Publicado em 12 de abril de 2019 às 15:51
Quem está passando por algum problema de ordem emocional pode contar agora com a tecnologia para buscar ajuda. Desde o ano passado, psicólogos podem fazer atendimento a distância, por meio de qualquer plataforma virtual.>
A nova ferramenta é uma facilidade a mais para pacientes e profissionais da área. Além da comodidade, o custo, geralmente mais baixo do que o de uma consulta presencial, é outra vantagem. Mas também há riscos nesse tipo de serviço. Por isso, é importante ficar atento às regras da terapia on-line para não cair em armadilhas.>
Em primeiro lugar, é preciso garantir, por exemplo, se do outro lado da linha telefônica ou da tela do computador está mesmo um psicólogo.>
Não são todos os psicólogos que podem fazer atendimento on-line. Eles precisam ter registro no Conselho de Psicologia e estar cadastrados para ofertar esse serviço. Antes, era exigido apenas o cadastro do site. Agora, é preciso haver um cadastro individual, de pessoa física, para o atendimento on-line. E deve ser atualizado anualmente, explica a psicóloga Maria Carolina Roseiro, da comissão de orientação e fiscalização do Conselho Regional de Psicologia (CRP-ES).>
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Para a terapia on-line, o psicólogo e o paciente podem conversar via chat, chamada de vídeo no WhatsApp, mensagem de texto, pelo Skype, Hangout, Messenger, e-mail, entre outras plataformas. Ali, diante da tela do computador, a pessoa pode ter um acompanhamento especializado para as mais diversas motivações.>
No entanto, nem sempre será possível recorrer a esse tipo de socorro, algo que está bem claro na resolução do Conselho Federal de Psicologia, como lembra Maria Carolina.>
Situações>
Não é permitido atendimento on-line de pessoas em situação de urgência, como em surtos, crises de depressão. O mesmo vale para situações de emergência, como em casos de violência ou desastres. O contato ao vivo e a cores é o mais indicado.>
O novo formato de terapia ainda não encontrou respaldo em todos os profissionais. Há algumas pesquisas sobre o tema, mas ainda não há um consenso. Há linhas que defendem o método e outras que consideram que não é possível fazer uma abordagem por essas plataformas. Falta referência científica e acadêmica, afirma a psicóloga.>
Ela mesma tem restrições: Eu não atendo. Tenho ressalvas pessoais. E a principal delas é a possibilidade de precarização do serviço. E acho que o atendimento em si pode ficar comprometido. Muita gente está utilizando o método como oportunidade de trabalho. Mas qual a qualificação desse profissional?, questiona.>
Por outro lado, diz a psicóloga, diferentemente do atendimento presencial, na terapia on-line a possibilidade de o paciente ter provas é maior. Ele pode registrar a conversa. E se se sentir lesado por causa de uma falha ética ou uma inadequação do serviço, ele pode alertar o conselho, que vai apurar.>
Uma dica para não ser vítima de um golpe é se certificar de que o profissional em questão é capacitado. Depois, o paciente deve fazer um contrato bem feito, que vai tratar da duração da sessão, da frequência, e que vai resguardá-lo do sigilo, por exemplo, indica Maria Carolina.>
"A ordem voltou à minha vida", diz paciente>
Toda semana, na hora marcada, Willian dos Santos Cunha, 29 anos, senta-se diante do computador de casa para mais uma sessão de terapia, onde ele despeja todas as angústias e problemas em busca de um direcionamento. O rosto que ele vê ali na tela lhe é muito familiar: o da sua terapeuta.>
Willian precisou de uma psicóloga pela primeira vez sete anos atrás. Comecei a terapia em 2012, quando voltei bagunçado de uma experiência internacional.>
Mas ele teve que ir morar no Rio de Janeiro e, por um tempo, ficou sem essa ajuda emocional. Após mudar, só conseguia fazer a consulta presencial quando voltava ao Estado para visitar familiares e amigos. Sofri três anos sem ela! Quando a psicóloga me disse que poderia fazer on-line, com a liberação do Conselho de Psicologia, voltei a ter consultas semanalmente. A ordem voltou novamente para minha vida desde então, diz Willian, que atua no Rio como empreendedor, produtor de conteúdo artístico e ator.>
Além de Willian, a psicóloga Cristiane Palma Bourguignon atende outras quatro pessoas a distância. Uma delas está bem distante, aliás, em outro país. Todos são pacientes antigos.>
Eu poderia atender pacientes novos. Mas não concordo muito. Acho que a terapia on-line não substui o contato presencial. Não de maneira integral. Por isso, só atendi on-line pessoas que são meus pacientes, que já conheço pessoalmente. É útil em casos assim, quando a pessoa está fora da cidade. Ou até está na cidade, mas não consegue sair de casa porque está em plena crise de pânico, está numa cadeira de rodas, quebrou a perna..., afirma ela.>
Apesar de ter aderido à tecnologia na rotina de trabalho, Cristiane sabe quem nem sempre é possível contar com ela. Imagina se estou atendendo uma pessoa que nunca vi na vida, pelo vídeo, e justamente quando ela está me contando algo extremamente importante a Internet fica ruim, some o sinal, e a conversa é interrompida de repente?.>
Nem todo paciente, diz ela, pode fazer terapia remota. Casos de urgência e emergência não são para atendimento on-line. Por exemplo, numa crise de depressão. É extremamente perigoso e exige outros cuidados. O paciente pode simplesmente desligar o computador e pronto! Por isso, preciso dele na minha frente, fazendo gestos, expressões. Preciso ouvir seu tom de voz. São coisas que posso perder no vídeo. A linguagem do corpo que é muto importante para mim, até para eu ver se a pessoa está mentindo para mim, observa Cristiane.>
Há situações tão graves, segundo a psicóloga, em que se o paciente não vai até o consultório, o profissional tem que ir até ele, vê-lo cara a cara. Já tive uma paciente que tinha acabado de ter bebê e que teve uma crise de pânico. Ela não conseguia sair de casa e precisei fazer um atendimento domiciliar. Não era WhatsApp que ia resolver, contou.>
Depoimento>
"Serviço tende a crescer">
Daniel Libardi, psicólogo ocupacional>
Fui um dos primeiros a aderir à ferramenta aqui no Estado quando saiu essa nova resolução. Minha demanda não é tão grande para atendimento online. Mas acredito que a tendência é a procura por esse tipo de serviço crescer. Posso fazer trabalhos terapêuticos on-line, mas, por enquanto, não estou com pacientes em terapia. Presto outro tipo de atendimento, que é de orientação. Trabalho com psicologia voltada para trabalho, carreira, ajudando a pessoa no autoconhecimento, orientando-a para a carreira. Faço por Hangout ou por Skype. O cliente recebe um contrato quando adere o serviço, no qual explico as regras, em que momento posso interromper o processo e que tipo de demanda não atendo. Há situações em que a consulta on-line não é indicada. Nós, psicólogos, não poderíamos ficar arcaicos no tempo. Temos que aderir a essa tecnologia, que faz bem. Porém, o serviço não é para toda e qualquer pessoa. Eu não forço para puxar a pessoa para o atendimento on-line. E pode haver situações em que vou precisar ver a pessoa pessoalmente e vou tirar a pessoa do conforto do lar para que ela venha ao consultório para evoluir no processo terapêutico.>
Entenda mais>
Como funciona>
Um psicólogo realiza consultas, de aconselhamento ou de orientação psicológica através da Internet. Pode usar várias plataformas on-line, como conversas por vídeo-conferência, telefônicas, por mensagens de texto ou por vídeo no WhatsApp, salas de bate-papo e até trocas de e-mails>
Sem limite>
O atendimento é livre, sem limite de duração e de número de sessões>
Registro e cadastro>
Certifique-se de que o psicólogo tem registro no seu conselho regional e se está cadastrado na entidade para fazer o atendimento on-line. Para saber, acesse o link https://e-psi.cfp.org.br/>
Para sites>
Sites de terapia on-line também precisam ser cadastrados no conselho. É possível checar no site https://cadastrosite.cfp.>
org.br/cadastro/>
Proibido>
Não é permitido atendimento on-line de pessoas em situação de urgência, como em surtos, crises de depressão. Também é vedado o atendimento nesse modelo em situações de emergência, como em casos de violência ou desastres, por exemplo>
Vantagens>
Acessibilidade>
O paciente pode se consultar com um profissional que esteja em outra cidade ou outro país. Há casos em que o paciente nem consegue sair de casa por estar acamado, em cadeira de rodas ou em uma crise de pânico. Ele poderá ser atendido sem precisar de deslocamento>
Tempo real>
A tecnologia também permite que a conversa seja em tempo real, em um horário combinado com o profissional ou em caso de necessidade>
Preço>
O valor do atendimento tende a ser mais baixo do que o presencial>
Segurança>
É possível registrar as conversas para se resguardar, o que facilita caso queira denunciar um profissional por falha ética ou inadequação ao método>
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