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Obras de arte em casa vão além do décor: são investimento

Obras de arte em casa vão além do décor: são investimento

Independentemente de serem de autores renomados ou de jovens talentos, na opinião de profissionais da arquitetura, as obras de arte conferem alma aos ambientes

Publicado em 29 de julho de 2019 às 19:52

Neste projeto, Cláudio Calezani criou uma parede galeria para expor as obras de arte que seu cliente já tinha Crédito: Calezani Anchite Arquitetura

Há cerca de 40 mil anos os homens pré-históricos já se manifestavam artisticamente. Embora ainda não conhecessem a escrita, eles eram capazes de produzir obras de arte. A arte rupestre é composta por representações gráficas - desenhos, símbolos, sinais - feitas em paredes de cavernas ou nas superfícies de rochas de grande porte.

A arte sempre teve um imenso valor para a humanidade. E vários poetas e pensadores já escreveram sobre o tema. Friedrich Nietzsche, filósofo alemão, afirmava no século XIX que “a arte existe para que a realidade não nos destrua”.

Ao longo dos tempos, valorizamos as mais diferentes manifestações artísticas. No momento de decorar nossas casas, assim como nossos ancestrais, também usamos obras de arte.

A arquiteta Tatiana Coutinho, que se declara amante das artes, é profissional que inclui obras de artes nos seus projetos sempre que o cliente permite. Seu interesse pelas artes vem da infância. Sua avó pintava, bordava e fazia trabalhos manuais. E, desde então, desenvolveu a sensibilidade para esse universo. Mas foi somente ao decorar sua própria casa, após o casamento, que ela resolveu se dedicar mais ao assunto. Passou a pesquisar sobre o tema e se tornou uma colecionadora de arte contemporânea e design assinado.

Para Tatiana, arte é emoção, é uma forma de expressar sua personalidade. Para ela, sem obras de arte, as casas ficam sem alma. Mas suas escolhas não consideram apenas o valor estético. “Não coloco só porque é bonito, vejo também como investimento”, afirma.

E ela leva todo esse conhecimento e sua paixão para sua atuação profissional. Quando o cliente já tem obras de arte, ela as insere nos ambientes, independentemente se são obras de artistas renomados ou trabalhos sem tanto valor comercial, mas com enorme valor afetivo. Mescla os diferentes suportes, como escultura, óleo sobre tela, gravura; mas sempre respeitando o gosto e o estilo dos clientes.

A partir do desejo de sua cliente, Marilia Celin planejou a integração dos espaços e uma base neutra, como forma de valorizar e destacar as obras Crédito: Marilia Celin/Divulgação

Para quem está começando seu acervo e não pode ou não está disposto a investir muito em obras de arte, ela recomenda participar de clubes de colecionadores, pois o investimento é menor e é uma forma de despertar o olhar para a arte. Outra dica importante é, sempre que possível, percorrer galerias, museus e exposições de arte, para ir treinando o olhar.

Esse gosto pelas artes tomou uma proporção tão grande que, recentemente, ela abriu a Particular, uma plataforma virtual e itinerante, em que ela comercializa arte contemporânea e design assinado. Está iniciando também um trabalho de art advisor, um serviço de assessoria para quem deseja montar seu próprio acervo de arte e também orientar quanto à melhor forma de expor os trabalhos nos ambientes.

O arquiteto Cláudio Calezani também prioriza o uso de obras de arte em seus projetos. Além de visitar galerias de arte e pesquisar possíveis trabalhos para aquisição pelos clientes, ele também faz uma pesquisa com as obras que o cliente já tem, e busca inclui-las em seus projetos.

Em um projeto recente, seu escritório foi contratado exatamente para expor diversas obras do cliente. O proprietário possui uma vasta coleção de artesanato, livros, obras de arte e objetos afetivos. A proposta do escritório foi aglutinar todas as obras – que se encontravam espalhadas pelo apartamento - em uma única parede. “Destacamos uma grande parede com um tom profundo para acomodar todos os quadros, conseguindo assim dar unidade aos diversos tipos de molduras e estilos artísticos, incluindo a TV, solicitação do cliente”, afirma. A composição da “parede galeria” é destacada ainda pela iluminação cênica.

Guilherme Leite Ribeiro, sócio de André Bastos no Estúdio Nada se Leva, também adora usar obras de arte na sua casa e nos seus projetos. Para ele, um ambiente sem arte é um ambiente sem vida. “O uso da obra de arte é uma forma de identificar quem mora, quem habita aquele espaço. A arte não tem funcionalidade, o objetivo é trazer uma emoção”, afirma. Em sua casa, ele tem diversas obras de arte e se diz um colecionador bem eclético. Tem trabalhos de artistas renomados e de jovens artistas. E não se preocupar com o valor da obra, mas com o valor estético e o que aquela obra comunica.

Guilherme e André, que desde 2014 são os curadores da Líder Interiores, assinaram o ambiente Espaço Identidade, para a Mostra Decora Líder. O ambiente foi pensado para um colecionador, alguém que valoriza o design e a arte. A partir do acervo da OÁ Galeria, selecionaram diversas obras de arte – peças abstratas, conceituais, de diferentes suportes. A parede foi pintada num tom de azul para destacar e valorizar os trabalhos. Foi feita uma seleção bem eclética, mas que trouxe harmonia e vida para o ambiente!

Para Thais Hilal, galerista da OÁ Galeria, a obra entra como ponto de partida ou como uma finalização do ambiente, trazendo requinte e somando ao projeto. “O ideal é que as obras de arte entrem nesses espaços não apenas como meros elementos decorativos e, sim, que passem a ter um diálogo cotidiano com quem irá conviver com elas”.

Ela acredita que, mesmo com orçamentos menores, é possível incluir obras de arte nos espaços residenciais. Segundo Thais, é possível encontrar bons trabalhos de artistas em início de carreira e apostar neles, desde que o comprador tenha uma identificação com o processo daquele artista. E mostra outro caminho: “Há também as oportunidades de adquirir artistas já consolidados com trabalhos pertencentes a séries que lidam com a reprodutibilidade, como as gravuras, os múltiplos, fotografias e serigrafias, por exemplo. Assim é possível encontrar um bom custo-benefício também”.

Adquirir uma obra de arte vai muito além da questão estética. Para

Gorete Thorey

, da Galeria Via Thorey, “as obras de arte, além de trazer vida, beleza e um repertório cultural de quem as selecionou e adquiriu, também proporcionam pequenas experiências. Quem as adquire, passa a conhecer um pouco do universo e do processo criativo dos artistas”.

Antes de começar a adquirir obras de arte, Gorete recomenda pesquisar sobre os movimentos artísticos com os quais se identifica, estudar, visitar museus, galerias e feiras de arte. “Com a facilidade da internet, a pessoa pode ampliar o olhar antes de decidir iniciar uma coleção ou decorar”, conclui.

Uma sala de estar projetada por Marilia Celin contou com algumas obras da galeria. A partir do desejo da cliente de colecionar obras, a arquiteta planejou a integração dos espaços e uma base neutra, como forma de valorizar e destacar as obras.

Os leilões de arte também são outra forma de adquirir uma peça. É uma experiência única e uma chance de ter acesso a obras de diferentes estilos e valores. Além das galerias e dos leilões, quem se interessar por adquirir novas obras, também pode buscar os muitos estúdios e ateliês de arte. Muitos espaços promovem pequenas exposições que ajudam a divulgar o trabalho dos artistas.

O Sindicato dos Artistas Plásticos do Espírito Santo tem hoje mais de 80 associados, que trabalham com variados estilos, técnicas e suportes. Bienalmente, o sindicato publica o catálogo Vitória em Arte, apresentando a produção dos artistas. Há 15 anos, o sindicato coordena o espaço da Galeria Virgínia Tamanini, onde apresenta, nas diversas exposições que promove, o trabalho de artistas capixabas, dando espaço também para jovens artistas.

Para Celso Adolfo, artista plástico e presidente do SINDIAPPES, “a presença da obra de arte sempre desperta alguma coisa na gente, desperta memórias, sensações, curiosidades, inquietações. Conviver com uma obra de arte é muito enriquecedor. A gente cria relações com as obras de arte”.

Do alto dos seus 38 anos como marchand da galeria Ana Terra, agora Escritório de Arte, Ana Coeli Piovesan tem longa experiência e paixão por esse universo. Seu conceito da arte se resume a bom gosto, cultura e investimento. “Considero fundamental a presença de obras de arte na decoração e na vida de uma casa e de uma família. Assim como a literatura, a música e outras manifestações do espírito, a peça de artes plásticas valoriza o ambiente e a vida”.

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