> >
Separação e luto: Dores que também ensinam

Separação e luto: Dores que também ensinam

Baques profundos trazem consigo lições de retomada

Publicado em 29 de setembro de 2018 às 01:39

Elenicia, as três filhas e o marido, Adelson: a caçula é fruto dessa nova união Crédito: Bernardo Coutinho

No ciclo da vida, as perdas são etapas inevitáveis. A separação, o desemprego, a morte de alguém próximo são situações que ninguém quer passar, porém circundam a todos. A diferença entre uma pessoa e outra é a forma de lidar com os acontecimentos em busca de um recomeço.

A dona de casa Elenicia de Freitas Xavier de Almeida, 35, vivenciou uma separação dolorosa quando a primogênita, Gabriely, hoje com 11 anos, tinha pouco mais de 1. Na época, Elenicia ainda estava grávida de Gisely, 9. Na ocasião, havia deixado de trabalhar para dedicar-se à família e se viu sem o companheiro e sem renda.

“Foi bem complicado. Houve muitos conflitos no ato da separação; brigamos muito e, durante um bom tempo, eram só desentendimentos”, lembra Elenicia, hoje casada com Adelson, com quem teve a pequena Beatriz, 3.

Elenicia conta que a situação começou a melhorar quando o ex passou a namorar a atual esposa, pois ele tornou-se mais presente na vida das filhas. “Começou a ligar mais para as meninas, a pedir para levar para passear. Aí eu vi que a gente poderia ter um contato melhor.”

A dona de casa diz que a relação se estreitou ao ponto da caçula tratar a filha do ex como irmã e de a própria Elenicia se preocupar em comprar presente para as filhas darem à madrasta no Dia das Mães. “Para chegar a um nível de convívio como esse, a gente precisa abrir mão do orgulho, de coisas superficiais. Era preciso pensar mais nas meninas do que no que levou à separação. Enquanto eu e o pai delas continuássemos brigando, não iria dar certo. Quando resolvi deixá-las como prioridade, as coisas começaram a fluir melhor”, ressalta.

A experiência trouxe outros aprendizados para a dona de casa, além da relação com o ex-marido. Segundo ela, cada lado tem sua razão, e o importante, para tudo na vida, não é sair vencedor, mas respeitar que o outro pense diferente. “Demoramos muito para aprender, mas o importante é que hoje o convívio de nossas famílias é muito bom”, assegura.

TRABALHO

A auxiliar administrativa Cristiany Souza Miranda, 31, também passou pelo rompimento de um noivado e, logo no mês seguinte, perdeu o emprego. O fim de 2017 foi difícil para ela, que hoje sente-se bem e feliz.

No trabalho anterior, Cristiany havia ficado por três anos e meio e, por seu desempenho, nunca passou pela sua cabeça que pudesse ser dispensada. “A gente não espera ser incluída no corte da empresa e, quando recebi a carta de demissão, fiquei bem abalada”, comenta.

Ela disse que, como era fim de ano, resolveu descansar e colocar a cabeça em ordem para que, em janeiro, buscasse uma nova colocação. E assim fez: mandou currículos, buscou indicações com amigos e, em abril, retornou ao mercado.

Questionada se a demissão anterior a deixou com uma sensação de que isso pode acontecer novamente, Cristiany disse que mudou seu modo de pensar. “Descobri que ninguém é insubstituível, mesmo se mostrar competência. Então, é preciso ter um plano B. Se isso acontecer de novo, posso trabalhar por conta própria”, conclui.

QUEBRA DE TABUS SOBRE A MORTE FACILITA A SUPERAÇÃO

Na cultura ocidental, a maioria das pessoas tem dificuldades ao se deparar com a morte e, por vezes, o luto pode se prolongar por muito tempo. Em situações assim, buscar orientação profissional e também o apoio espiritual e da família e de amigos pode ajudar a superar essa etapa.

“A morte ainda é vista como um grande tabu. Não se fala do assunto com as crianças ou com os idosos. No meio acadêmico, já se discute a importância de que seja um tema inserido nos contextos familiares, na escola”, observa Maria da Conceição Passos Almeida, psicóloga e professora da UVV.

Para ela, é importante que a pessoa vivencie o luto, que também é uma forma de crescimento, porque ignorar a realidade pode acarretar sofrimento maior.

Maria da Conceição diz que algumas pessoas levam dias para se recuperar, outras até anos. “Isso é muito subjetivo, depende da história de cada um, como lidou com perdas desde a infância e os recursos que construiu dentro de si”, aponta.

A bacharel em Ciências Contábeis Tâmara Cristina Dias Nascimento, 46, viu-se desamparada quando o pai, Alcides, morreu há pouco mais de sete anos. O mais dolorido foi não estar junto dele no dia de sua morte, em junho de 2011. Ela havia viajado a trabalho e não estava com o pai para o almoço de domingo, como faziam todos os sete irmãos. “Cheguei à casa de meus pais, e ele tinha acabado de morrer”, lamenta.

Já faz sete anos desde a morte do pai, Alcides, mas Tâmara Cristina Nascimento não o esquece e procura se apegar às boas lembranças para evitar o sofrimento. Crédito: Acervo pessoal

Tâmara conta com orgulho os feitos do pai, que foi líder comunitário em Canaã, Viana. “Eu me apego às boas lembranças para seguir adiante”, ressalta.

Terapeuta comportamental e professor da Faesa, Luciano Cunha destaca que, quando uma pessoa perde um ente querido, o momento também é de reflexão.

“Foi um bom pai, um bom filho, teve um momento de despedida. Como posso lidar com isso agora? Se tiver como aprender com essa experiência, pode ser uma forma de elaborar esse luto”, orienta.

Luciano diz que para algumas pessoas é difícil resolver essas questões sozinhas, enquanto outras precisam do momento de reclusão e autoavaliação.

“Mas eu ressalto que existem fontes de apoio, sejam profissionais, sejam religiosas. Ninguém precisa sofrer sozinho.”

Este vídeo pode te interessar

  • Viu algum erro?
  • Fale com a redação

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais