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A loucura de cada um

A loucura de cada um

Há quem diga que loucura e distúrbio mental não são sinônimos

Publicado em 14 de outubro de 2018 às 14:42

A loucura é uma condição da mente humana caracterizada por pensamentos considerados anormais pela sociedade.

Os loucos, historicamente, sempre foram afastados do convívio social em manicômios, internados à revelia, largados. Lá ficavam pelo resto de suas vidas, sem poder de decisão do seu rumo, em condição de negligência, crueldade e desrespeito à dignidade humana.

Até hoje, é visto com naturalidade o discurso de que o louco tem que ser internado, mesmo contra a sua vontade, por representar um risco para a sociedade.

Há quem diga que loucura e distúrbio mental não são sinônimos e precisam ser entendidos como coisas diferentes e que a única diferença entre a loucura e a saúde mental é que a primeira é muito mais comum.

Para alguns psiquiatras, a loucura é associada a um estado alterado de consciência, ao comportamento desviante que pode se manifestar como genialidade ou como uma negação de normas que faz o louco ser, às vezes, até melhor adaptado do que uma pessoa identificada como “normal”. Já as doenças mentais são um quadro grave e necessitam de tratamento. Há quem busque soluções na religião, outros procuram a intervenção médica ou psicológica.

Até mesmo a mediunidade, para alguns estudiosos, é uma forma da loucura que se manifesta através de alucinações auditivas (ouvir as vozes dos espíritos) e ideias delirantes, dentre outras.

O conceito de normalidade está relacionado a um estado padrão, reconhecido por uma maioria, sendo anormal aquele que contraria esta maioria.

Mas o que efetivamente é a loucura? Uma alteração mental caracterizada pelo afastamento do indivíduo de seus métodos habituais de pensar, agir e sentir? Um desequilíbrio emocional cuja origem é o desajustamento do indivíduo dentro da sociedade em que vive? Todo tipo de desvio do comportamento pessoal em relação às normas? Um estado progressivo de desligamento ou fuga da realidade? Uma tomada de consciência de si e do mundo? Quem saberá responder?

Na antiguidade, a loucura era considerada uma manifestação divina. A psicopatologia medieval associava a loucura à possessão diabólica.

A ideia do que é a loucura mudou com as épocas e existem variações culturais. O que caracterizamos como loucura pode não ser para um outro grupo. Muitas vezes, pessoas com comportamentos bizarros, que foram identificados como loucos, mudaram o modo de pensar do mundo. Apresentaram teorias matemáticas, invenções, poesias, obras primas ou simplesmente ideias que com o tempo mostraram ser excelentes. Aristóteles, filósofo grego, já afirmava que “nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura”.

Alguns loucos talvez sejam apenas pessoas que nasceram fora do seu tempo, com ideias que não combinam com a ordem geral das coisas do tempo que estão vivendo.

Tantas vezes tratados como loucos, os cientistas são um grupo notoriamente diferente, o que os leva a acreditar em ideias que a maioria não acredita. Isso fez com que muitos tivessem personalidades excêntricas ou fossem complexos demais para níveis intelectuais mais limitados, sendo sua genialidade constantemente tratada como loucura.

Muitos foram os homens e mulheres famosos que, ao seu tempo, por motivos diversos, foram chamados de loucos: o Rei Carlos VI de França, Abraham Lincoln (presidente dos Estados Unidos), Vincent Van Gogh (pintor holandês), Ernest Hemingway e Edgar Allan Poe (escritores), Howard Hughes (aviador, produtor de cinema...), John Nash (matemático, aquele do filme “Uma mente brilhante”, ganhador do Prêmio Nobel de Economia), Beethoven, Isac Newton (o da Lei da Gravidade)...vou parar por aqui porque a lista é imensa.

A neurociência vem fazendo a sua parte, estudando e descrevendo a existência de razões bioquímicas para distúrbios psiquiátricos, com grande interesse pelas bases neuronais do comportamento humano.

Enfim, é difícil entender a loucura. Explicar, muito mais. Existem mais loucos sem fazer tratamento do que os poucos que se tratam. Uns fingem que são loucos. Outros que não são. Que loucura!

Se você se acha um incompreendido e os outros pensam que você é louco, não se preocupe: Você não está sozinho.

Afinal, quem é louco? Dizem que, “olhando de perto ninguém é normal”. Um ditado popular diz que “de médico e de louco todos temos um pouco”. Para mim, que sou médico, não me falta mais nada. Louco é não ser feliz.

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