Publicado em 6 de fevereiro de 2019 às 21:47
Encantada com o primeiro filho, a técnica de radiologia Sophia Quintas Benincá, 37 anos, se cercou de cuidados com a alimentação dele. Nada de sal e açúcar, só frutas, verduras... Bento acaba de completar um aninho e adora banana, abacate, aipim e brócolis.>
Na última segunda-feira, o menino foi pela primeira vez à escola, que pertence à rede municipal de Guarapari. Mas Sophia não ficou nada satisfeita ao ver o cardápio oferecido aos pequenos, que inclui achocolatado, biscoito doce e cereal. É totalmente fora do que faço na minha casa. Meu filho nunca comeu nada com açúcar, nada industrializado, queixou-se.>
A mãe do Bento tirou uma foto do cardápio e mandou para a nutricionista do filho, que ficou inconformada. São vitaminas adoçadas, bolo, biscoito, cereal infantil que tem o açúcar como um dos principais ingredientes. O suco de frutas também é adoçado. E mesmo que a oferta de doce seja em pouca quantidade, ela é diária, observa a nutricionista infantil Fabiana Furlani Sales.>
Segundo ela, a Organização Mundial de Saúde e o Ministério da Saúde recomendam não oferecer açúcar no primeiro ano de vida da criança. Já os pediatras indicam que alimentos açucarados só sejam introduzidos após os dois anos.>
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Escolha>
Até essa idade, a criança ainda está formando seu paladar e pode passar a gostar mais de alimentos açucarados. Por isso, o ideal é que só tenha contato com comida viva, de verdade. Bebês de um ano não deveriam nem ter contato tão precoce com esses alimentos. Eles não têm poder de escolha, comem o que é ofertado, comenta Fabiana.>
Para a nutricionista, um cardápio mais saudável não é mais complicado ou caro, pelo contrário: Não entendo como fazer um bolo pode ser mais fácil do que cozinhar uma banana da terra. Ou como cereal pode ser mais barato que um aipim assado.>
Sophia também encrencou com as papinhas servidas no almoço. Meu filho nunca comeu papinha. Desde o início da introdução alimentar, dou a comida amassada, diz ela, que se viu sem saída.>
Cheguei a conversar com a diretora, perguntar se eu não poderia passar a mandar o lanchinho dele. Mas vi que não iria adiantar. Provavelmente, meu filho iria ver outras crianças comendo biscoito e querer comer também. O jeito, diz a mãe do Bento, pode ser mudar de escola.>
Existem famílias que podem pagar por uma instituição que preze suas convicções alimentares, mas e as que não podem?, questiona Fabiana, ressaltando que o mesmo problema ocorre em creches de outras prefeituras da Grande Vitória.>
O grande problema de ofertar alimentos de tão baixa qualidade nutricional, aponta Fabiana, é que elas veem aumentadas as chances de sofrerem problemas como obesidade, hipertensão, diabetes.>
Prefeitura reconhece problema e diz que vai cortar produtos com açúcar>
Procurada, a gerência de nutrição da secretaria de Educação de Guarapari reconheceu que o cardápio elaborado para os bebês da rede municipal de ensino não é o ideal e afirmou que vem, gradativamente, reduzindo a oferta de alimentos contendo açúcar.>
O cardápio do mês de fevereiro ainda contém algumas preparações com quantidade mínima de açúcar, sendo esta oferta monitorada e controlada pela equipe de nutrição, que realiza visitas periódicas às escolas, esclareceu.>
A gerência disse ainda que aguarda a entrega de gêneros alimentícios adquiridos para 2019, entre os quais não constam alimentos industrializados. E que, desta vez, foi dada ênfase aos alimentos in natura (frutas, verduras, legumes e hortaliças), incluindo alimentos da agricultura familiar.>
E garantiu, ainda que o cardápio será reajustado nos próximos meses buscando atender às necessidades nutricionais dos alunos com a oferta de alimentos saudáveis, de acordo com a faixa etária, bem como à recomendação do Ministério da Saúde.>
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