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Conheça Guilherme Wentz,designer que conquistou o Brazil Design Award

Conheça Guilherme Wentz,designer que conquistou o Brazil Design Award

Guilherme Wentz trocou a administração pelo design e acabou ganhando prêmios nacionais. De passagem pelo Estado, ele bateu um papo com a gente

Publicado em 12 de dezembro de 2018 às 21:43

. Crédito: Divulgação

Nascido e criado em Caxias do Sul, Guilherme Wentz, 30 anos, viu-se na faculdade de Administração desejando percorrer outra trajetória profissional. Tendo feito seis anos do curso, e faltando um para a formatura, o gaúcho já estava trabalhando na área, mas insatisfeito com a vida que levava. “O design de produto veio de forma quase aleatória, em um momento no qual eu queria mudar uns paradigmas. A arte veio de forma a mudar isso, tinha a ver com como eu queria levar a minha vida”, relembra o momento no qual decidiu migrar para o curso de Design de Produtos.

Essa mudança de perspectiva fica explícita quando recuperamos a informação de que Caxias do Sul é uma cidade altamente industrial. Guilherme trabalhava na indústria, na parte administrativa, quando percebeu que esse ambiente poderia servir de inspiração se observado sob outra ótica. E hoje, em suas produções, essa perspectiva é clara. “Com certeza, a minha vivência me formou artisticamente. Sempre tive muito contato com fábrica, indústria. Consigo ver claramente as marcas disso nas minhas produções”, analisa.

O designer iniciou a sua carreira na Riva, uma cutelaria, onde começou seu contato com materiais que continuariam fazendo parte de sua produção até hoje. E foi lá, também, que produziu a coleção K, que recebeu prêmios como Brazil Design Award e iF Design Award em 2013. “Eu almejava esse reconhecimento desde que estava na Riva como designer e ele veio quando assinei a minha primeira coleção. Eu estava bem focado nisso, mas quando aconteceu foi uma surpresa”, relembra o designer.

Essa experiência levou Guilherme a abrir a sua própria marca, em parceria com o empresário Rafael Gehrke, a WENTZ, em 2016. “A ideia de ter a minha própria marca vem justamente dessa vontade de criar, de ser mais autoral. É uma espécie de laboratório de testes”, conta. Em dois anos, o negócio, além de se consolidar pelo Brasil, tem alçado voos no mercado estrangeiro - a marca tem sido comercializada nos Estados Unidos.

 

O designer gosta que o desenho de suas peças pareça simples, ainda que a produção seja complexa Crédito: Divulgação

Processo criativo

Como artista que é, o designer sinaliza que sua maior dificuldade é tudo que não engloba os processos de criação em si. “Existem muitas questões que envolvem ter um negócio, como posicionamento da marca no mercado, imagem da marca, burocracias. Isso eu deixo mais por conta do meu sócio (risos). Agora que estamos exportando para os EUA, temos de lidar com legislações específicas que por vezes podem comprometer a liberdade de criação. Mas, ainda assim, ter meu espaço para criar é incrível”, ressalta.

O que justifica artisticamente o trabalho de Guilherme é a busca pelo mais simples. “Quero que os objetos possam sugerir uma vida mais simples. Me preocupo que o desenho pareça simples, ainda que seja complexo na parte da produção. Tento criar uma atmosfera na qual o produto surja como uma cenografia dessa proposta. É inspiracional. Mas claro que no início, ao longo do processo de criação sempre surgem ideias”, conta.

As mais diversas artes declaradamente inspiram o trabalho do designer: escultura, fotografia, música. E ter contato com essas artes significa, para ele, respaldar a sua busca por uma arte essencialmente brasileira. “Acredito que ter me mudado para São Paulo me colocou em contato com essa atmosfera mais artística. Tenho percebido muitos artistas que tentam levar, em suas diversas produções artísticas, significados parecidos para sua arte: o de buscar uma nova linguagem de brasilidade contemporânea, que é justamente a de não copiar o que já aconteceu e nem o que está acontecendo lá fora”, ressalta.

Suas ambições não se delimitam em encontrar uma boa forma, um estilo definido ou uma assinatura, mas acredita que a busca deva ser, também, sobre como inserir o design de forma substancial na economia brasileira. “Ser designer hoje em dia é discutir também sobre a necessidade de uma evolução do design no Brasil, fazendo com que este se desenvolva em escala industrial, desvinculando da imagem artesanal. A indústria nacional não tem muita inovação e a junção do design e da indústria pode fazer o Brasil ser conhecido pelas ideias e não pelos insumos”, defende.

 

A coleção K rendeu a Guilherme prêmios como Brazil Design Award e IF Design Award em 2013 Crédito: Divulgação

Descobertas

No que tange ao estilo de suas produções, Guilherme se considera em uma eterna descoberta. “Chega um ponto no qual a gente fica mais seguro, mas acredito que ainda estou me descobrindo. Enquanto isso não acontece, me deixo livre para experimentar, buscar coisas novas”, garante.

Dos materiais mais utilizados em suas criações, destacam-se os metais. “Como Riva é uma indústria de metais e eu fiquei lá por dois anos, acabo usando muito. Mas busco sempre novos materiais, mais ‘disponíveis’, como madeira, vidro e pedras. O designer, inclusive, ficou impressionado com a diversidade de pedras existente aqui no Espírito Santo durante visita recente que fez à Casa Cor do Estado, a convite da Juliana Sabra, da Acervo Contemporâneo. “Me encantei com a multiplicidade do uso deste material. O Espírito Santo me trouxe essa visão de pedra. Nunca imaginei que esse mercado fosse tão extenso, tão plural. Com certeza buscarei explorar mais esse material nas minhas próximas criações”, disse entusiasmado.

Por ter trabalhado em uma cutelaria, o designer usa muitos metais em suas peças, mas também está investindo em outros materiais, como madeira, vidro e pedras Crédito: Divulgação

Aliás, Guilherme Wentz ficou maravilhado com Vitória. “Gostei muito da topografia, parece ser uma cidade muito boa. Sobre a mostra de decoração, achei de excelente nível. Tivemos um momento expositivo que virou logo um bate papo com os arquitetos. Foi uma troca incrível!”, avaliou.

No momento, o designer está envolvido com estender a sua linha de luminária para a Decameron, além de trabalhar na exportação para os EUA. Todavia, novidades virão na WENTZ. “Estamos trabalhando em mais móveis, luminárias, objetos, um pouquinho de tudo na marca própria. Acredito que em março já teremos alguma coisa nova”, assegura.

Engana-se quem acredita que Guilherme já chegou onde quer. “Já é muito bom poder viver disso. A maior conquista, com certeza, é poder ser reconhecido pelas minhas ideias, as pessoas me procurarem pelas ideias que eu tive, poder ser autoral. Espero que a marca continue crescendo e se estabilize, que se expanda em tipologias, categorias de produtos e que consigamos entrar em outros países”, planeja. Guilherme não para e sua busca não cessa.

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