Publicado em 2 de fevereiro de 2018 às 19:21
Uma noite mal dormida é quase sempre sinal de um dia péssimo pela frente. E quem costuma brigar com o travesseiro já deve ter percebido os efeitos disso no dia a dia, que vão muito além do mau humor e daquele bocejo sem fim. O sono ruim é capaz de afetar sua saúde, sua beleza e ainda aumenta o risco de você sofrer um acidente de trânsito ou até perder o emprego.>
Tanta dificuldade para dormir fez da psicóloga Naiara Roncarati, 37 anos, uma especialista em sono. Ou melhor, na falta dele. Durmo mal há muitos anos, desde o final da adolescência. É uma insônia que crônica que me acompanha, conta.>
A insônia que martiriza a Naiara é um pesadelo comum para cerca de 40% das pessoas, segundo estima a Organização Mundial de Saúde. No caso da psicóloga, o problema tem um nome: ansiedade. Parece que quando deito minha ansiedade se manifesta. Fiz vários exames e tratamentos para insônia. Sinto que quando faço atividade física, terapia e tomo remédios durmo muito melhor. Mas não resolve totalmente e já estou me habituando a dormir pouco, diz ela.>
Ter insônia vez ou outra é normal, segundo o neurologista e professor da Faculdade Ipemed de Ciências Médicas, em São Paulo, Flávio Sekeff Salen.>
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Todo mundo vai ter isso uma vez na vida. Ninguém dorme direito sabendo que não tem como pagar uma conta, que o cônjuge quer o divórcio... As maiores causas de insônia são o estresse, a depressão e a ansiedade. Por isso, se o problema ocorre quatro, cinco dias seguidos, é bom procurar ajuda, não esperar isso piorar porque as consequências para a saúde são graves, observa o médico.>
E dormir muito nem sempre é sinônimo de sono bom, como destaca a pneumologista e especialista em Medicina do Sono, Simone Prezotti. Às vezes, a pessoa dorme muitas horas, mas não é um sono reparador. É um sono leve, fragmentado, com presença de muitas doenças relacionadas que vão diminuir essa qualidade do sono. Se a pessoa sente sonolência ao longo do dia, cochila até em cima da cadeira do trabalho, é sinal de que o sono à noite não está sendo suficiente, em quantidade e qualidade.>
Estudos já relacionaram a falta de sono com problemas de memória e aprendizado. O sono tem uma função de fazer uma espécie de limpeza no organismo. Ele auxilia a moldar as sinapses, que são as ligações entre os neurônios, e ajudar a preservar as memórias. Por isso, pessoas que têm noites de sono bem dormidas conseguem se lembrar melhor das coisas no dia seguinte, explica o neurologista.>
Por isso, sem dormir direito é difícil ir bem nos estudos ou ser um bom profissional. Quem não dorme bem fica sonolento, mau-humorado, desatento. Não se relaciona bem com colega de trabalho, não produz tanto, não vai desempenhar bom papel no trabalho. Isso pode levar à perda do emprego, cita Simone Prezotti.>
A falta de sono pode ser arriscada em muitos sentidos. Pesquisas mostram que cerca de 20% dos acidentes de trânsito no país estão relacionados ao cansaço e a distúrbios de sono.>
Quem sofre com isso deve procurar um especialista e investigar a causa do problema, o que a leva a dormir pouco ou a dormir mal, para então resolver de maneira definitiva, alerta a médica.>
O servidor público Mário Cláudio Simões, 49 anos, tirou o café no final da tarde e acrescentou a caminhada. Tudo para ter uma noite melhor de sono. "Mudei uma série de hábitos. Não melhorou 100%, mas durmo um pouco melhor", diz ele.>
Mau humor na certa>
Irritação, falta de ânimo, péssimo humor. A falta de sono inibe a produção de alguns hormônios relacionados ao prazer e ao bem-estar, como é o caso da serotonina. E ainda: numa noite maldormida, a pessoa descarrega neurotransmissores que geram esse mau humor>
Sexo ruim>
Quem dorme mal tem a libido afetada. É fácil entender. Além do cansaço, que tira muito da vontade de fazer sexo, tem também outra questão: a privação de sono causa a interrupção da liberação da testosterona, hormônio sexual masculino que homem e mulher produzem nas fases mais profundas do sono. Se o sono está ruim, há uma queda na produção de testosterona afetando o desejo sexual>
Vivendo doente>
Quem costuma dormir mal sente uma queda na imunidade, facilitando a ocorrências de várias doenças, como gripes, resfriados. Acontece que o sono tem a função de regular nossas funções fisiológicas, incluindo a imunidade. O sono reparador, ao contrário, restaura o organismo, deixando-o equilibrado, mais saudável>
Alimentação piora>
Quem dorme mal dificilmente tem disposição para se exercitar. Só aí já existe um motivo para engordar. Mas não é só isso. Estudos relacionam o sono ruim com a obesidade. A falta de sono causa uma alteração no metabolismo, levando o organismo a produzir substâncias que aumentam a fome e diminuem a saciedade. Ou seja, você tende a comer mais>
Maior risco de acidentes de trânsito>
Sem dormir adequadamente, sua atenção vai para o beleléu. Você fica sonolento o dia inteiro e pode correr riscos em situações que exigem concentração. Cerca de 20% dos acidentes de trânsito no país estão relacionados ao cansaço e a distúrbios de sono. Dados da Fundação Nacional do Sono mostram que a insônia aumenta em 250% o risco de acidentes de trânsito. Quem sofre de apneia do sono tem esse risco é elevado para 700%>
Risco de demissão>
Você não consegue se concentrar, vive sonolento, cansado, irritado... Bom, é certo é você terá seu desempenho no trabalho comprometido. A falta de sono afeta a capacidade de aprendizado, afeta as relações interpessoais. Há um risco grande de perder o emprego>
Mais rugas>
Não são só as olheiras que dão as caras em quem dorme mal. Quem sofre desse problema pode envelhecer antes da hora. Isso porque é durante o sono que o organismo faz uma desintoxicação e recupera os tecidos. Estudos apontam que a falta de sono crônica faz com que o corpo não produza substâncias que são calmantes, reparadoras, e libere o cortisol, por exemplo, ligado ao estresse e maior causador da formação de radicais livres. E liberação de radicais livres significa, grosso modo, ganhar rugas>
Perigo para o coração>
Até seu coração sofre quando seu sono não é bom. Um estudo feito na Noruega mostrou que ter insônia pode triplicar o risco de uma pessoa sofrer insuficiência cardíaca. Outras pesquisas apontam que dormir menos de cinco horas por noite, por exemplo, aumenta em cinco vezes o risco de ter pressão alta, um dos principais riscos para infarto.>
Aconchego>
Prepare o ambiente para dormir: tenha um bom colchão, um bom travesseiro, deixe seu quarto organizado e silencioso. Vá diminuindo as luzes, deixe uma temperatura agradável>
Evite estímulos>
Antes de ir dormir, evite cafeína presente em várias bebidas, se isso costuma te deixar mais ligado. Álcool também afetam o sono. Tenha uma alimentação leve, de fácil digestão>
Celular, não>
As telinhas são vilãs do sono. Pelo menos 2 horas antes de ir dormir, pare de mexer com celular e tablet. A luz que esses aparelhos emite engana o cérebro, fazendo-o entender que ainda é dia>
Mantenha uma rotina>
Procure ir dormir sempre mais ou menos no mesmo horário. Isso faz com que o cérebro vá aprendendo a hora do sono>
Relaxe>
Adote alguma técnica relaxante antes de dormir. Pode ser um banho morno, ler um livro, bordar, escutar música ou meditar. Isso pode ajudar o sono a engatilhar>
Faça exercícios>
Exercitar-se com regularidade pode reduzir a ansiedade e melhorar a qualidade do sono. Só evite fazer atividades à noite, o que pode agitar mais>
Procure um médico>
Todo mundo vai ter insônia pelo menos uma vez na vida. Mas se o problema dura quatro, cinco dias, é hora de procurar ajuda. Acima de 14 dias sem dormir, acende o sinal de alerta para algo crônico>
Pílulas, só com indicação médica>
Quase 10% da população faz uso de medicamentos para dormir, ou seja, isso representa 11 milhões de brasileiros. Não se medique sozinho pois o efeito pode ser o contrário e seu sono piorar ainda mais>
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