Editor do Se Cuida / gusilva@redegazeta.com.br
Publicado em 10 de fevereiro de 2025 às 17:00
A cantora Lexa contou que sua filha, Sofia, morreu três dias após o nascimento prematuro, no início deste mês. "Dia 05/02 minha filha amada nos deixou. Um luto e uma dor que eu nunca tinha visto igual. Vivi os dias mais difíceis da minha vida", escreveu a cantora em publicação no Instagram.
Lexa conta ter tido síndrome de Hellp, uma complicação grave da pré-eclâmpsia. "Eu tomei AAS e cálcio na gestação toda, fiz um pré-natal perfeito, fiz tudo, mas minha pré-eclâmpsia foi muito precoce, extremamente rara e grave".
A cantora ficou 17 dias internada, tomou injeções para prevenir o risco de trombose e coletou mais de 100 tubos de sangue na unidade semi-intensiva. Ela ficou três dias na UTI fazendo uso de sulfato de magnésio para tratar a eclâmpsia. "Lutando pelas nossas vidas, minha filha", escreveu. "Lembro da última noite grávida, eu não conseguia dormir e você mexeu a noite toda, você sabia me acalmar como ninguém, eu rezei tanto e implorei tanto pra que tudo desse certo, eu cantei pra barriga, fiz playlist de parto…", disse a cantora na publicação.
O ginecologista obstetra Fernando Prado explica que na pré-eclâmpsia grave, além da pressão alta, há o acometimento de órgãos, como rins, fígado, placenta e cérebro. "Quando acontece precocemente, pode levar a consequências tanto para a mãe quanto para o feto. Uma dessas complicações é a síndrome HELLP (hemólise, elevação de enzimas hepáticas e queda de plaquetas), que, por sua vez, pode levar a insuficiência hepática e coagulação do organismo inteiro, o que é chamado de CIVD. E isso também pode afetar tanto a mãe quanto o bebê”.
Para o bebê, a principal complicação é a prematuridade. "Além disso, se ocorreu algum problema de falta de oxigenação e desenvolvimento da placenta, essa criança tem restrição de crescimento, o peso fica baixo e os órgãos principais acabam não se formando. Então essa criança pode não resistir fora do útero por uma falta de maturidade de alguns órgãos, principalmente o pulmão”, ressalta o especialista.
O ginecologista obstetra Paulo Batistuta, da Rede Meridional, explica que a síndrome HELLP é uma condição decorrente do agravamento da hipertensão arterial na gravidez. "Trata-se de caso grave. É diagnosticada a partir da medida elevada da pressão arterial e de alterações nos exames de sangue. Podem ocorrer também edema, cefaleia, dor epigástrica (na boca do estômago), dentre outros sintomas".
O tratamento consiste em reduzir a pressão arterial materna, controlar o risco de convulsão e fazer o parto. "O nascimento do bebê é uma iniciativa importante para estabilizar as funções maternas. Esta doença afeta os rins, o fígado, o cérebro da gestante, além de elevar o risco de AVC, descolamento da retina e convulsão (eclampsia)", diz Paulo Batistuta.
A síndrome HELLP pode se repetir numa gestação subsequente. Como medida preventiva ocorre o controle do peso materno, e antes de engravidar é verificado como está seu estado nutricional. Durante o pré-natal, é avaliado de perto a pressão arterial.
A cantora foi internada após o diagnóstico de pré-eclâmpsia com seis meses de gravidez. A condição, segundo dados da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), afeta cerca de 5 a 8% das mulheres durante a gestação.
Segundo o ginecologista e obstetra Nélio Veiga Junior, a pré-eclâmpsia está relacionada com 20% de todos os nascimentos prematuros e 500 mil mortes fetais e neonatais. “Afetando de 5 a 10% das gestantes, a pré-eclâmpsia é uma condição caracterizada pelo aumento da pressão arterial após a 20º semana e acompanhadada de proteinúria ou sinais clínicos/laboratoriais de lesão de órgãos. Quando há apenas aumento pressórico, chamamos de hipertensão gestacional”, explica o obstetra.
A causa exata da pré-eclâmpsia não é conhecida, mas, de acordo com o médico, acredita-se que esteja relacionada com uma falha no desenvolvimento dos vasos sanguíneos da placenta, por uma ativação inflamatória que afeta todo o organismo materno. “Sabemos também que a pré-eclâmpsia está diretamente relacionada a fatores como histórico pessoal ou familiar de hipertensão ou pré-eclâmpsia, idade acima dos 35 anos, gestação decorrente de reprodução assistida (fertilização in vitro), obesidade, diabetes e gestação gemelar”, destaca o ginecologista.
“A pré-eclâmpsia é, inclusive, recorrente em pacientes que se submeterem a procedimentos de reprodução assistida como a Fertilização In Vitro justamente por características comuns desses indivíduos e procedimentos, como a idade geralmente mais avançada das gestantes e a maior probabilidade de gêmeos”, diz Fernando Prado.
Dada a gravidade da doença em estágios mais avançados, conhecido como eclâmpsia, é importante que gestantes que apresentam esse fatores de risco fiquem atentas aos sintomas da condição, que, muitas vezes, surgem de maneira repentina. “Sintomas da pré-eclâmpsia incluem inchaço, principalmente das pernas, dor de cabeça severa, alterações visuais, como surgimento de pontos brilhantes e visão turva, dores abdominais, especialmente na região do estômago”, acrescenta Nélio, que diz que, em casos graves, a doença ainda causa convulsões, insuficiência cardíaca e renal.
Ao notar tais sintomas, é importante buscar atendimento médico o mais rápido possível para receber o diagnóstico e tratamento adequado, assim evitando complicações tanto para a mãe quanto para o bebê. “O diagnóstico é realizado por meio da medição da pressão arterial, observação dos sintomas, avaliação do histórico clínico e familiar da paciente e realização de exames laboratoriais, tanto de sangue quanto de urina, para verificar a presença de proteína”, detalha Nélio Veiga Junior. Mas o médico alerta que, muitas vezes, a pressão alta na gravidez é assintomática e passa de maneira despercebida. “Por esse motivo é tão importante que o acompanhamento pré-natal seja realizado da maneira correta, com consultas e exames regulares”, afirma o obstetra.
Com base no diagnóstico e na gravidade do quadro, o médico poderá recomendar o tratamento mais adequado para cada caso. Nos mais graves, o tratamento geralmente é feito no hospital, com o uso de medicamentos para reduzir a pressão arterial e controlar o risco de convulsões. Mas é importante lembrar que a única solução definitiva para a pré-eclâmpsia é o parto. “Dependendo da idade gestacional do bebê e da gravidade do quadro, o médico também pode recomendar a antecipação do parto ou a interrupção da gravidez”, diz Fernando Prado.
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