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Cansaço no fim de ano: veja os fatores que contribuem para o esgotamento

Cansaço no fim de ano: veja os fatores que contribuem para o esgotamento

Dezembro aumenta o desgaste físico e mental devido a questões psicológicas, comportamentais e biológicas

Publicado em 10 de dezembro de 2025 às 11:04

O cansaço que se intensifica em dezembro reflete o acúmulo de pressões emocionais, sociais e físicas ao longo do ano (Imagem: Krakenimages.com | Shutterstock)
O cansaço que se intensifica em dezembro reflete o acúmulo de pressões emocionais, sociais e físicas ao longo do ano Crédito: Imagem: Krakenimages.com | Shutterstock

Em dezembro, é comum ocorrer maior sensação de cansaço físico e mental. O fim do ano costuma vir acompanhado de sobrecarga, prazos acumulados, compromissos sociais e maior pressão emocional, um conjunto de fatores que contribui para o esgotamento.

Segundo Diego Lana, professor do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera, o fenômeno é comum e tem explicações psicológicas, comportamentais e biológicas. Ele explica que dezembro representa um momento de fechamento de ciclo, o que influencia diretamente o estado emocional.

“Somos seres de rituais. As pessoas sentem que precisam encerrar pendências, resolver o que ficou parado, bater metas e reorganizar a vida antes da virada do ano. Isso gera uma sensação de urgência e aumenta a ansiedade. Esses momentos de fim também tocam, de forma inconsciente, questões ligadas ao tempo, às perdas e à expectativa do que deveríamos ter feito. Esse acúmulo cognitivo e emocional cria a percepção de cansaço constante”, afirma.

Verão também interfere no bem-estar

Além das questões emocionais, o professor destaca que o clima também interfere no bem-estar. Com a chegada do calor mais intenso, o corpo precisa trabalhar mais para manter a temperatura interna, o que exige energia. “O organismo eleva o gasto energético para regular o calor, e isso pode gerar desidratação leve, sensação de lentidão e sonolência. Muitas pessoas não percebem que o calor, por si só, já provoca mais fadiga”, afirma.

Outro ponto relevante é o impacto do ritmo circadiano. Os dias mais longos e claros de dezembro, no verão brasileiro, alteram a produção de melatonina, hormônio responsável pelo sono. “A luminosidade natural influencia diretamente nosso relógio biológico. Em períodos de maior exposição à luz, muita gente sente dificuldade para relaxar e manter uma rotina regular de descanso. A privação de sono, mesmo leve, afeta atenção, humor e sensação de energia”, acrescenta.

O excesso de notificações, mensagens e estímulos amplia o desgaste mental no fim do ano (Imagem: goffkein.pro | Shutterstock)
O excesso de notificações, mensagens e estímulos amplia o desgaste mental no fim do ano Crédito: Imagem: goffkein.pro | Shutterstock

Excesso de estímulos e cansaço digital

A hiperconectividade típica do período é outro fator que passa despercebido, mas pesa no esgotamento mental. Mensagens, grupos de trabalho e família, convites, compras online, decisões rápidas e inúmeros estímulos digitais compõem o que Diego Lana chama de “sobrecarga invisível”.

“Hoje nós encerramos o ano também no ambiente digital. São mais e-mails, mais notificações, mais decisões de consumo, mais interações sociais. Isso contribui para um tipo de desgaste que a mente nem sempre reconhece imediatamente”, observa.

Autocobrança, comparação e pressão por resultados

Diego Lana destaca que dezembro também é um mês marcado por balanços e reflexões internas. As pessoas revisitam desafios, perdas, conquistas e frustrações do ano. Esse movimento natural pode intensificar a autocobrança. “Muitas vezes, a pessoa se compara a um ideal de quem deveria ser ou do que deveria ter conquistado. Essa comparação, com uma imagem interna de perfeição, pode produzir sentimentos de fracasso, culpa ou insuficiência, mesmo quando o ano não foi ruim”, explica.

O especialista explica que o período também impõe expectativas sociais que impactam diretamente o equilíbrio emocional . “A comparação com metas não atingidas, o sentimento de tempo curto e a pressão por celebrar criam um campo emocional mais sensível. Existe, inclusive, a chamada ‘pressão por felicidade’, uma expectativa social de estar bem, animado e disponível para festas. É como se existisse uma voz interna dizendo o tempo todo que você tem que estar feliz, grato, aproveitando cada segundo. Quando a pessoa não se sente assim, surge a sensação de inadequação. Isso cansa”, afirma.

Há ainda o chamado letdown effect , fenômeno estudado na Psicologia, quando o corpo percebe que um período de descanso está próximo, ele diminui o estado de alerta, e a sensação de cansaço aflora. “É como o último trecho de uma maratona. Quando sabemos que a pausa está chegando, o organismo relaxa, e a exaustão e outros sentimentos que haviam sido empurrados para depois, como algumas frustrações, podem emergir com mais força.”, explica o professor.

Respeitar os limites do corpo e fazer pausas durante o dia é essencial para atravessar o período com mais equilíbrio (Imagem: Perfect Wave | Shutterstock)
Respeitar os limites do corpo e fazer pausas durante o dia é essencial para atravessar o período com mais equilíbrio Crédito: Imagem: Perfect Wave | Shutterstock

Como minimizar o desgaste no fim do ano

Para reduzir o cansaço típico do período, Diego Lana recomenda reorganizar prioridades e abandonar a sensação de que tudo precisa ser resolvido antes do dia 31. “Nem toda pendência precisa ser fechada em dezembro. É importante diferenciar o que é urgente do que pode ser retomado no próximo ano”, orienta.

Outro cuidado fundamental é respeitar os sinais do corpo, como sono irregular, irritabilidade e dificuldade de concentração. “Pode ser importante se permitir sentir o que está vindo à tona, sejam cansaços, tristezas ou frustrações, em vez de apenas tentar performar alegria. Manter horários mais estáveis, reduzir estímulos à noite, hidratar-se adequadamente e criar pausas ao longo do dia ajudam a regular o sistema nervoso e a energia mental”, aconselha.

Por fim, o professor reforça que dezembro, apesar de ser um período de festividades, exige energia emocional e física. “Sentir cansaço não significa fraqueza, e sim uma resposta natural ao conjunto de demandas internas, sociais, climáticas e biológicas, que marcam esse período. Quando compreendemos esses fatores e respeitamos nossos limites, é possível atravessar o fim de ano com mais equilíbrio e bem-estar”, conclui.

Por Bianca Lodi Rieg

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