Gente clicando sem parar na ponta da caneta, comendo um salgadinho crocante, mastigando uma maçã, abrindo um papel de bala, batucando no volante ou arrastando os chinelos ao andar. Essas situações soam extremamente irritantes para você? Saiba que não é frescura ou implicância. O problema tem nome: misofonia.
Barulhinhos que muitos nem percebem, mas para você são insuportáveis. O som de alguém simplesmente respirando ao seu lado pode causar um incômodo profundo. E as pessoas ao redor dificilmente entendem isso, certo?
O termo misofonia vem do grego (miso = aversão, ódio e fonia = som). É uma condição médica já estudada, porém, pouco conhecida.
É algo mais ligado a um problema psicológico, e não do sistema auditivo, observa o otorrinolaringologista Giuliano Luchi.
O professor do curso de pós-graduação em Neurologia da Faculdade Ipemed, em São Paulo, Flavio Sekeff Sallen, concorda. Não é uma doença. É uma síndrome e não se manifesta de forma isolada. Provavelmente, a pessoa sofra de um transtorno de ansiedade e a misofonia se manifeste juntamente com esse transtorno, explica.
A questão não é o som em si ou o volume dele. É a repetição do ruído que leva o misófono a sair do seu estado emocional normal, perder as estribeiras mesmo.
O ruído dos talheres batendo no prato é mais que um mero incômodo, é algo enlouquecedor para a servidora pública Marcela (nome fictício), 31 anos. Já tive que sair da mesa, num almoço de família, porque não conseguia comer, de tanto que isso me irritava, admite ela, que preferiu não divulgar o nome.
Outra coisa difícil para ela é ir ao cinema e, durante todo o filme, escutar o barulho de gente mastigando pipoca ou do som das sacolas das pipocas sendo amassadas. A irritação é tamanha que às vezes é incontrolável, a ponto de ter que sair do ambiente para não partir para um conflito físico, por exemplo, conta a servidora.
Ronco, barulhos com nariz, tudo isso acaba com a paciência dela. E muito. Às vezes, se eu estiver em crise, até o som de algo batendo no chão, como a chuva, ou de alguém digitando no teclado no computador, me tira do sério.
De acordo com o neurologista, o diagnóstico é difícil de ser feito. Determinado barulho pode irritar uma pessoa e não necessariamente ela ser misófona. Por isso é difícil ter um critério para o diagnóstico, diz ele.
O fato é que a pessoa que sofre de misofonia parece ser um barril de pólvora prestes a explodir. A sensação é de que você ouve um zumbido eterno, mexendo com todo o sistema nervoso. Dá vontade de chorar, espernear, de partir para a agressão física mesmo, descreve Marcela.
O tratamento passa pela terapia. Não há medicação para isso. Orientamos a pessoa a buscar terapia, que pode resolver a questão da ansiedade, ressalta Flavio Sallen.
Marcela até faz terapia, mas confessa que nem sempre dá para manter a calma: Não é algo fácil de ser tratado. A gente aprende a controlar a irritação, mas nem sempre isso é possível.
A falta de compreensão dos colegas também irrita, segundo a servidora. Eu me assumo, tento explicar como me sinto. Mas às vezes falam gracinhas ou que sou fresca.
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