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Filosofia de vida: como vivem os veganos?

Filosofia de vida: como vivem os veganos?

Com crescimento de 40% ao ano, o veganismo conquista cada dia mais adeptos, os consumidores de comida, roupas e cosméticos que evitam a exploração de animais

Publicado em 12 de janeiro de 2018 às 17:59

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Clarisse Merlo faz produtos veganos criativos. (Edson Chagas)

Cinco milhões de brasileiros não consomem produtos de origem animal na alimentação, vestuário e cosméticos. A procura pelo termo “vegano” no Google cresceu quase 1000% nos últimos cinco anos. É o que mostra um estudo divulgado pela Sociedade Vegetariana Brasileira, com números de um grupo que cresce em relevância e também consome bastante. Simpatizantes da causa ou apenas atentos à demanda crescente, pequenos e médios empresários vêm investindo alto nesse promissor nicho de mercado, que, calcula-se, cresce 40% ao ano.

O vegano deixa de ingerir queijo, leite, carne e ovos, substituindo esses alimentos por produtos da terra, como castanhas, leguminosas, frutas e verduras. Quem é vegano também não compra roupas, sapatos e cosméticos produzidos com material animal ou testados em animais. Mas o que leva essas pessoas a mudarem completamente seu estilo de vida, deixando de comer e consumir igual à maioria da população?

Para os adeptos deste estilo de vida, o veganismo é um ato de amor, de enxergar o animal como um amigo. A chef Clarisse Merlo, que produz e vende alimentos “sem crueldade”, conta que decidiu parar de comer carne aos 10 anos. “Comecei a fazer amizade com os bichinhos no sítio dos meus avós, e depois de um tempo percebi que eles não estavam mais lá, pois tinham virado comida”, conta. Ela não se sentia bem com a situação, e decidiu que não queria ver aqueles animais na panela.

É nas redes sociais que os novos e antigos veganos têm se comunicado e trocado experiências. As plataformas online também são essenciais para quem precisa divulgar seu negócio e conquistar novas pessoas para a causa.

Gastronomia vegana

Dona Odete Merlo não teve a dificuldade que muitas mães têm para fazer os filhos comerem coisas saudáveis. “A Clarisse comia verduras, frutas, ia no supermercado e ficava procurando por produtos veganos. Começou a cozinhar cedo, experimentava novas receitas”, conta a mãe. Clarisse é Chef Vegan desde o ano passado.

A empreendedora produz diariamente produtos veganos criativos por encomenda, e atende a um público variado. “Não são apenas veganos que me procuram. Eu atendo muita gente intolerante a lactose, por exemplo, que quer poder comer coisas diferentes. Mas meu objetivo é mostrar que o vegano não come sempre a mesma coisa”, conta ela que produz coxinha, bolos e tortas.

De segunda à sábado, a partir das 11 horas, Renata Penna, 46, recebe seus “filhos” para almoçar no restaurante Mãe Divina, em Vila Velha. Ela e as sócias Flávia Requiere e Maite Belesa investiram em um espaço com ambiente simples e aconchegante, para servir uma comida totalmente vegana e “mostrar a possibilidade de continuar comendo bem, experimentando todos os sabores e temperos, mas de uma forma mais ética e sem sofrimento envolvido”, conta Renata.

Ela conta que a relação do restaurante com os clientes nas redes sociais é de maternidade mesmo: “Nossas postagens são carinhosas, mas também damos bronca quando os clientes se alimentam mal. A relação nas mesas também é assim, quando alguém não gosta a gente substitui o alimento.”

Segundo Renata, todos os dias o restaurante recebe novos clientes interessados em conhecer o veganismo. “Há uma procura grande no nosso Estado. Não é mais moda, as pessoas estão em busca de uma alimentação diferente. Nossa intenção é que elas percebam que não são necessários ingredientes de origem animal para comer algo gostoso.”

Dieta vegana e as mudanças no corpo: mais energia

É na feira que a médica Marcela Uliana encontra sua alimentação. (Fernando Madeira)

Quem deixa de comer alimentos de origem animal para acabar com o sofrimento dos bichos não pode esquecer: o corpo humano também precisa de atenção com a nova dieta. A médica Marcella Uliana, que é vegana e especialista em saúde integrativa, explica que a flora bacteriana do intestino - responsável pela saúde da nossa digestão - muda bastante quando carnes e derivados são retirados do menu.

“As bactérias que fazem a digestão de carnes e queijos são diferentes das que fazem digestão de plantas. A maior parte das pessoas percebe uma melhora, o intestino funciona com mais frequência”, pontua. Marcela também conta que alguns pacientes sentem que têm mais energia na dieta vegana, já que a digestão de produtos de origem animal é mais lenta e demanda mais esforço do organismo. “Muitas pessoas também falam que se sentem mais calmas. Uma das explicações é a tranquilidade do intestino, que trabalha menos na dieta vegana”, completa.

E a proteína?

Apesar dos benefícios da dieta vegana, é preciso estar sempre atento às necessidades do organismo. Marcela alerta que existem dois tipos de vegano: o que baseia a alimentação em plantas, folhas, alimentos naturais e integrais, e aquele que consome produtos industrializados, como biscoitos e refrigerantes, e frituras em excesso.

“Muita gente deixa de comer carne e desconta tudo no carboidrato. Desse jeito pode vir a sentir muito mais fome, comer muito arroz, macarrão, batata. Não é o objetivo da alimentação vegana”, ensina. Ela enfatiza que para manter a saúde em dia é preciso ter uma dieta rica em produtos da terra, o que é totalmente possível com a variedade em grãos, hortaliças e frutas encontradas no Brasil.

Para quem acha que o vegano não consome a quantidade certa de proteína, a médica revela que uma xícara de feijão tem 17 gramas de proteína, enquanto um bife, se não for muito frito, tem 20. “Couve, brócolis, espinafre, lentilha, grão-de-bico, todos esses alimentos têm uma grande quantidade de ferro. A quinoa tem mais cálcio que o leite e mais ferro que a carne, a chia e a linhaça têm tanto ômega 3 quanto os peixes”, completa.

Consumo engajado

Lorena Honorato é adepta de vários produtos de beleza veganos. (Ricardo Madeiros)

Foi após um intercâmbio nos Estados Unidos, no final de 2014, que Lorena Honorato, 23 anos, virou vegetariana. “A dona da casa que recebia os intercambistas era vegetariana. Ao longo dos meses conversamos muito sobre o assunto, ela me explicou seu ponto de vista sobre o vegetarianismo aliado à sustentabilidade, saúde e espiritualidade e percebi uma sintonia. Chegando no Brasil, decidi pesquisar mais sobre o assunto e realmente me identifiquei com o estilo de vida”, conta.

Com isso, os produtos de beleza acabaram sendo uma das muitas consequências desde que ela passou a ser - e exigir - mais consciência de tudo o que fazia. “Também passei a pensar mais sobre os impactos gerados a partir das minhas escolhas. Na verdade eu já gostava de consumir produtos mais naturais antes mesmo de parar de comer qualquer tipo de carne, e a partir dai só potencializou”.

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Atualmente, entre os cosméticos veganos que ela consome, tem xampu, condicionador, hidratante, maquiagem, sabonete, demaquilante e até pasta de dente. “Acredito que assim como quando mudei minha alimentação, passei a dar mais valor a tudo o que de certa forma me deixava mais próxima à natureza. Os produtos veganos geralmente são mais leves, não agridem a nossa pele, mesmo as mais sensíveis, e não trazem crueldade animal na composição”, ressalta ela, que compra os produtos em lojas de cosméticos comuns, pela internet ou em viagens para fora do país. “É automático ler todos os rótulos”.

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