Após divulgação do caso de Luiza Freitas, uma mulher que conta ter engravidado mesmo tendo um órgão sexual masculino, a Reportagem de A Gazeta conversou com especialistas para esclarecer se há de fato hermafroditismo humano, buscando tirar dúvidas dos internautas. No entanto, o assunto, aqui analisado no viés biológico, encontra vertentes individuais e sociais que também devem ser consideradas, considerando que todo caso é particular para a situação de cada pessoa.
De acordo com o biólogo e professor de Biologia, Michel Batista, Hermafrodita humano no significado mais puro da palavra não existe, porque a ideia do hermafrodita está ligada ao indivíduo que consegue se reproduzir com o masculino e com o feminino. Apesar disso, existe uma condição na espécie humana que é chamada de hermafroditismo verdadeiro, em que o indivíduo apresenta tecido masculino e feminino, testicular e ovariano, mas não consegue se reproduzir como homem e como mulher, iniciou a explicação.
Para Paulo Vitor Scherrer, também biólogo e professor, é possível falar em hermafroditas parciais. O caso dos dois sistemas completamente formados não existe na nossa espécie. Só um órgão será capaz de produzir gametas, ou seja, a pessoa só tem ou ovário ou testículo. É possível ter a vagina e o pênis, por exemplo, mas não tem os dois sistemas completos. E o que gera o hermafroditismo parcial é o desenvolvimento embrionário, não existindo questão cromossômica atrelada, relatou.
Este conceito envolve a homologia, que trata de diferentes organismos com mesma origem embriológica. Nesse sentido, o sistema masculino e o feminino são homólogos, tendo a mesma origem embrionária, não podendo existir ao mesmo tempo. De forma mais simples: testículo e ovário têm a mesma origem, não podendo ser desenvolvidos os dois simultaneamente. No mesmo sentido, nunca pode haver clitóris e pênis ao mesmo tempo em uma mesma pessoa.
A Biologia explica o conceito de intersexo como pessoas que desenvolvem, em parte, as características do feminino e, em parte, do masculino.
Segundo Scherrer, a própria ideia do hermafroditismo está inclusa no conceito de intersexualidade. Existem algumas síndromes cromossômicas que levam ao desenvolvimento de características dos dois, como nos casos da Síndrome de Turner e de Klinefelter, em que pode haver mulheres e homens com algumas características do outro sexo biológico, por exemplo, um homem que desenvolve mama. Nestes casos não há hermafroditismo, mas intersexo. Vale lembrar que isso tudo é muito diferente da questão do gênero não binário, que envolve quem não se reconhece na sociedade nem com o sexo feminino nem com o masculino. Isso já é uma questão social e individual, descreveu.
Nos casos de seres humanos, conforme explicou o especialista, não há propriamente a possibilidade de escolha de um dos sexos, nos casos de quem nasce com ambos. O que acontece é que a pessoa só tem um órgão produtor de gametas, ou seja, apenas um sistema mais desenvolvido. O que define um homem e uma mulher, biologicamente, são os cromossomos. Em geral, existe um sistema predominante, de determinação cromossômica (ou XX ou XY) e pequenas partes de outro sistema desenvolvido, então o que vai determinar é qual é o mais desenvolvido, disse.
Como é um problema no desenvolvimento embrionário, em geral, existe a intervenção cirúrgica para tratar, feita geralmente na infância, quando a pessoa nasce ou pouco tempo depois. Mas isso depende de cada caso. Se o indivíduo tiver ovário ou testículo direitinho, conseguirá produzir hormônios sexuais e os gametas na proporção correta. Se for só a questão de hermafroditismo nos órgãos, a intervenção é principalmente cirúrgica. Existem casos em que a pessoa tem a parte genital, ou seja, a parte reprodutora, subdesenvolvidas. Assim, se não produzir hormônios na quantidade correta, terá que fazer terapia hormonal.
No caso dos animais, Scherrer explica que existem alguns que são hermafroditas, com os dois sistemas completamente desenvolvidos. Nestes casos, o masculino e o feminino não são homólogos, como é o caso das minhocas. Aquelas do jardim são sempre hermafroditas. Existem outros que também podem ser, como os caramujos, as esponjas do mar e outros seres vivos, inclusive plantas que podem ser hermafroditas, finalizou.
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