Publicado em 25 de outubro de 2019 às 20:58
Após divulgação do caso de Luiza Freitas, uma mulher que conta ter engravidado mesmo tendo um órgão sexual masculino, a Reportagem de A Gazeta conversou com especialistas para esclarecer se há de fato hermafroditismo humano, buscando tirar dúvidas dos internautas. No entanto, o assunto, aqui analisado no viés biológico, encontra vertentes individuais e sociais que também devem ser consideradas, considerando que todo caso é particular para a situação de cada pessoa. >
De acordo com o biólogo e professor de Biologia, Michel Batista, Hermafrodita humano no significado mais puro da palavra não existe, porque a ideia do hermafrodita está ligada ao indivíduo que consegue se reproduzir com o masculino e com o feminino. Apesar disso, existe uma condição na espécie humana que é chamada de hermafroditismo verdadeiro, em que o indivíduo apresenta tecido masculino e feminino, testicular e ovariano, mas não consegue se reproduzir como homem e como mulher, iniciou a explicação.
Para Paulo Vitor Scherrer, também biólogo e professor, é possível falar em hermafroditas parciais. O caso dos dois sistemas completamente formados não existe na nossa espécie. Só um órgão será capaz de produzir gametas, ou seja, a pessoa só tem ou ovário ou testículo. É possível ter a vagina e o pênis, por exemplo, mas não tem os dois sistemas completos. E o que gera o hermafroditismo parcial é o desenvolvimento embrionário, não existindo questão cromossômica atrelada, relatou. >
Este conceito envolve a homologia, que trata de diferentes organismos com mesma origem embriológica. Nesse sentido, o sistema masculino e o feminino são homólogos, tendo a mesma origem embrionária, não podendo existir ao mesmo tempo. De forma mais simples: testículo e ovário têm a mesma origem, não podendo ser desenvolvidos os dois simultaneamente. No mesmo sentido, nunca pode haver clitóris e pênis ao mesmo tempo em uma mesma pessoa. >
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A Biologia explica o conceito de intersexo como pessoas que desenvolvem, em parte, as características do feminino e, em parte, do masculino. >
Segundo Scherrer, a própria ideia do hermafroditismo está inclusa no conceito de intersexualidade. Existem algumas síndromes cromossômicas que levam ao desenvolvimento de características dos dois, como nos casos da Síndrome de Turner e de Klinefelter, em que pode haver mulheres e homens com algumas características do outro sexo biológico, por exemplo, um homem que desenvolve mama. Nestes casos não há hermafroditismo, mas intersexo. Vale lembrar que isso tudo é muito diferente da questão do gênero não binário, que envolve quem não se reconhece na sociedade nem com o sexo feminino nem com o masculino. Isso já é uma questão social e individual, descreveu.
Nos casos de seres humanos, conforme explicou o especialista, não há propriamente a possibilidade de escolha de um dos sexos, nos casos de quem nasce com ambos. O que acontece é que a pessoa só tem um órgão produtor de gametas, ou seja, apenas um sistema mais desenvolvido. O que define um homem e uma mulher, biologicamente, são os cromossomos. Em geral, existe um sistema predominante, de determinação cromossômica (ou XX ou XY) e pequenas partes de outro sistema desenvolvido, então o que vai determinar é qual é o mais desenvolvido, disse. >
Como é um problema no desenvolvimento embrionário, em geral, existe a intervenção cirúrgica para tratar, feita geralmente na infância, quando a pessoa nasce ou pouco tempo depois. Mas isso depende de cada caso. Se o indivíduo tiver ovário ou testículo direitinho, conseguirá produzir hormônios sexuais e os gametas na proporção correta. Se for só a questão de hermafroditismo nos órgãos, a intervenção é principalmente cirúrgica. Existem casos em que a pessoa tem a parte genital, ou seja, a parte reprodutora, subdesenvolvidas. Assim, se não produzir hormônios na quantidade correta, terá que fazer terapia hormonal.>
No caso dos animais, Scherrer explica que existem alguns que são hermafroditas, com os dois sistemas completamente desenvolvidos. Nestes casos, o masculino e o feminino não são homólogos, como é o caso das minhocas. Aquelas do jardim são sempre hermafroditas. Existem outros que também podem ser, como os caramujos, as esponjas do mar e outros seres vivos, inclusive plantas que podem ser hermafroditas, finalizou. >
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