> >
'Crianças e adolescentes precisam de limites e frustrações'

"Crianças e adolescentes precisam de limites e frustrações"

O psicanalista Cesar Ibrahim falou sobre os desafios da educação de crianças e adolescentes, durante o primeiro "Encontros do Saber", parceria entre a Rede Gazeta e a Casa do Saber Rio

Publicado em 25 de junho de 2018 às 19:56

Cesar Ibrahim falou sobre os desafios da educação de crianças e adolescentes Crédito: Divulgação

“Nunca se investiu tanto na criança.” “O quarto de muitas crianças é uma verdadeira filial da Disney.” “Precisamos dizer ‘não’ para nossos filhos. Eles precisam aprender a lidar com frustrações.” Essas foram apenas algumas das afirmações do psicanalista Cesar Mussi Ibrahim na palestra “Desafios contemporâneos na educação de crianças e adolescentes”, uma parceria entre a Rede Gazeta e a Casa do Saber Rio, realizada na última terça-feira, no auditório da Rede Gazeta. Para o psicanalista está havendo uma perda progressiva da autoridade, o que é um grave problema já que a disciplina se adquire nos primeiros anos de vida. “Criança precisa de limite”, ressalta ele. Confira alguns trechos da palestra.

“Estamos enviando nossos jovens para uma expedição polar com traje de banho. Estamos enviando nossos filhos para o mundo sem prepará-los”

Primeiros anos de vida

Freud dizia que o que acontece nos primeiros anos de vida da criança, especialmente entre 0 e 5 anos, é determinante para o bem e para o mal. A infância, além de ser o momento em que o trânsito do afeto e o cuidado com a alimentação e higiene são essenciais, também é o momento de observar os micros-acontecimentos do cotidiano, que podem influenciar na saúde ou na patologia. Freud também falava de “a majestade o bebê”. Hoje, o bebê é colocado em um trono pelos adultos que estão a sua volta, é o centro das atenções. Os filhos deixaram de ser obra do acaso e passaram a ser muito desejados. São a razão de existir dos pais, mas é preciso limite.

Escola

Os profissionais da educação infantil têm um papel fundamental nessa tarefa de promover a ideia da inclusão. A escola tem uma grande importância na saúde mental da criança, na medida que tira o sujeito do trono e o coloca na sua condição ordinária. Ele passa a ser apenas mais um dentro da instituição que tem regras universais, e que a criança terá que acatar. Lá suas vontades não serão atendidas como em casa, é a primeira experiência dela com a frustração.

Babás eletrônicas

É mais fácil dar um celular do que dar atenção. Educar dá trabalho, formar seres humanos também. Dá pra entender que os pais querem jantar, chegam do trabalho cansados. Mas não dá pra permiter que os filho passe oito horas na frente do computador, jogando vídeo game, com o quarto escuro, no celular... Enquanto isso, a vida está rolando lá fora. Estamos empurrando as babás eletrônicas para entreter nossos filhos, e isso, no futuro, vai produzir uma repercussão negativa.

Doenças do século 21

Temos um cardápio de possibilidades, de música, de livros, de arte, aplicativos de relacionamentos, mas, curiosamente, estamos vivendo a chamada doença do século 21, que é a depressão. Nunca se assistiu tantas manifestações de pânico e fobias com adolescentes e crianças. E os pais querem uma alternativa mágica para resolver essa questão, que não é simples. E há também um novo fenômeno, que é a Síndrome do fim da série. A gente acaba tendo que trabalhar tudo isso no consultório.

Dependência química

A dependência química não se forma pelas más companhias. Qualquer compulsão, pânico, transtornos alimentares... são efeitos da incompetência dos pais de estabelecer freios psíquicos de restrição ao prazer. Se um jovem é capaz de abrir mão, dolorosamente, de ver TV, de comer batata frita e de beber coca-cola todo dia, dará um passo importantíssimo no controle da dependência química.

“A palavra de ordem é autoridade com ‘A’ maiúsculo. Estamos vivendo a horizontalização da hierarquia"

Horizontalização da hierarquia

Estamos vivendo a educação analgésica. Só que a educação tem que ser dolorida. Aprender dói. A palavra de ordem está longe de ser o diálogo, a palavra de ordem é autoridade, com A maiúsculo. A essência da educação está vinculada a privação e restrição. Educar é estabelecer freios na vida dos filhos. A essência da educação consiste na competência dos adultos de fazer a retirada do trono de sua majestade o bebê. Não se trata de demonizar os avanços e a liberdade, porque são conquistas irreversíveis, mas existem regras. Por exemplo: Só é permitido bebida alcóolica a partir dos 18 anos. Ponto.

Redes sociais

Projetamos uma espécie de imagem de felicidade compulsória que está na maneira que nos relacionamos, especialmente nas redes sociais. Mostramos nossas melhores particularidades, mas nos bastidores é a crueza da miséria humana. É um caminho numa direção bastante perigosa.

PRÓXIMOS ENCONTROS

Encontros do Saber

17/07 – “Relacionamento na Modernidade”, com a psicanalista Sandra Flanzer;

21/08 – “Vitalidade Cognitiva – Caminhos para a conquista de uma memória eficaz”, com a especialista em Geriatria e Gerontologia Tânia Guerreiro;

18/09 – “Amor, Casamento e Felicidade”, com a antropóloga Mirian Goldenberg;

16/10 – “Dicas e Truques”, com a bailarina clássica e pós-graduada em Arte Terapia Micaela Goes.

Letícia Lindenberg e Adriana Zebulun Crédito: Divulgação

“Os palestrantes oferecem um conteúdo de qualidade que ajuda no debate de temas da contemporaneidade. As palestras estimulam reflexões importantes”

Letícia Lindenberg, diretora de Transformação da Rede Gazeta

“O resultado foi além do esperado, e o público, muito qualificado. É ótimo proporcionar conteúdo, mas melhor ainda é sair da palestra com novos questionamentos”

Adriana Zebulun, diretora executiva da Casa do Saber Rio

Gina Strozzi Crédito: Divulgação

“Não raro, um dos pais prefere o filho ao parceiro, mudando o eixo da relação modelo. Que hipoteca desastrosa colocamos nas crianças?”

Gina Strozzi, psicóloga e sexóloga

Este vídeo pode te interessar

  • Viu algum erro?
  • Fale com a redação

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais