Publicado em 16 de março de 2018 às 19:46
Relógios, pêndulos balançando, sons repetidos em uma mesma frequência... Há quem acredite que a hipnose não passa de um truque de mágica ou até mesmo enganação, mas poucos sabem que, além de ser uma maneira de acessar o nosso subconsciente, ela pode curar traumas, medos e até doenças. A técnica voltou às discussões depois que foi usada da novela O Outro Lado do Paraíso, da Globo. Na trama, a personagem Laura faz uma regressão durante uma sessão de hipnose e descobre que foi abusada pelo padrasto.>
Justamente por acessar o subconsciente, muita gente fica com receio de se submeter a técnica. Existe algum perigo? E se eu não voltar mais do transe? Vou ficar inconsciente? Faz mal pra saúde? Mas especialistas no assunto garantem que utilizada da maneira correta com profissionais qualificados, ela só traz benefícios.>
Há muitos anos, um psiquiatra chamado Milton H. Erickson, o pai da hipnose ericksoniana, criou um método personalizado de atendimento baseado em metáforas e linguagem direta. Erickson estreitava o seu relacionamento pessoal com os pacientes e, muitas vezes, os tratava sem que eles percebessem. A Hipnose Ericksoniana, inspirada nos estudos de Erickson e também conhecida como Moderna ou Naturalista, é somente um dos vários tipos de hipnose que existem.>
O psicólogo especializado em neurociência e hipnose clínica Rogério Castilho explica que o método pode ajudar na cura de traumas, medos e no tratamento de doenças. Eu trabalho com a hipnose clínica, que é de uso terapêutico. Trato pacientes com depressão, ansiedade, insônia, estresse, medos, entre outros problemas, explica.>
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Castilho fala que este é um processo de rebaixamento do senso crítico e acesso ao inconsciente, em que a pessoa que está guiando a sessão o hipnotizador dá as coordenadas para o hipnotizado e faz com que ele entre em transe.>
Há quem fique totalmente consciente, há quem fique semiconsciente e há quem "apague" totalmente. Entretanto, em todos os casos é sempre o hipnotizado quem manda na sessão. Se o hipnotizador sugerir algo que vá contra os valores da pessoa, ela desperta, explica o psicólogo. Segundo Castilho, um dos principais objetivos da hipnose clínica é melhorar a qualidade de vida das pessoas. Ela é muito utilizada para ajudar o paciente a superar traumas, ansiedade, depressão... Em casos específicos também é possível trabalhar com a regressão ir até a causa do problema e descobrir a origem dos sentimentos por meio de sugestões positivas o que aconteceu na novela.>
Menos cobrança>
Uma mulher de 36 anos, que prefere não se identificar, contou sobre como conheceu a hipnose. Ela diz que começou a hipnoterapia há um ano e meio, em um momento de grande tristeza e muitas incertezas. No segundo mês do tratamento, ela garante que já conseguia enxergar a tristeza de outra perspectiva, assim como as incertezas.>
O exercício de autocura nas induções me ajudou a lidar com questões incômodas de uma forma relativamente rápida e bastante efetiva como em nenhuma outra terapia que tentei antes. Passei a prestar atenção em hábitos que me atrapalhavam, e a me perceber, me reconhecer e me compreender. Hoje me cobro muito menos e digo até que pela primeira vez na vida tenho me amado de verdade. O mau humor do dia a dia foi embora logo nos primeiros meses, e hoje minha alegria impressiona quem convive comigo diariamente. Sou outra pessoa, eternamente grata à experiência que a hipnose me traz, relata.>
A psicóloga e hipnoterapeuta ericksoniana Sara Casteluber caracteriza a hipnose como um estado alterado de consciência ou estado alterado especial, em que o paciente fica acordado o tempo todo, experimentando sensações e, quem sabe, recordando de algumas imagens do passado.>
Sara conta que durante a sessão, podem acontecer fenômenos hipnóticos, como sensação de anestesia, analgesia, regressão e catalepsia.>
Segundo a psicóloga, utilizar elementos materiais para a indução é uma escolha do hipnotizador podem ser utilizados pêndulos ou relógios. A hipnose é feita sob medida porque cada paciente traz um conteúdo. O hipnotizador utiliza desses conteúdos para conduzir a sessão hipnótica, explica. Fazemos a indução por meio da conversa hipnótica, em que utilizamos a linguagem do paciente. Expressões, gírias. O nome dessa técnica é rapport e a intenção é o estabelecimento de vínculo pela escuta ativa.>
Estado de relaxamento>
Em tratamento hipnoterapêutico há quase um ano, M, de 21 anos, conta que ter um vínculo especial e se sentir confortável com o profissional que realiza a hipnose é algo fundamental. A hipnoterapeuta que me trata sempre me diz e vive repetindo: eu mesma tenho as ferramentas necessárias pra resolver o que eu preciso resolver. Eu tenho o que eu preciso para me ajudar. Ela só me ajuda a chegar até essas ferramentas, explica. Ela conta que, durante a sessão, fica em um estado entre a consciência e a inconsciência, um estado de relaxamento em que é possível imaginar tudo que é falado.>
Parece que a minha mente trabalha de forma mais clara para resolver determinado problema que preciso lidar. Depois que termina e eu abro os olhos, parece que minha visão fica mais nítida e clara. Algumas vezes, a sensação é de leveza, quase flutuante. Ao contrário do que algumas pessoas pensam, eu tenho controle durante toda a sessão, conclui.>
Medo de avião>
O auditor Wendell Cardoso da Silva, 36, sempre teve medo de avião. Ele trabalhava em uma empresa de telecomunicações em São Paulo e um dia acabou perdendo uma reunião em Brasília porque não conseguiu entrar na aeronave. Entrei na fila do check in e desisti de viajar. Entrei na fila novamente e, chegando a minha vez, desisti mesmo. Fiquei bem chateado. Decidi procurar ajuda.>
Ele já conhecia um profissional que faz a hipnose, mas não acreditava no tratamento. Achava que era armação, mas um amigo me falou sobre o método e disse que era válido. Wendell decidiu, então, passar por uma sessão. Na primeira ele fez algumas perguntas e na segunda já se submeteu à hipnose. Fiquei assustado, porque depois da segunda sessão o profissional disse que eu já poderia voar. Achei impossível que em uma hora ele resolvesse o meu problema. Mas tinha uma viagem marcada que seria o grande teste. Entrei no avião e sentei sem taquicardia e sem suar nas mãos e nos pés. Da decolagem até o pouso foi tudo tranquilo. Foi a primeira vez que pousei lendo uma revista, e sem pânico. Fiquei realmente impressionado. Desde então já fiz várias outras viagens e sempre é tranquilo. É só mais um voo.>
Hipnose revelou caso de pedofilia>
A personagem Laura, da novela O Outro Lado do Paraíso, da Globo, tinha um trauma de infância, mas não conseguia se recordar especificamente do que se tratava. Ela vivia com um sentimento de angústia e repulsa de relações sexuais. Na novela, quem tratou a paciente foi uma advogada especializada em coaching - o que não é indicado. Apesar disso, na trama, em uma sessão de hipnose regressiva, foi constatado que Laura havia sido violentada quando criança pelo padrasto. Além de auxiliar e até curar diversas doenças, na hipnose também existe uma vertente em que é possível auxiliar em investigações criminais. A hipnose forense é uma técnica que tem sido cada vez mais utilizada por profissionais da área de criminalística para obter informações durante uma investigação, detalha Rogério Castilho.>
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