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Pequenas ações para você produzir menos lixo

Pequenas ações para você produzir menos lixo

Da ecobag à compostagem: atitudes no dia a dia que fazem a diferença. Veja alguns exemplos

Publicado em 10 de agosto de 2018 às 17:47

O engenheiro ambiental Bruno Navarro mostra sacola reutilizável que ele usa para fazer feira Crédito: Bernardo Coutinho

Tem uma moçada aí pensando diferente e fazendo diferente. Eles trocam o carro pela bicicleta, levam uma sacola para o supermercado ou para a feira, carregam os próprios talheres na bolsa, compram em brechós e fazem o próprio shampoo.

Essas pessoas, jovens em sua maioria, começaram a se incomodar com a quantidade de lixo que estavam produzindo e resolveram mudar alguns hábitos pensando no bem do planeta e também da própria saúde.

Como a nutricionista Beatriz Gaudio, 26 anos, que sai para almoçar todos os dias com seu kit formado por garfo, colher e faca, além do copo e do canudo de inox. “Comecei a prestar atenção na quantidade de lixo nas ruas, nas praias, e fui fazendo uma autoanálise do que poderia fazer para ajudar. A gente consome mais do que precisa. Uma quantidade enorme de copos descartáveis, canudos... Percebi que as escolhas de consumo é que vão determinar o que a gente produz e em que planeta vai viver. Se não reduzirmos a produção de lixo, não sei onde a gente vai parar”, comenta ela.

Beatriz acompanha essa onda verde que vem tornando pessoas e empresas mais conscientes em relação ao meio ambiente. A mesma onda que fez o Chile abolir completamente as sacolas plásticas, que fez os Estados Unidos declararem guerra ao isopor e fez o Rio de Janeiro proibir o canudinho.

Os vilões da natureza já são conhecidos. Mas nem todo mundo se atenta para o impacto do seu consumo pessoal. Para se ter uma ideia, cada brasileiro gera, em média, um quilo de lixo por dia.

Problema

O engenheiro ambiental Bruno Navarro, 36 anos, que comanda uma ONG e uma empresa na área de empreendedorismo sustentável, sabe bem o tamanho do problema. Ele cita o caso das sacolas plásticas, um produto com alto custo ambiental que não se degrada e, descartado de forma errada, vai parar nos oceanos, causando a morte de várias espécies.

“No Brasil, mais de 1,5 milhão de sacolas são consumidas por dia. Um estudo revelou que, em 2050, vai ter mais sacola no mar do que peixe. Nos Estados Unidos, não há mais sacolas nos supermercados. É uma tendência. Antes não se discutia isso porque não era um problema evidente”.

Para minimizar esse impacto, diz Bruno, é preciso mudar de atitude. “Agora se fala muito no fim do canudo. Que falta faz um canudo na vida da pessoa? Nenhuma. Mas o uso é automático. A gente vive de forma mecanizada e degrada o meio ambiente sem perceber. É preciso se questionar: ‘eu preciso mesmo disso?’. E recusar. Não é fácil. A sustentabilidade é um processo longo”.

A informação é um primeiro passo para essa tomada de consciência, como lembra Renato Ribeiro Siman, professor do departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), doutor em hidráulica e saneamento básico. “Uma pesquisa mostrou que o cidadão não sabe o que é feito com resíduo dele que sai da porta de casa. Informar sempre é bom investimento”.

Responsabilidade

Saber descartar corretamente o próprio lixo, mais do que uma postura correta, é um dever de cada um. “Cabe ao cidadão separar e entregar o lixo. Tem que cumprir bem a tarefa dele, ser fiscal das próprias ações para poder cobrar políticas públicas direcionadas à gestão de resíduos. O problema não está nas pessoas unicamente. É uma responsabilidade compartilhada”, afirma Siman.

Em nome de um consumo consciente

Thalita Legora, engenheira especialista em projetos sustentáveis e blogueira verde. Ela tem uma composteira em casa Crédito: Reprodução/Instagram

Ela tem receitinhas caseira para quase tudo: do shampoo ao repelente. A ordem é ser artesanal, 100/% natural, e, assim se livrar de um monte tóxicos e de pilhas de embalagens. Também tem uma composteira em casa. E quando vai às compras, com sua ecobag, busca alimentos orgânicos, roupas com tecidos mais duráveis e produtos biodegradáveis.

A engenheira Thalita Legora, conhecida também como garota verde, é de uma geração que está mais atenta com o meio ambiente e que não se importa em pagar um pouco mais caro em troca de sustentabilidade e saúde. Eles estão aprendendo usar o poder que têm como consumidores para mudar o mundo. E para melhor.

“Sempre fui uma criança ligada, mesmo quando não se falava em reciclagem. Sempre tive essa preocupação de prejudicar menos o meio ambiente”, diz Thalita.

O destino a levou a se tornar uma engenheira especialista em projetos sustentáveis, profissão que ela divide com um hobby, um blog onde dá dicas para quem quer seguir um estilo de vida mais ecológico. “Os produtos do dia a dia, incluindo os alimentos, são o que faz mais efeito no impacto ambiental. Algumas atitudes ficam muito automáticas. A gente precisa desafiar padrões de comportamento. Nossa geração é a mais influente do mundo, capaz de influenciar os mais velhos até”, comenta Thalita.

Vale a pena

Cada ato dela, na hora de se vestir, de comer, de se maquiar, é pensado. “A industria têxtil é uma das fontes mais poluidoras do mundo. Por isso, procuro roupas e materiais que sejam biodegradáveis, um 100% linho ou seda. Pode ser mais caro, mas vale a pena pagar mais por algo que tem durabilidade, com matéria-prima renovável”, cita.

Um direito de escolha do qual ela não quer abrir mão. “Não sou 100% sustentável, mas não significa que não estou fazendo a diferença também. Quando vou à feira orgânica atrás de alimentos sem agrotóxico, não me preocupo só com minha saúde, mas em não consumir algo que cai no solo, vai para a água, afeta os animais. Busco produtos que agregam alguma coisa. Meu consumo tem que fazer a diferença”.

Com pequenas mudanças na rotina, Thalita reduziu a quantidade de lixo que produz. “Nem sempre é possível não pegar lixo nenhum. Na feira, quase não tem caixa de ovos de papel. Pego a de plástico mesmo. Mas guardo em uma gavetinha em casa. Quando volto à feira, devolvo ao vendedor”.

Ações simples, com muito efeito. “Todo mundo começou por algum lugar. Ninguém deve ter vergonha se a única coisa que faz é usar uma ecobag. É uma primeira mudança”.

Lixo zero: veja alguns dados e dicas para dar sua colaboração ao meio ambiente

Produção de lixo

Por dia, o brasileiro produz, em média, um quilo de lixo

Reaproveitamento

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) afirma ainda que apenas 13% de todo o lixo produzido no país vai para a reciclagem

No ES

No Espírito Santo, o percentual da média de resíduos direcionados à reciclagem é de 2,37%, ainda mais baixo que o nacional

Em Vitória

Na capital, são recolhidas quase dez mil toneladas por mês de resíduos sólidos e 120 mil toneladas por ano

Coleta seletiva

No Espírito Santo, pelo menos 62 cidades têm coleta seletiva. O volume coletado, no entanto, ainda é baixo: por mês, apenas 1,8 mil tonelada é destinada a associações de catadores

Mudanças pelo mundo

Isopor

Em Nova Iorque, desde 2015, uma lei proíbe que qualquer empresa venda, ofereça ou possua qualquer produto feito de isopor na metrópole americana. O McDonald’s começou a deixar de usar isopor nos anos 1990 e em 2013 abandonou totalmente o material

Sacolas plásticas

- Entre 500 bilhões e 1 trilhão de sacolas plásticas são consumidas em todo o mundo anualmente. No Brasil, cerca de 1,5 milhão de sacolinhas é distribuído por hora

- O Chile acaba de se tornar o primeiro país latino-americano a ter uma legislação específica que proíba uso de sacolas plásticas

Canudinho

- Seguindo exemplo de lugares como Vancouver (Canadá), Inglaterra e Nova Iorque e Seattle (EUA), o Rio de Janeiro é a primeira metrópole brasileira a proibir a utilização de canudos nos estabelecimentos comerciais

- Estima-se que cerca de 1 bilhão de canudos sejam descartados todos os dias no mundo. E quando descartados no meio ambiente, levam no mínimo 450 anos para se decompor

Por onde começar

1º: Reduza

- Desperdício de comida (o que tem na sua geladeira e armário que já está estragado?)

- Compras desnecessárias (de cosméticos, roupas, comidas)

- Produtos de limpeza (a gente não precisa de tantos produtos, troque por: vinagre, bicarbonato de sódio e sabão de coco)

- Compre em feiras e a granel

- Pare de imprimir coisas desnecessárias. tenha documentos em versão on-line

- Aprenda a dizer não para canudos e sachês de molho; recibos de compras feitas no cartão; cartão de visita (tire uma foto); contas em papel que poderiam ter versão digital; embalagens em geral

- Reduza o uso do carro. Vá à pé, de bicicleta. Você vai poluir menos. E sua saúde também agradece

- Faça seu próprio cosmético: shampoo, desodorante, hidratante, esfoliante, pasta de dente, há receita caseira para tudo

2º: Reutilize

- Prefira produtos que venham em embalagens de vidro, em vez de plástico e isopor, ou sem embalagem

- Leve sua ecobag ao supermercado e à feira e dispense sacolas plásticas

- Tenha: guardanapos de pano, talheres, hashis e um pote de vidro ou copo de alumínio na bolsa

- Coletor menstrual, gerando uma economia de muitos absorventes (não-recicláveis) por ano

- Compras de 2ª mão: de roupas a eletrônicos, comprar algo usado é bem mais barato e aumenta a vida útil dos produtos

 3º: Recicle

- Lave as embalagens antes de descartar (passe uma aguinha, simples assim)

- Sabia que se descartar o tubo de pasta de dente no lixo do banheiro ele não poderá ser reciclado? Descarte na lixeira dos recicláveis ou de plástico

- Separe o lixo reciclável (é só ter 2 lixinhos em casa!) e descarte na lixeira reciclável se morar em condomínio ou coloque no dia que passa a coleta seletiva

- Tenha uma composteira em casa para o lixo orgânico

Fontes: Blog Um Ano Sem Lixo; Projeto Colabora; Ministério do Meio Ambiente

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