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Lições para levar uma vida mais simples

Lições para levar uma vida mais simples

Histórias de gente que busca felicidade nas pequenas coisas

Publicado em 28 de abril de 2018 às 21:53

Leveza na vida Crédito: Bernardo Coutinho

Comprar demais, acumular coisas demais, inclusive mágoas. Viver o estresse no trânsito diário. Ter encontros mais no meio virtual. É só trabalho, trabalho, trabalho. É só dieta, dieta, dieta. Você sente que a vida está muito complicada e que é preciso simplificar um pouco? Então, bem-vindo.

Há pessoas que estão, aos poucos, indo por outro caminho. Não se trata de nenhum movimento organizado, nem há receita pronta. Mas tem gente saindo em busca de um novo estilo de vida, com menos compromissos, menos consumismo, menos ostentação, menos tecnologia. Mais simplicidade.

“Não é largar tudo e ir morar como um ermitão. Isso é legal, tem até gente que faz essa escolha. E que seja feliz! Mas não é preciso ser radical. Cada um escolhe seu caminho e vai fazendo suas adaptações, sem precisar policiar ninguém ou querer que todos pensem como você. A virtude é o equilíbrio”, diz o médico Manoel Rocha, que escreveu sobre o assunto na sua coluna, na Revista AG, no início do mês.

Com 37 anos na profissão, doutor Manoel não é do tipo que só faz discurso. “Escolhi viver com mais simplicidade. Não é parar de fazer suas atividades, porém levar a vida com outro olhar, outro foco. Eu, por exemplo, decidi não ter casa própria e ficar com carro popular. Tenho três filhos e quis que eles viajassem bastante, que pudessem conhecer o mundo, ver como ele funciona”, conta.

A empresária Julia Bottecchia, 28 anos, também já viajou bastante. Formada em Relações Internacionais, foi morar fora. Mas acabou encontrando a felicidade perto de casa, onde abriu um brechó com um nome que diz tudo: Desapegue.

“Me desencantei com a profissão. Mas voltei com outra cabeça da Alemanha, onde eles são muito conscientes com relação ao lixo. Lá você paga pelo lixo que produz a mais e é multado se não colocar o lixo no local certo. Mudei minha forma de encarar as coisas e passei a me preocupar com essa questão. No meu banho, por exemplo, guardo a água para reutilizar”, relata a jovem.

CONSCIÊNCIA

Mais do que ter uma loja, Julia idealizou um modo de viver mais consciente, e está ajudando a propagar essa ideia de sustentabilidade. “O ‘Desapegue’ nasceu no ano retrasado na minha vontade de me livrar das coisas que eu não estava usando. Fiz um bazar com amigas e foi superlegal. Continuei fazendo e vi que era transformador para quem deixava as roupas”, conta ela, que, como parte das mudanças, trocou o carro pela bicicleta.

E você, já se perguntou se está colocando suas energias e se torturando para ter coisas supérfluas, como o celular mais moderno, a roupa mais cara? Será que não é hora de desapegar de alguns desses desejos também e ficar apenas com o que realmente é necessário? Pode ser libertador.

“É POSSÍVEL VIVER COM MENOS”

Não ter casa própria, carro, nem televisão em casa. E não por falta de condições financeiras, pelo contrário. Em nome de um estilo de vida mais simples, abrir mão disso tudo e mais um pouco por entender que não é nesse tipo de coisa que está a felicidade.

“Já tive esse tipo de apego quando era mais novo e morava no interior no Estado. Vim para Vitória estudar Psicologia, e o curso abriu minha cabeça, me levou a questionar certos padrões sociais. Consegui pautar algumas escolhas”, conta Ernesto Rabello, 28 anos, que é psicólogo, professor de ioga e massoterapeuta.

Pessoas como Ernesto, que poderiam usar o dinheiro que ganham com o suor do trabalho para ter certos luxos, conseguem resistir às tentações de consumo. “Isso me deixa tranquilo, com menos pressão de ter que trabalhar muito e me desesperar de trabalhar para conseguir coisas. Compro roupa uma vez por ano e cuido bem do que tenho”, diz.

Não depender de tantos bens o deixa livre para estruturar uma rotina mais leve. E sem a culpa pesando sobre os ombros.

“Não me imagino trabalhando num escritório para ganhar o triplo do que ganho. Já pensei sobre isso no início da carreira. Mas a tranquilidade que tenho não tem preço. Sou privilegiado e posso escolher meus horários de trabalho. Posso ir à praia pela manhã, nadar no mar e ir trabalhar mais tarde”, relata Ernesto.

ESCOLHA

Ele garante que dá para viver com menos, uma lógica que muita gente não consegue entender. “Escolher trabalhar menos, aos olhos da sociedade, pode parecer que você quer ser menos competitivo, que não é ambicioso o suficiente. Muitos se pautam por esses valores: você tem que ganhar dinheiro e ser o melhor. Fazer outra escolha, na contramão disso tudo, não é fazer uma escolha menos feliz, pelo contrário. E tenho minhas ambições, só que elas estão ao alcance das minhas mãos”.

Restaurantes refinados também não fazem parte da rotina do psicólogo. A rotina, aliás, é equilibrada. “Gosto de ir à feira, fazer minha própria comida.”

Médica com atuação em Medicina Preventiva Integrativa, Maitê Honczaryk Cesar acredita que o simples é sempre a melhor das opções, inclusive na alimentação. “Não acredito em dietas restritivas se a alimentação é saudável, com comida de qualidade. A embalagem que a natureza nos deu é melhor do que a que vem em pacotinhos”, afirma.

Para a especialista, que vive em Curitiba, esse estilo de vida desconectado com o ritmo da natureza e com excessos - de trabalho, de tecnologia, de comida - tem nos afastado das nossas essências.

“Por isso, gosto da ideia do ‘slow living’, que prega o desacelerar, ficar com o essencial. Não é ser devagar, não trabalhar, muito pelo contrário. É viver a vida com calma, prestando atenção no que fazemos, na comida que comemos, sentir o gosto e o cheiro das coisas”, diz.

JEITO LEVE DE VIVER

Consuma menos

Será que vale a pena empreender tanta energia e tanto dinheiro para trocar de celular a cada seis meses, para ter o carro do ano, a roupa mais cara? Compre objetos de qualidade, mas cuide deles para que durem. Tornar tudo tão descartável pode não estar fazendo bem para o planeta onde você vive. Repense seus hábitos de consumo. Ostentação é “old fashioned”! Pense de forma sustentável. A sustentabilidade é o melhor dos modismos, acredite! Os mais antenados já perceberam isso

Outras escolhas

Em vez de juntar dinheiro só para ter bens de consumo, por que não viajar mais, comprar ingressos para assistir a shows de bandas que você adora? Quem faz essa escolha costuma ter experiências incríveis e transformadoras

Doe mais

Para quê acumular o que não tem mais serventia? Organize sua casa: separe jornais, revistas, roupas, brinquedos, calçados e outras coisas que você não use e faça doações para brechós ou instituições de caridade

Tire mais tempo para você

Será que na sua rotina atribulada não há espaço para descanso, ócio, lazer ou para uma atividade física? Viver só de trabalho só fará você adoecer e viver menos. Reveja seus valores

Fique menos on-line

Suas principais conversas estão no meio virtual? Hora de reavaliar isso! Até sua saúde física e emocional podem ser afetadas pelo excesso de tecnologia. Tire um pouco os olhos da tela. Passeie mais, procure ter mais tempo com amigos e familiares, construa laços e cultive relações, questões realmente essenciais na vida

Tenha uma alimentação mais simples

Já está comprovado que dietas radicais, muito restritivas, não dão certo a longo prazo. Busque saúde, mais do que a boa forma. Coma comida de verdade, faça seu próprio alimento. A receita para um corpo saudável não está num pote de suplemento fitness caríssimo. 

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