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Elas resolveram se libertar da pílula

Elas resolveram se libertar da pílula

Entenda o que tem levado mulheres a buscar outro método contraceptivo. Beatriz Gaudio, por exemplo, que descobriu as maravilhas de viver sem a pílula

Publicado em 30 de março de 2019 às 12:50

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Beatriz Gaudio, nutricionista, parou de tomar pílula anticoncepcional há um ano e meio. (Marcelo Prest)

As mulheres estão parando de tomar anticoncepcional. E isso não tem a ver com o desejo de engravidar. Mais empoderadas e bem informadas do que nunca, elas comandam um movimento que diz não à pílula, o contrário do que fez a geração anterior, que se agarrou a essa invenção da ciência para viver uma liberdade sexual e social que até então lhes era negada.

Pelos mais variados motivos, cada vez mais mulheres vão atrás de outros métodos contraceptivos com zero ou quase nada de hormônio, menos efeitos colaterais, menos riscos, mais bem-estar.

Para a endocrinologista Letícia Izoton, é inegável que a pílula teve um papel importante na vida social de toda uma geração, que pôde fazer seu planejamento familiar, inserir-se no mercado de trabalho e crescer profissionalmente. Mas os tempos são outros.

“Apesar de observarmos, ao longo dos anos, um aumento de doenças crônicas, como diabetes, obesidade e câncer, existe também um movimento contrário, de pessoas que estão buscando mais saúde. E elas buscam a saúde na sua forma mais plena: não querem simplesmente não ter doença, querem viver com qualidade de vida, se sentir bem”, analisa a médica.

Libido

O empoderamento feminino também explica muito essa tendência. “As mulheres estão falando mais abertamente de sexualidade, buscando prazer na relação sexual, algo que a pílula acaba atrapalhando, por causa da queda da libido”, destaca Letícia.

Diferentemente de suas mães e avós, elas acreditam que a saúde estará melhor sem a pílula anticoncepcional. “Graças à Internet, as pessoas estão se informando melhor sobre os riscos das complicações e os efeitos adversos da pílula. As redes sociais também estão permitindo que elas tenham acesso aos casos. Por exemplo, antigamente você não conhecia alguém que já tinha tido trombose por anticoncepcional. Hoje em dia a gente vê casos e casos. Isso assusta as pessoas e faz com que elas repensem o uso.”

Para a endocrinologista, por muito tempo, a pílula foi prescrita de forma indiscriminada. “A própria classe médica valorizava pouco as complicações, tanto as mais graves e raras, quantos os efeitos adversos, que são menos graves, mas que são mais comuns e têm impacto na qualidade de vida da mulher, como fadiga, indisposição, dificuldade de perda de peso, labilidade emocional...”.

Mesmo assim, o contraceptivo oral continua sendo o método mais prescrito nos consultórios ginecológicos. “Alguns anos atrás, era o que tinha de mais disponível. Tem um custo baixo. Por

R$ 4, R$ 5 é possível ter acesso à pílula, que é de graça nas unidades de saúde. Muitas mulheres se adaptam e ficam usando ao longo da vida. Sou muito adepta desse método. Mas vejo uma diminuição da prescrição, embora ele ainda seja o mais utilizado no mundo”, comenta a médica ginecologista Madalena Oliveira Bandeira de Mello.

Letícia cita ainda um outro fator que leva a pílula ainda ser muito indicada. “Os progestógenos que vêm na pílula têm múltiplas funções. Por isso, cada anticoncepcional vai ter uma ação diferente no corpo. Um vai gerar mais retenção hídrica, outro aumenta a espinha, enquanto um outro diminui a espinha. A pílula acaba sendo muito buscada por esse benefício secundário. Para meninas que têm acne, por exemplo, é uma ferramenta você lançar mão de um anticoncepcional que é antiandrogênico e que vai diminuir a acne dessa menina”, explica.

Por muito tempo também, ressalta a médica, não foram levados em consideração outros métodos contraceptivos. “Isso tanto por causa de uma certa resistência dos médicos na hora de indicar, quanto pela falta de informação na adolescência, que é a época em que a mulher começa a buscar um método.”

Preconceito

Madalena concorda que alguns médicos atuem desencorajando as pacientes a escolher outra estratégia: “E se o médico tem preconceito em relação a isso, as pacientes não vão conhecer nunca outras opções. Estudos mostram que mais de 30% das mulheres abandonam a pílula quando são bem orientadas.”

Como praticamente toda mulher de sua geração, Beatriz Gaudio, 27 anos, começou a usar anticoncepcional na adolescência. Por seis anos, tomou um comprimido por dia. “Aí, decidi vivenciar o que era a vida de atleta de Bikini Fitness e Fui orientada a interromper o uso da pílula devido a alterações hormonais que poderiam resultar em retenção de líquido, maior resistência na obtenção de resultados de ganho de massa muscular e perda de gordura, mesmo com a dieta e treino. Senti uma diferença muito grande. Faz um ano e meio que parei e nunca mais quis voltar a tomar pílula”, conta ela, que aderiu ao DIU.

"Tive trombose por causa do anticoncepcional"

Era um dia normal de trabalho. Ao acordar, logo cedo, a fisioterapeuta Vania das Candeias Buback, 31 anos, sentiu fortes dores na panturrilha esquerda. De início, ela não suspeitou de nada. “Achei aquela sensação estranha, pois não havia feito nenhum esforço ou qualquer outra coisa que justificasse a dor. Por dois dias, esperei que melhorasse, mas só aumentou. Resolvi procurar um pronto socorro”, contou a fisioterapeuta.

O diagnóstico: trombose. É um dos efeitos colaterais mais temidos por quem toma pílula anticoncepcional. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mulheres que usam contraceptivos orais têm um risco de quatro a seis vezes maior de desenvolver a doença do que aquelas que não utilizam esse método.

A trombose é caracterizada pela formação de um coágulo na corrente sanguínea que pode bloquear o fluxo de artérias e veias de diversas partes do corpo.

Vania, que é casada, tomou a pílula por três anos até ter o problema, em fevereiro do ano passado. “Procurei um angiologista e uma hematologista, fiz vários exames e não conseguimos detectar nada proveniente do meu organismo que tenha causado. Assim, o grande culpado, por eliminação, foi o anticoncepcional”, comentou a fisioterapeuta.

Ela abandonou de vez o anticoncepcional. “No momento, não estou usando nenhum método anticoncepcional. Minha menstruação é bem regular. Estou sentindo menos dor de cabeça no período pré-menstrual também”, garante.

PÍLULA E OUTROS MÉTODOS

Como funcionam as pílulas?

 

Hormônios

Os contraceptivos orais são um medicamento de uso diário que contém hormônios - dois tipos combinados ou apenas um tipo. Sua função é impedir a ovulação, tendo uma eficácia de 98% contra a gravidez indesejada

Vantagens

- Custo baixo ou zero (é de graça nas unidades de saúde)

- Comodidade do uso

- Diminuição de sintomas da TPM (cólica, por exemplo) e outros problemas causados pela desregulação hormonal, como a acne

- Regulação do ciclo menstrual

Desvantagens

- Fadiga e indisposição?

- Retenção hídrica

– Diminuição da libido e lubrificação vaginal

- Dificuldade de perda de peso

- Acúmulo de gordura em quadril e celulite

- Dificuldade de ganho de massa magra

- Enxaqueca e náuseas

- Varizes e pernas cansadas

- Instabilidade emocional e distúrbios psíquicos

E os riscos

Toda mulher pode tomar a pílula se não tiver contraindicações. Em geral, ter idade avançada, acima de 35 anos, ser fumante e/ou obesa são fatores que podem aumentar as chances de complicações, como tromboembolismo, infarto, derrame. Pessoas com certos graus de hipertensão ou doenças como diabetes e enxaqueca com aura, por exemplo, também não poderiam teoricamente fazer uso da pílula

Outros métodos

Várias opções

Além da popular camisinha (nas versões masculina e feminina), há o anel vaginal, o diafragma, o DIU (com ou sem hormônio), injeções e implantes. Sem falar nos métodos mais naturais, como o de Billings e a tabelinha, que são mais arriscados quanto à gravidez

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