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Sagrado feminino: corrente defende reconexão da mulher com o feminino

Sagrado feminino: corrente defende reconexão da mulher com o feminino

Corrente que defende a reconexão da mulher com a essência do que é feminino ganha cada vez mais adeptas no Estado dispostas a restabelecer a ligação consigo mesmas e a harmonização de tudo isso com a natureza

Publicado em 13 de abril de 2018 às 23:35

Anny Beth é adepta há dois anos Crédito: Acervo Pessoal

Foi há dois anos, durante a aula na pós-graduação em Psicologia Transpessoal, que a servidora pública federal Anny Beth Bernardo teve a experiência que mudaria para sempre seu modo de ver a vida. “O aprendizado mais significativo foi o de aprender a lidar comigo para saber lidar com o outro”, conta.

A vivência apresentada aos alunos foi a Bênção Mundial do Útero, movimento onde mulheres de vários países se conectam em horários pré-estabelecidos para meditar e despertar o feminino divino, a feminilidade e a espiritualidade. “Durante a noite, para a minha surpresa, após a vivência, eu senti cólicas como as que sentia quando menstruava, e eu nem tenho mais os ovários e o útero. Foi uma experiência maravilhosa, pois eu me senti inteira, como se todos os órgãos do sistema reprodutor estivessem presentes”, relata.

Aos 54 anos, Anny é adepta do Sagrado Feminino, corrente que promove ensinamentos sobre aspectos físicos e mentais da figura feminina. É a consciência dos ciclos femininos (como o da menstruação), da capacidade de criação e acolhimento (gestação) e da força da mulher. É a reconexão consigo mesma e a harmonização de tudo isso com a natureza. “Os encontros de mulheres que participo ocorrem durante um final de semana por mês. Neles, os aprendizados das fontes de sabedoria, a aceitação sem julgamentos e o respeito pela história de vida de cada uma – somados às vivências práticas – nos ajudam a aprender a reverenciar a natureza, respeitar o nosso próprio corpo, seus ciclos, e encontrar a sabedoria primal que nos faz sentir a vida como um direito legítimo, inato, a ser vivida com integridade, alegria e plenitude”.

Ela explica que movimento do Sagrado Feminino não se trata apenas de uma forma de empoderamento das mulheres, mas de um movimento de empoderamento humano, necessário para a evolução do ser. “O movimento feminista foi significativamente importante para liberar os atributos da energia masculina na mulher, possibilitando que, na luta pela igualdade de direitos, nossas necessidades pessoais, sociais e profissionais fossem atendidas. Porém, é necessário liberar a energia do feminino na própria mulher. É indispensável que o homem também permita a emergência em si dos atributos e virtudes, para a sua própria cura e a cura do planeta”, explica Anny, ressaltando a sensação após as vivências. “Eu saio dos encontros confiante em mim e na minha capacidade de contribuir para a mudança que desejo ver no mundo”.

Resgate de si

Bianca Campagnoli realiza o Encontro das Deusas. "Promovo a união entre as mulheres, a quebra dos estigmas, o empoderamento Crédito: Acervo Pessoal

Aos 13 anos, Bianca Campagnoli já tinha uma necessidade latente de entrar em transe. “Foi através da dança do ventre que descobri o sagrado feminino. Essa filosofia de vida, essa auto-descoberta através da outra como irmã, como um círculo sagrado de irmandade que expurga todos os sentimentos competitivos que foram inseridos num sistema patriarcal. É o resgate da mulher como pilar de uma sociedade, como geradora, matriarca, curandeira com um potencial energético universal. Estudos energéticos falam que, unindo três ou mais mulheres em um círculo, a energia fica tão forte que pode promover a cura de um ente no outro lado do mundo”, relata.

A professora de dança do ventre, pesquisadora e facilitadora do Sagrado Feminino, conta que a prática envolve respirações, atividades corporais, danças circulares, rodas de conversas, palestras sobre vários temas do sagrado. Tudo isso durante um dia inteiro ou boa parte dele para facilitar a focalização na energia a ser trabalhada. “O local geralmente é na natureza, todas as práticas são voltadas à potencialização da energia feminina. A sensação maior é de estar em transe”.

Há sete anos ela realiza o Encontro das Deusas. “Trabalho com o sagrado feminino há 23 anos. Promovo a união entre as mulheres, a quebra dos estigmas, o empoderamento, além de trabalhar a energia sútil curadora de si e do próximo, bloqueios psicológicos diversos, habilidades motoras que facilitam no processo de desprendimento”.

Para ela, essa união entre as mulheres é uma forma de aumentar suas forças, de ampliar a essência, de resgatar a mulher em si. “Creio em um mundo mais harmônico, onde tudo é sagrado, e espero que essa visão estimule o respeito e o amor ao próximo”.

Estado divino

Ana Paula Tongo pratica a bênção do útero, resultado de uma longa viagem de descoberta Crédito: Marcelo Prest

A especialista em engenharia de produção Ana Paula Tongo começou a se interessar pelas energias feminina e masculina há alguns anos, de uma forma sútil. “Me senti meio que enganada por uma pessoa muito próxima e me dei conta que, para isto ter acontecido, estava desconectada. Queria me conectar com a minha essência feminina real”.

Ela também pratica a bênção do útero, que é o resultado de uma longa viagem de descoberta, desenvolvimento espiritual e experiência na cura e no ensino das mulheres sobre as suas energias cíclicas e sobre a sua natureza. O termo ‘útero’ é usado para descrever o centro de energia que está na parte baixa da barriga e que é a fonte da energias femininas, quer elas tenham um útero físico ou não. O conceito de uma ‘bênção’ pode ser definido como uma ação que devolve algo que é mundano ao seu estado original, o sagrado. Portanto, a ‘bênção do útero’ é um caminho para despertar as autênticas energias femininas e retornar à feminilidade, levando-a de volta ao seu estado divino. “É feito em casa, ou num lugar sossegado. A sensação é de presença, cura, ampliação da percepção feminina. É uma sensação muito pessoal. Sinto que minha energia feminina está mais conectada e aflorada”.

A meditação ocorre em cinco luas cheias durante o ano. A lua cheia é escolhida porque a energia da bênção é um reflexo da Mãe Divina – em muitas culturas ao redor do mundo, a lua é vista como feminina e a lua cheia como a mãe de todos. Mais de 150 mil mulheres no mundo marcam alguns horários do dia para praticar a bênção do útero durante esse período da lua. “São mulheres do mundo inteiro mentalizando a força e a pureza”, conta Ana.

Ela explica que a experiência é muito individual e também pode variar de acordo com a fase do ciclo menstrual. Para ela, é preciso que as mulheres fiquem atentas ao chamado. “Eu observo que as mulheres estão atentas, contudo por estarem, em sua maioria, sobrecarregadas ou ligadas no automático acabam se desconectando com alguns aspectos, mas todas nós temos o sagrado feminino, é só acessar”.

Busca pessoal

Para Maria Sanz Martins, é importante o resgate da essência da mulher Crédito: Vitor Jubini

A designer e escritora Maria Sanz Martins carrega tatuado no corpo o símbolo de um coração sagrado. “Eu decidi trazer para o corpo a essência do movimento. Eu precisava dar um signo, performar tudo que estava acontecendo dentro de mim e vinha sentindo há muito tempo”. Tudo começou quando ela voltou de uma feira de moda, na França, onde participou expondo seus quimonos. “Cheguei em Vitória com vontade de fechar o ciclo com chave de ouro, e fui participar de uma meditação com tambores — mal sabia que esse seria o início de novo caminho pra mim”, conta.

A experiência mexeu fortemente com Maria, que acabou encontrando o sagrado feminino. Leu, pesquisou e, tempo depois, estava no interior de São Paulo participando de um retiro com outras mulheres. “Fui sem ter ideia do que iria encontrar. É utilizada a medicina do corpo, onde se propõe que ele traga as suas verdades, dê acessos, deixando bem nítido o quanto estamos afastados dele. E mais: neutralizando a voz de nosso corpo com remédios e se mantendo nesse padrão limitante que é o patriarcado. É o resgate desse lado mais feminino, da ancestralidade e o que foi a nossa história”.

Maria conta que esse é um processo longo e individual. E que fez anos de escavação na busca pelo autoconhecimento. “Até que o sagrado apareceu para mim. Talvez, se tivesse acontecido há dois anos, não ia fazer sentido, eu iria querer teorizar ou julgar. Encontrei no momento em que estava pronta”.

O retiro, que durou alguns dias, começou com uma dança para lua. Também teve meditação, vipassanã (meditação do silêncio), ioga e outras danças. “Nada é muito falado. Cada minuto é uma vivência. A sensação mais forte é a de que você é parte de um todo. Você passa a ser refletida na outras mulheres, todo mundo é a mesma coisa. Tudo o que você está julgando faz parte de você. Foi tudo muito poderoso para mim”, revela.

Ela conta que o mundo ficou muito competitivo e esquecemos de colaborar uns com os outros. Por isso é importante o resgate da essência. “E esse caminho começa pela mulher, somos um bom viés para isso, já que somos almas criativas. O homem também precisa dessa essência, não é uma competição entre nós e eles. Esquecemos que estamos aqui para colaborar, se isso não acontecer não iremos andar para frente”.

O papel da imersão é a busca do despertar, já que, segundo o sagrado, todo mundo tem algo divino. “A gente precisa ganhar consciência cada vez mais. Dar luz para a nossa essência que está muito reprimida. Acho que não volto mais atrás”, conta ela, que voltou recentemente de um retiro.

 

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