explica que os encontros são mensais e, além das discussões, há ciclos de leitura voltados para gestão, desenvolvimento e biografias de mulheres, para que o grupo tenha exemplos femininos de lideranças em que se inspirar.

“O grupo é fechado para termos uma conexão real, porque muitas mulheres têm essa dificuldade de se abrir, de manter uma conexão. Mas também temos um podcast voltado para disseminar mais essa ideia, e temos também o Papo do Ano (evento aberto), que, em 2024, será em agosto. A gente queria eventos que dessem palco para mulheres e não só em um cenário de violência.”

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