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Como lidar com o luto coletivo em tragédias

Como lidar com o luto coletivo em tragédias

Para especialistas, a empatia é importante e ajuda a superar

Publicado em 17 de fevereiro de 2019 às 00:28

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Estamos vivendo algo como um luto coletivo. Difícil encontrar quem não tenha revivido o drama de Mariana diante da lama que arrasou Brumadinho, ambas cidades mineiras destruídas pelo rompimento de barreiras. Tampouco nos deparamos com pessoas que não lamentem pelos adolescentes mortos no Centro de Treinamento do Flamengo. Na sequência, ainda houve a queda do helicóptero com o jornalista Ricardo Boechat, que estava no cotidiano de tantos. E agora nos despedimos do arcebispo emérito de Vitória, Dom Silvestre Scandian, um grande líder religioso que morreu ontem, aos 87 anos. O ano mal começou e uma sucessão de tragédias já faz muita gente desejar que 2019 termine logo. Como não é possível suprimir os dias, é fundamental aprender a lidar com a dor.

“As tragédias mexem muito com o coletivo porque não há uma preparação para lidar com tantas mortes. E, em situações como a dos meninos do Flamengo, somam-se outros fatores: eram jovens, atletas, sonhavam com um futuro melhor no futebol”, observa Tammy Andrade Motta, membro do Conselho Regional de Psicologia (CRP) e doutoranda pela Ufes.

“Por outro lado, nesse luto, se conseguimos demonstrar mais empatia e respeito pelo outro, o que é muito importante, ajuda a superar”, acrescenta.

Não só pelo número de pessoas mortas - Brumadinho já passou de 160, no Flamengo foram 10 - mas a morte em si é carregada de tabu, o que dificulta o processo de luto. Comentarista da CBN Vitória, a psicóloga Adriana Müller aponta que, embora a morte seja uma certeza, socialmente não se aprende a lidar com ela.

“Então, quando nos vemos diante dessas tragédias, ainda que não estejamos diretamente ligados a elas, retomamos ao óbvio de que a morte vai acontecer. E começamos a nos questionar: e se fosse comigo, com alguém da minha família? Paramos para pensar na nossa história.”

Adriana diz que lidar com o luto gera dor, angústia, medo, que são sentimentos paralisantes, mas, se promove essa reflexão sobre a vida, tem aspectos positivos. “Ao refletir sobre a finitude da vida, passamos a valorizar mais a saúde, a vida, a segurança nossa e das pessoas que são próximas. Gera uma disponibilidade interna de resolver pendências ou dizer o quanto uma pessoa é importante. Então, para quem aprende a lidar, o luto promove esse movimento de cuidado físico, emocional e relacional.”

Outro aspecto que torna determinadas tragédias mais difíceis de serem de assimiladas, como a de Brumadinho e a do Flamengo, é que poderiam ter sido evitadas, segundo aponta a psicóloga Daniela Reis e Silva, especialista em luto e coordenadora do grupo de Apoio a Perdas Irreparáveis (API) do Espírito Santo.

É importante, reforça Daniela, que as pessoas respeitem o tempo dos enlutados para se restabelecer. “Há quem pense que, quem está de luto, no outro dia já precisa retomar a vida normal. O que ela precisa é ser acolhida e receber a orientação adequada”, sustenta.

O JEITO CERTO DE LIDAR COM CADA LUTO

Tragédias

No coletivo

Ainda que as pessoas estejam num ambiente de comoção, a morte tem um impacto diferente para cada uma. Depende de suas vivências e de como aprendeu a lidar com a morte. Por isso, é importante falar da morte com naturalidade, inclusive com crianças. Para elas, a notícia deve ser dada por uma pessoa em quem confia, usando linguagem adequada, sem fantasias de que quem morreu, por exemplo, “virou estrelinha.”

Pensar no outro

Quando a pessoa não está diretamente ligada à tragédia, a empatia e o respeito pela dor alheia são sentimentos que não apenas contribuem para o outro, mas também ajudam a superar o trauma.

Reflexões

Em vez de se paralisar por dor e medo, refletir sobre a finitude da vida e a própria história é um modo de se mobilizar a adotar novas atitudes. Cuidar mais de si e dos que gosta, resolver pendências (conversar com aquela pessoa com quem brigou), fazer declarações de afeto.

Família

Proximidade

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Seja morte trágica, seja natural, familiares têm outra vivência de luto, que pode durar até três anos. Não se deve evitar falar de quem morreu, mas não é para “forçar a barra”. Para essas pessoas, é importante mostrar-se disponível para ouvir, ajudar no que for solicitado e incentivar boas escolhas

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