Publicado em 15 de setembro de 2018 às 23:52
Já ouviu aquela expressão depois que filho pari, nunca mais dormi? Pois é a situação da Thamyres Polezi Dal Col. Desde que o Theo nasceu, há exatos um ano e um mês, ela não sabe o que é uma noite inteira de sono. Ele acorda, em média, quatro vezes cada noite. É desesperador, desabafa a jovem.>
O sono da criança é um verdadeiro pesadelo para muitas famílias. Por isso, o assunto é tratado com seriedade pelos médicos. E já existem até profissionais que se dedicam exclusivamente a esta tarefa: fazer com que o bebê seja um dorminhoco e dê, finalmente, um descansinho para seus pais pelo menos durante a noite.>
Algumas crianças têm sono pesado. Essas não vão dar trabalho nunca! Mas muitas não são assim e precisam aprender a dormir, destaca o neuropediatra Marcelo Masruha, professor e chefe do setor de neurologia infantil da Universidade Federal de São Paulo.>
De acordo com o pediatra Gustavo Moreira, do Instituto do Sono da Unifesp (SP), em torno de 30% das crianças menores de cinco anos de idade têm dificuldade para iniciar e manter o sono.>
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Além de privarem os pais de um repouso tranquilo, os bebês também sofrem com esse mau hábito noturno. Crianças que dormem pouco e têm muitos despertares podem ter infecções respiratórias frequentes. Também podem sofrer alguma alteração no crescimento e no desenvolvimento e queda da imunidade, cita Moreira.>
Bebês que dormem bem são menos ansiosos, menos inquietos, têm funcionamento cognitivo melhor, passam o dia melhor e são menos propensos a doenças, completa Masruha.>
Para os pais, claro, não poderia ter algo melhor. Um filho que dorme bem ajuda na saúde física e mental do casal, que tende a ter mais paciência para cuidar do filho e também um com o outro. O ambiente em casa é mais tranquilo, aponta o neurologista.>
ANSIEDADE>
O fato é que se a criança passa as madrugadas mais de olhos abertos do que fechados, a culpa pode ser de quem a bota para dormir. Vejo muita ansiedade, muita inquietação, muita insegurança. Às vezes, a criança está dormindo, e a mãe vai lá e pega, cobre, muda de posição..., comenta a consultora de sono infantil Monalizza Erlacher.>
Por isso, nada de ninar no colo ou apelar para aquela voltinha de carro. Essas estratégias, segundo especialistas, viram armadilhas e só pioram as coisas. Há técnicas certas para ensinar o bebê a dormir sozinho, o que pode ser feito, de acordo com Gustavo Moreira, a partir dos seis meses de vida.>
É aí que entra a ajuda de fora, algo parecido com a famosa Supernanny da TV, aquela profissional que chega a ir à casa da família ver o que está atrapalhando o sono do bebê e dar conselhos de ouro aos pais.>
Silvana Cordeiro é uma delas, embora não goste desse apelido. Quando nos procuram, muitas mães estão desesperadas, chorando. Elas relatam que nem querem ter um segundo filho, de tão traumático que é esse período, porque a criança não dorme e elas também não. É um sofrimento sem fim que as faz até desistir da maternidade, destaca.>
RESULTADOS>
Fazer o bebê aprender a dormir a noite toda pode dar um trabalhinho no começo. Mas os resultados são recompensadores, segundo Silvana.>
É preciso organizar a rotina da família e desse bebê, que deve ter horário certo para dormir. É todo um ritual noturno, na verdade, que vai garantir que ele durma bem. Tem que fazer todos os dias a mesma coisa, diz a consultora. A ordem é abandonar certas manias. No começo, é desafiador. Mas tem que tirar certos vícios e colocar bons hábitos. Porque muitos pais vão criando hábitos complicados para sustentar a vida inteira. Não é todo dia que você quer sacolejar a criança, subir e descer escada ninando o bebê, frisa.>
Existem várias técnicas para ensinar a criança a dormir. O neurologista Marcelo Masruha defende o chamado método comportamental de choro controlado, criado pelo pediatra norte-americano Richard Ferber. Nele, o bebê deve ser deixado sonolento no berço, mas ainda acordado. O cuidador deve sair e não atender aos primeiros minutos de choro, nem dar colo.>
O método é famoso no mundo todo e envolve deixar chorando mesmo, ou a criança vai sempre achar que pode conseguir o quer com o choro. Não vai traumatizá-la. É um condicionamento. Garanto que em no máximo dez dias ela estará dormindo sozinha e a noite toda, explica o médico.>
Essa técnica, diz ele, vale até para crianças mais velhas. É um investimento importante. Já atendi casos de criança de 12 anos que precisam que a mãe durma do lado dela até que ela pegue no sono.>
Para quem acha isso meio cruel, há outras alternativas. Não concordo com esse tipo de método. Para mim, não é abandonar a criança no berço e virar as costas que vai fazê-la entender que precisa dormir, opina Silvana. O pediatra Gustavo Moreira também vê eficácia em métodos comportamentais. Mas prefere ponderar: Existem diversas estratégias. Cada uma é aplicável para cada criança e sua família. É fundamental personalizar o tratamento e fazer o acompanhamento.>
O sono da pequena Maya, de 1 ano e meio, nunca foi tranquilo. Ela acordava várias vezes à noite, para desespero dos pais. Mas a realidade agora na casa é outra. Ela estava já dormindo na nossa cama e acordava várias vezes para mamar de madrugada. Eu vivia cansada, estressada e mal-humorada. Minha família toda estava prejudicada. Com a consultoria, em 15 dias ela já passou a dormir sozinha, no berço, a noite toda. Agora pude voltar a dormir também!, contou a mãe, a servidora pública Joana Ventorim, 37 anos.>
CHORAR NÃO MATA NINGUÉM>
Marcelo Masruha - neuropediatra>
Defendo um modelo famoso no mundo todo: é o método Ferber, que é um método comportamental de choro controlado. Nele, a criança precisa aprender a dormir sozinha. Isso pode ser aplicado a partir do 6º mês. Depois de todo um ritual, a mãe deve deixá-la no berço e se afastar. É comum ela chorar, mas a técnica envolve deixar chorando, ou ela passa a achar que com o choro terá sempre o que quer. Chorar não mata ninguém! E a criança não vai ficar traumatizada! Não existe evidência científica de que isso acontece.>
A criança não tem medo de morte, de fantasma ou monstro, só tem medo de ser abandonada. Por isso, a técnica consiste em deixá-la chorar inicialmente por dois minutos, depois se apresentar e, sem pegá-la no colo, dizer com a voz mais doce e calma do mundo que ela precisa dormir. Aí, as próximas entradas no quarto da criança vão sendo feita com tempos sucessivamente maiores (5, 7 e de 10 em 10 min), até que a criança durma.>
E no dia seguinte, fazer o mesmo, só que a primeira entrada deve ser depois de três minutos, e assim sucessivamente. Crianças maiores podem se jogar no chão, gritar... Mas a maioria vai para a cama dormir. Em dez dias no máximo, ela estará dormindo a noite inteira sozinha.>
A criança não é um robô>
Monalizza Erlacher Consultora de sono>
Para mim, esses métodos que consistem em deixar a criança chorando sozinha são surreais. Atendo pais com crianças traumatizadas ao serem submetidas a métodos assim, em que os bebês não conseguem voltar para o quarto porque associaram berço com local de intenso sofrimento. Você teria a frieza de deixar seu esposo (a) ou sua mãe chorando no quarto ao lado para ele (a) aprender algo? E porque faria isso com seu bebê? Isso gera instabilidades emocionais tanto nos pais quanto na criança.>
Algumas até se adaptam, mas entendo que é porque desistem de chamar, dormindo por exaustão! A última coisa que quero é deixar o bebê inseguro na hora de dormir, pelo contrário, carinho e paciência são os perfeitos soníferos. Recomendo que um dos pais permaneça no quarto até que o bebê se acalme. Vai ter colo quantas vezes precisar!>
Há muitos recursos para ensinar o processo do sono: primeiro vamos apagando as lâmpadas da casa, priorizando brincadeiras mais calmas, aplicando técnicas de relaxamento (massagem, banho de ofurô), leitura de histórias... E a criança vai entendendo o que vai acontecer, quando é hora de dormir.>
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AJUDE SEU BEBÊ A DORMIR BEM >
Soninho bom>
Necessário>
- Recém-nascidos a 3 meses: 16 a 16h de sono (sono noturno + sonecas)>
- 4 a 12 meses: 12 a 16h (sono noturno + sonecas)>
- 1 a 2 anos: 12 a 14h (sono noturno + sonecas)>
- 3 a 5 anos: 11 a 13h (sono noturno + sonecas)>
Quarto próprio>
Por volta do terceiro mês de vida, o bebê já pode ir dormir no próprio quarto, no berço ou cama.>
ALGUNS ERROS>
Luz demais>
Há quem pense que as sonecas precisam ser num ambiente claro, para diferenciar do sono da noite. Engano. A iluminação tem que ser confortável para o sono, numa penumbra agradável. Já no sono noturno, escureça ao máximo o quarto. E mantenha silêncio em casa.>
Táticas furadas>
Ninar no colo, cantando, andando, subindo escadas... E aquela santa voltinha de carro? Uma hora o bebê vai adormecer, claro. Mas além de ser cansativo fazer isso sempre, prejudica a criança, que, ao acordar em um local diferente, como o berço, vai se assustar e chorar.>
Pulando sonecas>
Manter o bebê acordado o máximo possível ao longo do dia para que ele durma a noite inteira só o deixará mais irritado, estressado, com grandes chances de dormir mal à noite.>
DICAS>
Crie uma rotina>
Por volta de 19h, comece alguns rituais do sono. Faça brincadeiras mais calmas. Vá reduzindo pouco a pouco a iluminação dos ambientes da casa. Desligue a tv. Depois, pode dê um banho relaxante, leia uma história, faça uma oração ou cantarole uma música calma. Faça isso sempre da mesma forma, todos os dias. É a repetição que ajuda a dar certo.>
Observe os sinais>
Repare quando seu filho começar a ficar com sono. Ele vai ficando mais lento e enjoadinho, começa a esfregar os olhos, a bocejar, perde interesse nos brinquedos... É hora de parar a brincadeira e começar o ritual do sono.>
Cedo na cama>
O horário de ir dormir varia de acordo com a criança e a rotina da casa. Mas saiba que aquela que dorme muito tarde pode não ter um sono de qualidade. Ela vai pra cama super estimulada, exausta e não passa a quantidade de tempo necessária em sono leve, sono responsável pela consolidação da memória.>
Deixe quieto>
O bebê resmungou, tossiu, choramingou, bocejou? Deixe quieto e espere para ver se ele vai voltar a dormir sozinho.>
Fontes: especialistas entrevistados e site www.bebedorminhoco.com.br>
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