Mãe com filho recém-nascido segurando-o nos braços usando bomba tira leite
Mãe com filho recém-nascido segurando-o nos braços usando bomba tira leite. Crédito: Shutterstock

Mães se desdobram para guardar leite materno na volta ao trabalho

Mulheres com bebês pequenos precisam criar estoque bem perto do fim da licença-maternidade, pois validade do alimento cru é de 15 dias e pasteurização, que prolonga validade por 3 meses, tem atendido mais aos bebês prematuros

Publicado em 18/06/2021 às 16h18

Seria ótimo que as mães tivessem sempre tempo de amamentar os filhos, principalmente nos primeiros seis meses de vida. Porém, essa é uma realidade para poucas. No Brasil, a licença maternidade é de apenas 120 dias. Depois, as mulheres têm que conciliar a vida profissional com as demandas do bebê.

Na volta ao trabalho, uma estratégia que pode ajudar – e muito – é ter o hábito de manter o leite humano congelado. Se coletado e armazenado da forma correta, em um freezer comum, ele dura até 15 dias e pode ser dado ao bebê por qualquer pessoa: o pai, uma avó, um avô ou uma tia. Não tem segredo!

A missão de tirar leite e armazenar ficou um pouco mais complicada nos últimos tempos, já que os bancos de leite que fazem a pasteurização do alimento, processo que aumenta a durabilidade para até três meses no congelador, têm focado no atendimento das mamães de bebês prematuros e nas doações para os nenéns que estão em Utin. 

Essa situação tem exigido que as mães que vão ficar longe do filho por motivos profissionais comecem a fazer o estoque perto de voltar ao trabalho. Então a correria é maior para tirar o leite em grande volume, principalmente se a criança ainda não se alimenta de fórmula e comida sólida, o cenário ideal de pequenos com menos de seis meses.

Enfermeira obstetra e consultora de aleitamento materno, Rosana Lima explica que basta seguir um passo a passo para incorporar a estratégia à rotina e ressalta que o recomendado pelo Ministério da Saúde é que a criança se alimente exclusivamente com o leite materno até, pelo menos, os seis meses de idade.

Rosana Lima

Enfermeira obstétrica e consultora de aleitamento materno e cuidados materno-infantil

"O leite nutre o cérebro e previne formas de letalidade infantil. A primeira imunoglobulina vem do leite, então as crianças ficam mais protegidas de bactérias, micro-organismos e vírus. Para a mulher, também serve de prevenção ao câncer de mama e ovário"

Além dos benefícios físicos, a amamentação é importante no desenvolvimento do vínculo entre mãe e filho. "Nos primeiros três meses, é essencial que ela seja feita de forma exclusiva. Se conseguir, só depois dos seis meses é que se introduz alimento, mas o leite pode continuar até dois anos ou mais", esclarece.

Com duas décadas na área, a mestre em enfermagem pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) reforça que é importante que a mulher saiba que pode usar o próprio leite cru dentro de casa e que essa é a preferência, entre todas as opções disponíveis, como pasteurização ou fórmulas.

CONGELANDO O LEITE MATERNO EM CASA

Antes do guia prático, é preciso ressaltar algo imprescindível: o leite cru congelado só pode ser dado ao filho da mulher que fez a coleta. Isso, porque vírus como o da Hepatite B e da Aids já foram isolados no leite – o que poderia colocar a saúde do outro bebê em risco. Agora, sim, veja o passo a passo:

ESSENCIAL PARA AMAMENTAÇÃO NA PANDEMIA

Quem fez uso do congelamento de leite cru e o viu fazendo parte da rotina foi a médica anestesista Karolina Camargo Araújo. Ela teve a filhinha Clara no final de maio do ano passado. Em plena ascensão da pandemia da Covid-19 no Espírito Santo, ela ficou apenas 60 dias em casa e precisou voltar ao trabalho.

"A Rosana me orientou a começar a armazenar uns 15 dias antes, para não ficar sobrecarregada na hora de retornar ao serviço. Fui congelando e fiz um 'estoquezinho' pensando no quanto ela mamava. Para ficar 12 horas fora, eu deixava seis mamadeiras", conta a mamãe de primeira viagem.

Segundo ela, o processo pode parecer trabalhoso, mas acaba fluindo naturalmente. No caso da Karolina, fluiu por cerca de sete meses. "No início, a gente se perde um pouco, porque quer amamentar e não tirar leite, mas entra na rotina. Enquanto ela (Clara) mamava em uma mama, eu ordenhava a outra", lembra.

No início deste ano, a filha fez a transição e passou a comer alguns alimentos e a tomar mamadeira "naturalmente". De todo o período da amamentação, a única ressalva feita é de não ter conseguido doar leite. "Eu não tinha produção suficiente, senão teria doado. É bonito e faz toda a diferença", comenta.

A capixaba Karolina Carmargo Araújo amamentando a filhinha Clara
A capixaba Karolina Carmargo Araújo amamentando a filhinha Clara. Crédito: Acervo Pessoal | Karolina Camargo Araújo
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    Higiene é essencial

    Antes da coleta, é necessário se preparar da forma adequada, pois um descuido pode colocar tudo a perder. É preciso lavar bem as mãos, limpar a mama com água, prender o cabelo, usar máscara e escolher um ambiente limpo.

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    Escolhendo o pote

    Para o armazenamento correto do leite, o frasco precisa ser de vidro, com tampa de plástico. Preferencialmente, com, pelo menos, duas voltas de vedação. O pote também deve ser previamente fervido para eliminação de sujeiras e micro-organismos.

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    Orientações prévias

    Se for usar uma bomba elétrica, é preciso que o coletor do equipamento também tenha sido fervido. Os primeiros jatos de leite devem ser desprezados e nunca se deve encher totalmente o recipiente no qual ele será armazenado.

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    Armazenamento correto

    Após ser bem fechado, o pote deve ser levado ao freezer ou congelador, identificado com uma etiqueta contendo a data em que foi feita a coleta. A partir daí, a validade do leite é de 15 dias. Evite que o armazenamento se dê junto de alimentos que contenham odores fortes.

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    Dica para otimizar

    Se o pote escolhido tiver 250 ml, e a primeira coleta for de apenas 100 ml, é possível fazer uma nova ordenha e guardar mais leite no mesmo frasco. Para isso, basta usar outro recipiente para a coleta e jogar o conteúdo no frasco antigo. Não é preciso nem retirá-lo do congelador. Mas, atenção: o prazo de validade conta a partir da data da primeira coleta.

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    Hora de alimentar o bebê

    Para usar o leite cru congelado, basta aquecê-lo em banho maria. O que não for utilizado pode ser guardado na geladeira e dado à criança nas próximas 12 horas. Dê preferência para o uso de copinho ou colher dosadora. Em última hipótese, a mamadeira. Lembrando que todos devem ser fervidos antes de cada uso.

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    Problemas

    Para que o leite continue sendo um alimento seguro para o bebê é importante que não haja impurezas. Se um cílio, por exemplo, cair no pote, no momento da coleta, o leite deve ser descartado. O mesmo acontece se o congelador sofrer com uma queda de energia elétrica e o alimento acabar descongelando.

O colostro é o nome dado ao leite materno produzido durante os primeiros 7 dias de amamentação, ele é rico em imunoglobulinas e é mais amarelado. Crédito: Acervo Pessoal | Karolina Camargo Araújo
O colostro é o nome dado ao leite materno produzido durante os primeiros 7 dias de amamentação, ele é rico em imunoglobulinas e é mais amarelado. Crédito: Acervo Pessoal | Karolina Camargo Araújo

LEITE PASTEURIZADO: IDEAL PARA DOAÇÃO

Apesar da correria causada pela carreira ou pela demanda do trabalho, esses não são os únicos motivos que impedem as mães de amamentarem. Há casos, por exemplo, de bebês que nascem prematuros e precisam ficar internados em Unidades de Terapia Intensiva Pré-Natal (Utin), sem ter forças para mamar no peito.

É nesta hora que o leite pasteurizado ganha importância. "Ele passa por uma espécie de cozimento a 60ºC, no qual os organismos patógenos são mortos. Também são feitos testes bioquímicos, determinação do conteúdo energético, sujidade... Ele é preparado e manipulado para ser recebido de forma segura", explica Rosana.

O leite pasteurizado passa por um longo processo de manipulação e testes para garantir a segurança para o bebê
O leite pasteurizado passa por um longo processo de manipulação e testes para garantir a segurança para o bebê. Crédito: Divulgação | Hucam

De acordo com a especialista em aleitamento materno, esse procedimento pode levar até 48 horas e permite que o leite dure seis meses congelado. Toda a logística, desde a avaliação da possível doadora até a administração nos pequeninos de outras mulheres, é feita por meio dos chamados "bancos de leite".

"O processo de coleta é praticamente o mesmo do leite cru, mas a mulher precisa fazer diversos exames para saber se não está adoecida. Se confirmada a doação, essa mãe faz a ordenha em casa, com o material disponibilizado, e a equipe volta para buscar. O mínimo, nesse caso, é de 250 ml", esclarece a enfermeira.

Fisioterapeuta hipertensa, a capixaba Thaila Ribeiro Teixeira precisou desse ato de solidariedade para ver a pequena Laura crescer com saúde. Por causa da pressão alta, a filha nasceu em dezembro de 2016, com apenas 28 semanas e 816 gramas. Foram três longos meses de internação, até que ela recebesse alta.

Thaila Ribeiro Teixeira

Fisioterapeuta

"Ela só conseguiu mamar nas últimas duas semanas, quando estava na enfermaria. Antes, ela não tinha força e poderia perder peso. Eu não sabia, mas os 500 ml que eu tirava em uma ordenha, alimentava seis bebês. Essa doação é muito importante"

No dia em que pode levar a primogênita para a casa, Thaila ganhou um certificado de que já tinha doado 73 litros de leite. "Eu fazia retirada duas vezes por semana e, em média, dava de três a seis potes daqueles de maionese, cheios de leite. Depois disso, ainda doei por mais dois anos, até sair da Grande Vitória", conta.

Morando em Venda Nova do Imigrante, na Região Serrana, ela não teve mais como fazer a doação, pela ausência de banco de leite. "Ela mamou até o início deste ano e a minha maior alegria dentro da maternidade foi a amamentação. Hoje ela tem quatro anos e seis meses, nenhuma sequela e muita saúde", comemora.

Thaila só pôde dar de mamar à filha depois de 1 mês e meio do nascimento
Thaila só pôde dar de mamar à filha depois de 1 mês e meio do nascimento, hoje a pequena Laura é totalmente saudável. Crédito: Acervo Pessoal | Thaila Ribeiro Teixeira

SERVIÇO NO ES: DOE LEITE!

Conforme dados divulgados pela Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (BLH) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Espírito Santo contou com 4.270 doadoras ao longo do ano passado, somando mais de 5 mil litros de leite. Ao todo, mais de 2.800 bebês foram beneficiados com esse ato simples de solidariedade.

Coordenadora do Centro de Referência Estadual em BHL do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam), a enfermeira Mônica Barros de Pontes lembra que a doadora precisa ter leite em excesso e ressalta que o serviço está vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS), sendo ofertado de forma gratuita.

O hospital, aliás, soltou, na última quinta-feira (17), uma nota dizendo que as doações de leite caíram em 20% no mês passado, comprometendo o estoque que atende aos bebês prematuros hospitalizados.

Frascos com leite doado ao Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam), em Vitória. Crédito: Divulgação | Hucam
Frascos com leite doado ao Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam), em Vitória. Crédito: Divulgação | Hucam

"Para ser doadora, serão pedidos exames para saber o estado de saúde dessa mulher. A partir daí, a equipe deixa todo o material necessário para a coleta na casa dela e faz as orientações necessárias. Depois, em um dia previamente estabelecido, passa na residência para recolher esse leite congelado", explica.

Abaixo, os principais bancos de leite do Espírito Santo, os respectivos horários de funcionamento e os telefones de contato para fazer o agendamento:

Hospital Infantil e Maternidade Doutor Alzir Bernardino Alves (Himaba)

  • Localização: Soteco, em Vila Velha
  • Telefone: (27) 3636-3151
  • Funcionamento: diariamente, das 8h às 15h
Hospital da Polícia Militar
  • Localização: Bento Ferreira, em Vitória
  • Telefone: (27) 36363-6568
  • Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 7h às 13h
Hospital das Clínicas
  • Localização: Maruípe, em Vitória
  • Telefone: (27) 3335-7515 ou (27) 33357424
  • Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 6h30 às 18h30
Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim
  • Localização: Ferroviários, em Cachoeiro de Itapemirim
  • Telefone: (28) 3521-6199 ou (28) 3526-6219
  • Funcionamento: diariamente, das 7h às 19h
Hospital e Maternidade São José
  • Localização: Centro, em Colatina
  • Telefone: (27) 2102-2144
  • Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 16h30
Santa Casa de Misericórdia
  • Localização: Vila Rubim, em Vitória
  • Telefone: (27) 3212-7246
  • Funcionamento: de terça a quinta-feira, das 7h às 16h
Maternidade Pró-Matre (posto de coleta)
  • Localização: Ilha de Santa Maria, em Vitória
  • Telefone: (27) 3025-0230
  • Funcionamento: diariamente, das 7h às 18h

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