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Terapia on-line: psicólogos apontam benefícios e riscos

Terapia on-line: psicólogos apontam benefícios e riscos

Novo tipo de atendimento tem facilidades, mas é preciso cuidado para não cair em golpes

Publicado em 12 de abril de 2019 às 15:51

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A psicóloga Cristiane Palma Bourguignon atende seu paciente, Willian dos Santos Cunha, por vídeo. Ele mora no Rio e faz terapia on-line. (Fernando Madeira)

Quem está passando por algum problema de ordem emocional pode contar agora com a tecnologia para buscar ajuda. Desde o ano passado, psicólogos podem fazer atendimento a distância, por meio de qualquer plataforma virtual.

A nova ferramenta é uma facilidade a mais para pacientes e profissionais da área. Além da comodidade, o custo, geralmente mais baixo do que o de uma consulta presencial, é outra vantagem. Mas também há riscos nesse tipo de serviço. Por isso, é importante ficar atento às regras da terapia on-line para não cair em armadilhas.

Em primeiro lugar, é preciso garantir, por exemplo, se do outro lado da linha telefônica ou da tela do computador está mesmo um psicólogo.

“Não são todos os psicólogos que podem fazer atendimento on-line. Eles precisam ter registro no Conselho de Psicologia e estar cadastrados para ofertar esse serviço. Antes, era exigido apenas o cadastro do site. Agora, é preciso haver um cadastro individual, de pessoa física, para o atendimento on-line. E deve ser atualizado anualmente”, explica a psicóloga Maria Carolina Roseiro, da comissão de orientação e fiscalização do Conselho Regional de Psicologia (CRP-ES).

Para a terapia on-line, o psicólogo e o paciente podem conversar via chat, chamada de vídeo no WhatsApp, mensagem de texto, pelo Skype, Hangout, Messenger, e-mail, entre outras plataformas. Ali, diante da tela do computador, a pessoa pode ter um acompanhamento especializado para as mais diversas motivações.

No entanto, nem sempre será possível recorrer a esse tipo de socorro, algo que está bem claro na resolução do Conselho Federal de Psicologia, como lembra Maria Carolina.

Situações

Não é permitido atendimento on-line de pessoas em situação de urgência, como em surtos, crises de depressão. O mesmo vale para situações de emergência, como em casos de violência ou desastres. O contato ao vivo e a cores é o mais indicado.

O novo formato de terapia ainda não encontrou respaldo em todos os profissionais. “Há algumas pesquisas sobre o tema, mas ainda não há um consenso. Há linhas que defendem o método e outras que consideram que não é possível fazer uma abordagem por essas plataformas. Falta referência científica e acadêmica”, afirma a psicóloga.

Ela mesma tem restrições: “Eu não atendo. Tenho ressalvas pessoais. E a principal delas é a possibilidade de precarização do serviço. E acho que o atendimento em si pode ficar comprometido. Muita gente está utilizando o método como oportunidade de trabalho. Mas qual a qualificação desse profissional?”, questiona.

Por outro lado, diz a psicóloga, diferentemente do atendimento presencial, na terapia on-line a possibilidade de o paciente ter provas é maior. Ele pode registrar a conversa. E se se sentir lesado por causa de uma falha ética ou uma inadequação do serviço, ele pode alertar o conselho, que vai apurar”.

Uma dica para não ser vítima de um golpe é se certificar de que o profissional em questão é capacitado. “Depois, o paciente deve fazer um contrato bem feito, que vai tratar da duração da sessão, da frequência, e que vai resguardá-lo do sigilo, por exemplo”, indica Maria Carolina.

"A ordem voltou à minha vida", diz paciente

Toda semana, na hora marcada, Willian dos Santos Cunha, 29 anos, senta-se diante do computador de casa para mais uma sessão de terapia, onde ele despeja todas as angústias e problemas em busca de um direcionamento. O rosto que ele vê ali na tela lhe é muito familiar: o da sua terapeuta.

Willian precisou de uma psicóloga pela primeira vez sete anos atrás. “Comecei a terapia em 2012, quando voltei bagunçado de uma experiência internacional”.

Mas ele teve que ir morar no Rio de Janeiro e, por um tempo, ficou sem essa ajuda emocional. “Após mudar, só conseguia fazer a consulta presencial quando voltava ao Estado para visitar familiares e amigos. Sofri três anos sem ela! Quando a psicóloga me disse que poderia fazer on-line, com a liberação do Conselho de Psicologia, voltei a ter consultas semanalmente. A ordem voltou novamente para minha vida desde então”, diz Willian, que atua no Rio como empreendedor, produtor de conteúdo artístico e ator.

Além de Willian, a psicóloga Cristiane Palma Bourguignon atende outras quatro pessoas a distância. Uma delas está bem distante, aliás, em outro país. Todos são pacientes antigos.

“Eu poderia atender pacientes novos. Mas não concordo muito. Acho que a terapia on-line não substui o contato presencial. Não de maneira integral. Por isso, só atendi on-line pessoas que são meus pacientes, que já conheço pessoalmente. É útil em casos assim, quando a pessoa está fora da cidade. Ou até está na cidade, mas não consegue sair de casa porque está em plena crise de pânico, está numa cadeira de rodas, quebrou a perna...”, afirma ela.

Apesar de ter aderido à tecnologia na rotina de trabalho, Cristiane sabe quem nem sempre é possível contar com ela. “Imagina se estou atendendo uma pessoa que nunca vi na vida, pelo vídeo, e justamente quando ela está me contando algo extremamente importante a Internet fica ruim, some o sinal, e a conversa é interrompida de repente?”.

Nem todo paciente, diz ela, pode fazer terapia remota. “Casos de urgência e emergência não são para atendimento on-line. Por exemplo, numa crise de depressão. É extremamente perigoso e exige outros cuidados. O paciente pode simplesmente desligar o computador e pronto! Por isso, preciso dele na minha frente, fazendo gestos, expressões. Preciso ouvir seu tom de voz. São coisas que posso perder no vídeo. A linguagem do corpo que é muto importante para mim, até para eu ver se a pessoa está mentindo para mim”, observa Cristiane.

Há situações tão graves, segundo a psicóloga, em que se o paciente não vai até o consultório, o profissional tem que ir até ele, vê-lo cara a cara. “Já tive uma paciente que tinha acabado de ter bebê e que teve uma crise de pânico. Ela não conseguia sair de casa e precisei fazer um atendimento domiciliar. Não era WhatsApp que ia resolver”, contou.

Depoimento

"Serviço tende a crescer"

Daniel Libardi, psicólogo ocupacional

Fui um dos primeiros a aderir à ferramenta aqui no Estado quando saiu essa nova resolução. Minha demanda não é tão grande para atendimento online. Mas acredito que a tendência é a procura por esse tipo de serviço crescer. Posso fazer trabalhos terapêuticos on-line, mas, por enquanto, não estou com pacientes em terapia. Presto outro tipo de atendimento, que é de orientação. Trabalho com psicologia voltada para trabalho, carreira, ajudando a pessoa no autoconhecimento, orientando-a para a carreira. Faço por Hangout ou por Skype. O cliente recebe um contrato quando adere o serviço, no qual explico as regras, em que momento posso interromper o processo e que tipo de demanda não atendo. Há situações em que a consulta on-line não é indicada. Nós, psicólogos, não poderíamos ficar arcaicos no tempo. Temos que aderir a essa tecnologia, que faz bem. Porém, o serviço não é para toda e qualquer pessoa. Eu não forço para puxar a pessoa para o atendimento on-line. E pode haver situações em que vou precisar ver a pessoa pessoalmente e vou tirar a pessoa do conforto do lar para que ela venha ao consultório para evoluir no processo terapêutico.

Entenda mais

Como funciona

Um psicólogo realiza consultas, de aconselhamento ou de orientação psicológica através da Internet. Pode usar várias plataformas on-line, como conversas por vídeo-conferência, telefônicas, por mensagens de texto ou por vídeo no WhatsApp, salas de bate-papo e até trocas de e-mails

Sem limite

O atendimento é livre, sem limite de duração e de número de sessões

Registro e cadastro

Certifique-se de que o psicólogo tem registro no seu conselho regional e se está cadastrado na entidade para fazer o atendimento on-line. Para saber, acesse o link https://e-psi.cfp.org.br/

Para sites

Sites de terapia on-line também precisam ser cadastrados no conselho. É possível checar no site https://cadastrosite.cfp.

org.br/cadastro/

Proibido

Não é permitido atendimento on-line de pessoas em situação de urgência, como em surtos, crises de depressão. Também é vedado o atendimento nesse modelo em situações de emergência, como em casos de violência ou desastres, por exemplo

Vantagens

Acessibilidade

O paciente pode se consultar com um profissional que esteja em outra cidade ou outro país. Há casos em que o paciente nem consegue sair de casa por estar acamado, em cadeira de rodas ou em uma crise de pânico. Ele poderá ser atendido sem precisar de deslocamento

Tempo real

A tecnologia também permite que a conversa seja em tempo real, em um horário combinado com o profissional ou em caso de necessidade

Preço

O valor do atendimento tende a ser mais baixo do que o presencial

Segurança

É possível registrar as conversas para se resguardar, o que facilita caso queira denunciar um profissional por falha ética ou inadequação ao método

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