Publicado em 18 de outubro de 2019 às 18:00
Querida leitora, você já fez seu preventivo este ano? Nem todas as mulheres seguem à risca um cuidado rápido e simples, que é resolvido numa visitinha ao ginecologista. Pode não ser um exame dos mais agradáveis, mas ele pode salvar sua vida.
O preventivo, como o próprio nome diz, pode detectar desde infecções mais simples, como a candidíase, até um câncer de colo de útero, uma doença que é a quarta causa de morte de mulheres no Brasil. Em 2017, foram mais de seis mil mortes registradas.
O diagnóstico precoce pode salvar vidas. Por isso é importante realizar periodicamente os exames ginecológicos e, se sentir algum incômodo, a paciente deve procurar prontamente um ginecologista, explica a oncologista Fernanda Cesar.
Quando se fala em câncer de colo uterino, logo se pensa em HPV (sigla em inglês para Papilomavírus Humano), um vírus que se pega via relação sexual e que pode infectar homens e mulheres. Mas é nelas que ele se torna mais destrutivo.
Quando tomamos conhecimento do agente causador do câncer do colo de útero, os dados são alarmantes, pois 90% das mulheres acometidas com câncer de colo do útero têm o vírus HPV, comenta a médica.
O problema é que a doença pode levar anos para dar as caras. Segundo Fernanda, o câncer de colo de útero tem lento desenvolvimento. Na verdade, muitas mulheres desconhecem que existem dois tipos de câncer que podem surgir no útero: o de endométrio (camada interna do útero) e o de colo de útero (porção mais inferior do útero).
Apesar de surgirem no mesmo órgão, são tumores totalmente diferentes. O câncer de colo de útero está muito relacionado à infecção por HPV, já o câncer de endométrio tem relação com hormônio feminino, diz a oncologista.
Érika Marba
GinecologistaO fato é que o câncer detectado em fase precoce tem uma chance de cura muito grande. É uma chance em torno de 90% se a doença for detectada em estágio um, aponta ela. Aí que entra em ação o papanicolau, que deve ser feito, em princípio, uma vez por ano por todas as mulheres que iniciaram a vida sexual.
Com minhas pacientes, peço o exame anualmente por prevenção mesmo. Ou a cada seis meses se ela já tiver tido HPV ou muitos parceiros sexuais, afirma a ginecologista Érika Marba.
Apesar de ser um exame tão básico, oferecido em qualquer unidade de saúde pelo SUS, muitas mulheres acabam deixando esse cuidado de lado. Muitas pacientes fazem o exame e voltam meses depois para buscar. Elas negligenciam muito a saúde delas. Vão deixando para depois E podem acabar perdendo o útero, comenta a ginecologista Lorena Baldotto.
O preventivo tem que ser bem feito. Nele, a ginecologista usa uma espécie de escovinha para raspar e coletar uma pequena amostra de células do útero. Essa amostra é enviada a um laboratório. Se essa coleta for muito superficial, o laboratório avisa que é necessário repetir o exame. A coleta tem que ser feita lá dentro do colo do útero. Dá até uma colicazinha na hora, diz Érika.
Tem dias em que a paciente está com o colo um pouco mais fechado, e fica difícil colher a quantidade de células suficientes. E aí fica comprometida a amostra. Se der alguma alteração, como alguma lesão considerada pré-cancerígena, a gente encaminha a mulher para outros exames, como a colposcopia ou a biópsia, acrescenta Lorena.
Fernanda Cesar lembra que usar camisinha é outra forma de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e, claro, ao câncer de colo de útero.
Para o cirurgião oncológico Luiz Augusto Fagundes, a falta de conhecimento faz com que sinais iniciais da doença sejam ignorados, contribuindo para identificação tardia do câncer em órgãos femininos. Um sangramento após o ato sexual ou um corrimento mais volumoso, que muitas vezes são pouco valorizados, podem indicar algo mais sério que só o preventivo ou um olhar médico mais atento podem descobrir.
Descobri um câncer e tive que retirar o útero
Eu sempre fui cuidadosa e sempre fiz meus preventivos anualmente, tanto o ginecológico quanto a mamografia, que faço desde os 35 anos - porque minha mãe já teve câncer de mama. O último exame papanicolau que fiz foi em fevereiro deste ano. E apesar de ele ter dado negativo, no mês de junho fui diagnosticada com carcinoma invasor de colo de útero. Até esse diagnóstico, comecei a ter alguns sintomas que nunca tinha apresentado, como sangramento após a relação sexual e corrimentos. Mesmo levando isso ao ginecologista, ele, com o preventivo em mãos, não levantou a suspeita de que pudesse ser algo mais sério. Fica o alerta. Mesmo se o preventivo der negativo, se tiver outros sintomas clínicos vale a pena investigar e refazer esse exame. E ele tem que ser bem colhido. Tem que incomodar um pouco mesmo na hora da coleta de material. Tenho 38 anos e não tenho filhos. E mesmo o câncer estando em estágio inicial, precisei retirar o útero, o que mostra a gravidade que isso pode ter. Não tinha despertado em mim o desejo da maternidade, mas queria poder ter mantido essa possibilidade. Possibilidade ceifada com essa notícia
J.F., 38 anos
A Gazeta
- A mulher se deita na posição ginecológica, com as pernas elevadas, apoiadas em um suporte. É introduzido um instrumento na vagina para uma inspeção visual do interior dela e do colo do útero, além da coleta de células, que são colocadas numa lâmina para análise de laboratório
O exame é indolor, simples e rápido. Causa sim uma colicazinha. Pode, no máximo, causar um pequeno desconforto, que diminui se a mulher conseguir relaxar e se o exame for realizado com boa técnica e de forma delicada
Toda mulher que tem ou já teve vida sexual deve submeter-se ao exame preventivo periódico, especialmente as que têm entre 25 e 59 anos. Inicialmente, o exame deve ser feito anualmente. Após dois exames seguidos com resultado normal, ele pode passar a ser feito a cada três anos. Mas isso pode ser definido com seu ginecologista
Para garantir um resultado correto, a mulher não deve ter relações sexuais (mesmo com camisinha) nos dois dias anteriores ao exame, e evitar o uso de duchas e medicamentos vaginais nas 48h anteriores . É importante não estar menstruada, a presença de sangue pode alterar o resultado. Mulheres grávidas podem se submeter ao exame, sem prejuízo para sua saúde ou a do bebê
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