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Sem idade e sem prevenção: mais de 170 alimentos podem causar alergia

Sem idade e sem prevenção: mais de 170 alimentos podem causar alergia

Problema pode surgir em qualquer idade e não tem prevenção

Publicado em 28 de abril de 2019 às 01:23

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Ana Francisca tem que ficar longe do camarão. Ela descobriu aos 12 anos que é alérgica não só a ele, como a todos os crustáceos. (Carlos Alberto Silva | GZ)

A advogada Ana Francisca Fernandes Gaião, 36 anos, sempre adorou camarão. Mas faz tempo que deixou de comer qualquer prato feito com essa iguaria de destaque na culinária capixaba. Desde que, aos 12 anos de idade, passou mal ao provar um delicioso bobó em casa. “Lembro que meu olho começou a inchar, e a garganta a fechar. Fui parar no hospital, tomei injeções. Dias depois fui a um médico e descobri que era alérgica”, conta ela.

O camarão - bem como todo o cardápio de frutos do mar - é um dos mais de 170 principais alimentos que podem causar alergia. Junto dele estão ovos, leite, trigo, soja, amendoim, castanhas e outros mais.

“Isso acontece por causa da estrutura da proteína desses alimentos. Mas para eles causarem alergia em alguém depende de vários fatores, como a predisposição genética e até o ambiente em que a pessoa vive”, diz a alergista e imunologista Milena Pandolfi.

A médica dá um exemplo de como a cultura influencia nessa questão: “A alergia à mandioca é mais comum aqui no Brasil do que nos Estados Unidos, por exemplo".

O sistema imunológico reage contra a proteína do alimento, como explica Paula Perini, também especialista na área. “É como se essa proteína se comportasse como inimiga do corpo. Daí, surgem lesões na pele, na boca, nos olhos, problemas respiratórios, podendo até ter o chamado choque anafilático”.

Milena explica que na infância, os alimentos que mais causam alergia alimentar são leite de vaca, ovo, trigo e soja. Alergias que, em geral, são transitórias. Menos de 10% dos casos persistem

até a vida adulta. Já entre os adultos, os alimentos mais identificados são amendoim, castanhas, peixe

e frutos do mar.

Prevenção

O que não quer dizer que evitar um desses alimentos afasta o risco de reações graves, destacam as médicas, que garantem: não existe prevenção à alergia alimentar.

“Deixar de comer ou de oferecer um tipo de alimento a uma criança para evitar reações alérgicas não é a melhor medida. Não há nenhum estudo que comprove que se você retardar o contato com algum alimento nos primeiros anos de vida não vai ter uma alergia. Há mães que só querem dar camarão para o filho quando ele tiver cinco anos de idade, por exemplo. Isso não diminui a chance de ter uma reação alérgica. O interessante seria até fazer o contrário”, aponta Paula.

É o que também recomenda Milena. “A criança pode comer de tudo, assim que tiver dentição, na introdução alimentar. O que a família come a criança pode comer”.

A maior parte da população adquire a alergia na primeira infância. Mas é normal tornar-se alérgico na fase adulta, a qualquer momento. “A pessoa pode se tornar alérgica de uma hora para a outra, não tem idade”, afirma Paula.

Esperança

Por enquanto, a alergia da Ana Francisca segue firme e forte. Nada de camarão, lagosta, siri, caranguejo e tudo quanto é crustáceo. Mesmo conformada, ela não esconde a frustração com o problema. “Já cheguei a tentar comer de novo na esperança de a alergia ter passado. Mas continuo não podendo chegar perto”, comenta.

Infelizmente, não tem jeito mesmo. “No caso das crianças, a maioria vai reverter o quadro até a adolescência. Mas quando a alergia é em adultos, não há tratamento. O que tem que fazer é excluir de vez o alimento mesmo”, diz a alergista.

É preciso ter certeza de que se trata de alergia antes de cortar o alimento no dia a dia. “Muita gente acha que é alérgica e não é. O certo é procurar um médico especialista para fazer esse diagnóstico e só depois excluir o alimento”, observa Paula.

É o fim do mundo ficar sem poder comer um tipo de comida? Longe disso. “Tem como levar uma vida normal, claro que tomando certos cuidados, como ao comer fora de casa. Alguns alérgicos são mais sensíveis e podem ter crise por causa da contaminação cruzada”, lembra Milena.

Ana Francisca já aprendeu como lidar com a limitação: “Até vou a restaurantes, mas sei que estou arriscando. Quando vou a uma festa, criei o hábito de abrir o salgadinho, por exemplo, para ver qual é o recheio, ou peço alguém para experimentar antes de mim”, relata.

SAIBA MAIS

Estatísticas

Estudos apontam que cerca de 8% das crianças com até dois anos de idade e 2% dos adultos sofrem com algum tipo de alergia relacionada à alimentação.

Quando a alergia aparece?

Depende. Pode surgir nos primeiros anos de vida. E a boa notícia é que em 90% dos casos a alergia desaparece até a adolescência. Mas, quando ela se manifesta na vida adulta, é irreversível.

O diagnóstico

Antes de cortar de vez um alimento da rotina, o certo é procurar um alergista para fazer testes e exames.

Potencialmente perigosos

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Frutos do mar, ovos, leite e castanhas em geral estão entre os mais famosos. Mas a lista inclui soja, trigo, amendoim, mandioca, pimentão, frutas (banana, laranja, abacaxi...) e muitos outros.

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