Publicado em 15 de março de 2019 às 19:14
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Pergunta: (Alice, 39 anos, e João, 41 anos)>
"Estamos estarrecidos com os altos índices de violência contra as mulheres. Temos um filho de 10 anos e uma filha de 7. Como educá-los de maneira igual?">
Todos os dias recebo no meu consultório esse tipo de demanda das famílias. Como educar meus filhos? A primeira pergunta que faço é: Quem são seus filhos? Me conte um pouco sobre eles, seus interesses, seus medos, suas fragilidades, suas conquistas. Daí já dá para ter uma ideia de quem são os pais das crianças e por onde caminharemos.>
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Hoje respondo a uma família. Um pai e uma mãe me escrevem preocupados com o modo de educar suas crianças. Por si, já é ótimo. Afinal, o cuidar das crianças não é assunto e responsabilidade apenas das mulheres (mães), mas dos homens (pais).>
Estamos todos estarrecidos, eu diria chocados, com os noticiários. Mas engana-se quem acredita que a violência contra as mulheres é algo novo. Dentro desse quadro temos duas questões importantes que quero salientar, aproveitando a oportunidade em que vamos conversar sobre a criação de meninos e meninas. A primeira diz respeito ao lugar da mulher na sociedade. Há muito pouco tempo na história da humanidade, as mulheres podem falar com suas próprias vozes. Eram e por vezes ainda são relegadas a sujeitos de segunda categoria. Há menos de um século não tínhamos direito não só ao voto, mas aos filhos, ao patrimônio. Ao sair de um casamento, as mulheres encontravam-se muitas vezes devastadas moralmente e financeiramente. O que eu quero dizer é que as mulheres ainda lutam para que não haja retrocessos e perdas de direito, que parecem tão óbvios, mas que foram adquiridos com muita luta, ao preço de muitas vidas.>
Outro ponto importante diz respeito às crianças. Essas também ocupam importância social há bem pouco tempo, não possuíam direitos a ter direitos. Por isso, as violências domésticas, não apenas contra as mulheres, mas também contra as crianças, são terríveis.>
Para mudar esse triste panorama, ouso dizer que é impossível criar dois seres humanos da mesma forma, mesmo que vivam na mesma casa, compartilhem dos mesmos pais, das mesmas oportunidades, porque cada um vai poder se apropriar de suas experiências com o que pode.>
A experiência de ter dois filhos de gêneros diferentes deve ser muito desafiadora, mas ao mesmo tempo de infinita riqueza.>
Meninos e meninas são diferentes: têm corpos diferentes, são ansiados no seio de sua família de maneiras distintas, emocionalmente são diferentes, são submetidos à cultura de maneiras distintas. Então, não cabe uma educação igual.>
inha provocação remete ao começo do texto. Quem é seu filho? Quais suas qualidades, medos, anseios? Quem é sua filha? Quais suas qualidades, medos, anseios? Quando respondemos a essas questões nosso foco se voltará muito mais a acolher e a cuidar das necessidades subjetivas de cada criança, do que adestrá-la ou moldá-la ao que a sociedade espera dos sujeitos meninos, meninas, homens e mulheres.>
Para além do rosa e do azul, deveríamos nos ocupar em exercitar com as crianças a solidariedade, a tolerância, a empatia (características naturais na infância e que vão se perdendo, infelizmente, graças à educação), para que reconheçam a importância da vida comunitária. Não há nós e os outros, somos uma grande família de humanos, então, devíamos pensar no respeito a todos em suas particularidades e esse exemplo começa em casa, respeitando todas as diferenças e incentivando a cada pessoa da família a ser o melhor possível com o que tem e com o que pode ser.>
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