Publicado em 10 de agosto de 2018 às 19:21
Ela casou com 17 anos e aos 21 já era mãe de três filhos. Para ajudar na renda da casa, passou a ajudar a vizinha, que fazia biscoitos caseiros. Levava os biscoitos quebrados para os meus meninos, lembra. Quase 30 anos depois, Claide Ghisolfi Rasseli é dona da fábrica de biscoitos Claids, um dos pontos mais visitados de Santa Teresa, região serrana do Estado. O município está na moda e tem recebido mais visitantes a cada fim de semana. Gente que busca programas culturais, boa gastronomia, aventura e produtos caseiros de qualidade, como os feitos por Claide.>
A 77 km de Vitória, uma viagem de 1h30 mais ou menos, o destino compete com Pedra Azul a preferência dos turistas que gostam da região de montanha. Em Pedra Azul, a pedra e o lagarto encantam quem passa por lá. Já Santa Teresa possui a linda vista do Vale do Canaã, a partir da rampa de voo livre, a 915 metros de altitude, no Circuito de Caravaggio. Aliás, o circuito tem tudo pra ser, em breve, uma Rota do Lagarto. Além de atrair adeptos do voo livre, possui o Restaurante e Cervejaria Tramonto, A Casa do Espumante, a cantina Romanha.>
Vocação cultural>
>
Enquanto Pedra Azul atrai principalmente pelo agroturismo, Santa Teresa se firma como uma cidade cultural. Aliás, os moradores, empresários e comerciantes são unânimes em dizer que a partir do Santa Jazz e Bossa, festival que está em sua sétima edição, é que a cidade dos colibris começou a alçar novos voos. De quarta a sábado desta semana, haverá o 1º Festival de Cinema de Santa Teresa e nos dias 15 e 16 de setembro, o Festival de Sanfonas e Concertinas. Isso sem falar nos museus Mello Leitão e do Imigrantes já conhecidos da população do Estado.>
Os famosos bicoitos>
Assim como os museus de Santa Teresa, os biscoitos Claids também são velhos conhecidos dos capixabas. O que muita gente não sabe é que o início dessa história não foi nada fácil. Durante 15 anos, Claide e o marido acordavam às 5 horas e iam dormir 2 da manhã fazendo e criando receitas diferentes de biscoitos. Hoje, ela produz 82 tipos - uma média de 500 quilos por dia - feitos artesanalmente, todos com uma receita única. Fazia tudo em uma fogãozinho de quatro bocas e usava as embalagens de açúcar e trigo para embrulhar os biscoitos. Não tinha dinheiro pra nada. Tudo o que ganhava era pra comprar novos ingredientes, lembra.>
A fábrica fica logo na entrada da cidade, mas a primeira loja ainda existe e fica na casa onde Claide morava. Funcionamos lá durante 21 anos, fizemos seis reformas para ampliar a fábrica, mas chegou um momento que não dava mais. Foi aí que decidimos construir esse prédio. No prédio funciona um café e é possível degustar alguns biscoitos para poder saber qual deles levar, uma decisão difícil diante de tanta variedade de delícias.>
Passeio de fim de semana>
Os aposentados Égida Maria Médici Bisi e Egeu Antônio Bisi estavam entre os muitos turistas com essa difícil tarefa. Se prepare para sair com uma cesta cheia. É impossível sair com um só, avisou Egeu para um outro visitante. Enquanto Égida emendava: Já comeu esse? É maravilhoso!.>
Os dois costumam ir sempre para Santa Teresa, inclusive com os filhos, onde passam o dia e visitam vários pontos turísticos. Adoramos tudo. O clima, os vinhos, as festas, a comida italiana e os ótimos restaurantes, acrescentou ela, apoiada por Claide. Temos recebido muita gente. Santa Teresa está em alta. Ela tem razão.>
Luxo sem arrogância>
Durante muito tempo o hotel Solar dos Colibris reinou (praticamente) absoluto em Santa Teresa no quesito hospedagem. Além dele, os visitantes que buscavam um local para passar alguns dias na cidade, contavam apenas com o esquema Casa & Café, pequenas pousadas, principamente na zona rural, e com o aluguel de casas e sítios.>
Há um ano, no entanto, essa realidade mudou drasticamente. A Pousada Vale dos Pássaros abriu as portas na cidade, oferecendo um serviço de luxo aos hóspedes, começando por um café da manhã com menu degustação e espumante, e finalizando com suítes com banheira de hidromassagem aquecida.>
Cada detalhe foi pensado pelos empresários Marco Nascimento e Carla Fanchioti. O lugar onde hoje é a pousada era um sítio de um amigo, que ficava ao lado do deles. Só que ele precisou vender e eu acabei comprando pra fazer uma área de lazer. Chegamos a construir três chalés e até pensamos em alugar para turistas. Mas mudamos de ideia quando uma consultora de Belo Horizonte veio aqui e viu que o lugar tinha potencial para uma pousada, contou Marco.>
Empolgados, eles começaram a construir na semana seguinte. Ao todo são 20 acomodações.>
Duas suítes master, com banheira de hidromassagem, frigobar diferenciado, com queijos, presunto de parma, castanhas, três rótulos de vinhos chilenos, além de uma máquia de café em cápsulas. Quatorze suítes luxo, que possui tudo o que a master oferece, com exceção da banheira de hidromassagem. E os três chalés já existentes. Um chalé possui duas suítes, cozinha, sala e dois mezaninos com duas camas de casal, ou seja recebem até oito pessoas, e os outros dois chalés são individuais e possuem uma suíte confort cada um.>
Estamos muito felizes com o retorno positivo que recebemos dos hóspedes. Isso aqui é a extensão da casa da gente, disse Carla, que mergulhou fundo na ideia e fez questão de contratar somente pessoas das região. Ninguém daqui nunca trabalhou em hotel, o que achamos até bom porque queremos construir uma equipe do zero, pessoas que entendam a nossa proposta.>
A pousada também conta com um Spa, que é aberto ao público - basta reservar o serviço com uma hora de antecedência sauna seca e a vapor, e uma área de eventos, com estrutura para banda, além de um salão de beleza para noivas e convidados se arrumarem no caso de casamentos.>
Já realizamos casamentos aqui e deu muito certo. Aliás, percebemos que é uma tendência casar na região de montanha, disse Marco.>
O jantar e o café da manhã - ponto alto da pousada também são abertos aos moradores e turistas. O deck onde é servido o jantar funciona a partir das 16 horas. E o café vai até às 13h. Sempre gostei de dormir até tarde quando viajo e muitas vezes tive que abrir mão do café em alguns hotéis. Me coloco no lugar do hóspede que quer descansar, explicou Carla.>
Chef convidado>
Além do cardápio do jantar, assinado pela chef Kamila Zamprogno, do Café Haus, há também um projeto de um menu degustação com um chef convidado. No último dia 25, aconteceu um desses jantares comandado pelo chef Juarez Campos, com entrada, dois pratos principais e uma sobremesa.>
Comemoração>
O casal Ana Paula Tanceda e Luís Cláudio dos Santos ficou sabendo do jantar criado por Juarez e resolveu se hospedar na pousada pela primeira vez. Santa Teresa faz parte da nossa história. Ficamos noivos aqui. Gosto de celebrar essa data e passear pela cidade, mas sempre fiquei em um apartamento da família porque sentia falta de uma estrutura de hotelaria. Estou encantada, disse Ana Paula.>
Na opinião dela, apesar de todo o luxo oferecido ao hóspede o lugar não ficou arrogante. A gente se sente à vontade, ficou bem acolhedor. E tem essa vista da Mata Atlântica preservada, ressaltou ela. A Vale dos Pássaros não recebe crianças com menos de 14 anos.>
O fantástico antiquário>
Num grande galpão, localizado no Centro de Santa Teresa, fica um outro ponto que atrai turistas para a cidade de dentro e fora do Estado. O antiquário Relíquias da Terra é destino dos apaixonadas por peças antigas, como aparelhos de chá ou de jantar de porcelana inglesa, faqueiros de prata e muitas outras peças que fazem o coração de João Henrique Pauli bater mais forte.>
É uma paixão. Gosto tanto que tenho dificuldade de desapegar. Já me arrependi de vender algumas peças, como um ecobatímetro, contou ele, rindo.>
João é topógrafo e a tal peça vendida é usada para medir a profundidade dos oceanos, lagos e rios. Hoje está exposta no Museu Miguel Borlini, em Aracruz. Mas ainda há outras queridinhas Uma luneta Teodolito Gurley, de 1913, um apito de Maria Fumaça, de 1877, e uma máquina de braile alemã, de 1951, estão entre as preferidas dele. Costumo dizer que o setor dos homens é o de ferramentas, e o das mulheres, o de cristais, porcelanas e pratarias.>
Assim como Claide, João percebeu um aumento grande do movimento e foi para um espaço maior. A cidade fica cheia todo fim de semana, e não é só no inverno, não! Recebo muita gente de fora do Estado também, disse ele, que tem cerca de 4 mil peças em seu acervo.>
A coleção começou no sítio de João, onde ele tinha a intenção de construir uma pousada. Ele comprava madeiras de casas demolidas, e nessas andanças acabou encontrando também ferramentas antigas que tinham sido deixadas pra trás. Hoje compro muita coisa na região serrana do Rio e em São Paulo. E sempre que vendo uma peça, já compro outra pra substituir, explica. Felizmente a substituição é constante.>
Para voar e contemplar >
Atrás do balcão simples de madeira, Marcela Nigliorelli não sabia quem atender primeiro. Vocês tem almoço, perguntou uma jovem. Olha, se quiser, posso fazer um arrozinho com feijão, um franguinho e uma salada, respondeu tentando atender a jovem que passaria o dia todo no lugar. Preciso garantir o almoço. Vou voar só no fim de tarde, dizem que o pôr do sol daqui é lindo, revelou a advogada Amyne Sampaio Rampinelli. Ela tava ansiosa>
porque ia voar pela primeira vez. O visual deve ser maravilhoso, parece que muita gente vem pra cá só pra assistir esse espetáculo, avisou.>
Realmente, cada dia é maior o número de pessoas que visitam a rampa de voo livre Amauri Fernandes, que garante uma vista maravilhosa do Vale do Canaã. O movimento aumentou muito. Recebemos famílias inteiras, gente de todos os lugares. No verão, vem muita gente da Europa, mas já voei com gente do Canadá, Iraque e até Japão, contou o instrutor de voo, Mizinho. Há oito anos ele comanda a lanchonete/restaurante/bar ao lado da mulher. Antes, eu trabalhava sozinho e ainda tinha tempo, agora temos dois instrutores e não estamos dando conta.>
A analista de relacionamento com o cliente Katia Helena Franco Tolentino, de 45 anos, foi de moto com o marido passar o fim de semana em Santa Teresa. Viemos conhecer o visual daqui de cima e meu marido me fez uma surpresa: já tinha armado tudo pra eu voar. Eu fui e amei! É sensacional! Quero mais, disse ela que voltou no dia seguinte pra viver a experiência mais uma vez. Ela contou que voo tão alto que deu pra avistar Vila Velha, onde mora. O voo durou cerca de 40 minutos. Custa R$ 180, mas vale cada centavo.>
A funcionária pública, Letícia Carloni também esperava para saltar de 915 metros. Já tentei uma outra vez, só que vento não estava bom. Mas de hoje não passa, avisou ela, que é fã de Santa Teresa. Venho sempre. Amos os festivais, a comida, os passeios... A rampa fica no Vale Caravaggio, aproximadamente 8km do centro da cidade, e tem capacidade para decolagem simultânea de cinco parapentes.>
* A repórter viajou a convite da pousada>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta