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'Um lar estável é extremamente benéfico para a criança'

"Um lar estável é extremamente benéfico para a criança"

Neurologista infantil lança um livro com dicas de como os pais podem estimular melhor o desenvolvimento dos bebês até os 2 anos de idade

Publicado em 7 de junho de 2018 às 17:48

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Quem tem um bebê em casa provavelmente já se pegou imaginando lá na frente, quando ele será um jovem universitário na USP ou na Harvard, quem sabe. Se quer que seu filho tenha um futuro brilhante, saiba que não é preciso fazer muita coisa para isso. Basta, primordialmente, investir numa coisa: em um lar tranquilo, seguro e feliz para ele.

É um conselho do médico capixaba Marcelo Masruha, neurologista infantil há 20 anos e professor universitário em São Paulo. “Lares estáveis são extremamente benéficos para desenvolvimento da criança”, afirma ele, que lançou esta semana, em Vitória, seu primeiro livro “O cérebro do seu filho: do nascimento aos dois anos de idade”. Confira o bate-papo.

Por que um livro com dicas para os primeiros dois anos de vida da criança?

Marcelo Masruha, neurologista infantil. (Divulgação)

Porque em nenhum outro período da vida o desenvolvimento é tão acelerado. Em dois anos, a criança aprende a andar, falar, a correr. O tamanho do cérebro triplica do nascimento do bebê aos dois anos de vida. É uma fase muito importante, que costuma ser negligenciada, mas que deve ser bem aproveitada.

O que os pais precisam fazer, nesses dois anos de vida, para que a criança seja um adulto inteligente, feliz e bem sucedido?

Uma das coisas mais importantes é a estabilidade emocional do lar. Pais agressivos, que se atacam verbalmente, prejudicam o desenvolvimento dos filhos. Mas lares estáveis, tranquilos, com regras, são extremamente benéficos para o desenvolvimento da criança. Se a família está emocionalmente estável, isso se reflete na estabilidade desse indivíduo lá na frente.

Quem tem filho pequeno acaba recorrendo, vez ou outra, ao desenhos animados ou clipes infantis para distrair o bebê. Isso pode fazer mal?

Sim. Estudos já mostraram que quanto mais horas de exposição a telas, como de tablet, televisão, celular, maior o atraso da linguagem da criança. Vemos hoje uma epidemia de crianças que estão falando tarde. Algumas chegam a três, quatro anos de idade com uma linguagem bem atrasada. A Academia Americana de Pediatria recomenda que, antes de 2 anos de idade, não devemos expor a criança a telas. Sabemos que hoje em dia é impossível não expor à televisão. O problema é deixar a criança o dia inteiro na frente de uma aparelho.

Esses desenhos não ajudam a melhorar o vocabulário da criança?

Isso é um mito. É justamente o contrário. Quanto mais horas na frente da TV, maior o atraso no desenvolvimento da linguagem.

Nada de galinha pintadinha, então?

Nem galinha azul, nem ursinho rosa. Para o estímulo da linguagem, a criança precisa de um outro ser humano falando com ela. Já está comprovado que filhos de pais taciturnos, falam mais tardiamente. Ouvir música é muito bom, mas não é isso. Não é o tipo de música que influencia mais ou menos na linguagem. Há pais que colocam música clássica para o bebê ouvir, só que não há comprovação científica nenhuma de que isso ajuda.

Como entreter o bebê e, ao mesmo tempo, estimulá-lo?

A linguagem é uma ferramenta muito poderosa para o desenvolvimento. É aquela fala modulada, com entonação carinhosa, que as mães principalmente costumam usar com os bebês. Tem que conversar mesmo, na hora de trocar a fralda, ao dar comida. E demonstrar interesse nos sons que o bebê faz já aos seis meses de vida, aquele balbucio que ele faz e que provoca o riso de alegria da mãe. A criança percebe isso, esse jogo de conversação, ele presta atenção nos movimentos da fala, da boca.

E o tablet, nem pensar?

Nem pensar! Tem que ser aqueles que chamamos de brinquedos de possibilidades abertas. Se você dá um boneco, ele geralmente tem pouca coisa para a criança explorar. Mas se você dá um lápis de cor, um giz de cera e papel, é muito melhor. Já reparou que, muitas vezes, você dá um presente e a criança gosta mais da caixa? É isso. Uma garrafa pet que vira um chocalho é muito mais interessante que um boneco. Quanto mais possibilidade de a criança criar, modificar, melhor.

É comum ver pais comparando o nível de desenvolvimento dos filhos, quem andou primeiro, quem falou primeiro. Isso varia de criança para criança?

Varia, mas existem certas idades limites. Por exemplo, ela tem que ficar em pé até um ano de idade, andar até no máximo 1 ano e 4 meses. Se passou de um ano e meio e não anda, precisa ser avaliada. Agora, com relação à linguagem, quanto maior for a facilidade precoce da criança, mais inteligente ela tende a ser. Meninas costumam ter mais facilidade com a linguagem. Meninos tendem a aprender a andar mais cedo, a capacidade motora tende a ser melhor.

Por que o sono da criança costuma ser um problema para os pais?

A sensação que dá é que isso é um fenômeno recente. Décadas atrás a gente não via tanto esse problema. Mas hoje em dia, não tem uma semana em que não atendo uma criança com problemas no sono. E a maior causa quase sempre é comportamental. É uma questão cultural. Pais trabalham fora o dia inteiro e carregam muita culpa por não estarem dando atenção suficiente e acabam tomando atitudes prejudiciais ao sono adequado do bebê. Por exemplo: ninar o bebê. É tão gostoso, né. Mas imagine que ele dorme no seu colo e, ao acordar no meio da noite, vai ver que está na cama e vai chorar pedindo o colo. Dormir sozinha é fundamental para a criança, que vai se desenvolver mais segura, com mais autoconfiança. E isso ajuda até a família. Não é frescura. Uma pesquisa feita nos Estados Unidos apontou que há mais divórcios após o nascimento do primeiro filho. Isso ocorre por fatores como  a sobrecarga de trabalho dos pais, a depressão materna, o isolamento do casal, a privação do sono do casal... Casal que dorme bem tem mais paciência um com o outro e com a criança. 

Mas tem como ensinar o bebê a dormir sozinho?

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Tem sim. É simples a correção. Ele tem que aprender a pegar no sono sozinho. Outro erro é dar mamadeira no meio da noite. A criança passa a despertar com fome, cria esse hábito ruim, sendo que depois dos 4, 5 meses de idade ela não precisa mais acordar de madrugada para comer.

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