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'A idade ainda não está me pesando', diz bailarina Ana Botafogo

"A idade ainda não está me pesando", diz bailarina Ana Botafogo

Aos 60 anos, a bailarina Ana Botafogo fala sobre envelhecimento e até sobre o momento político atual. Ela chega domingo a Vitória para festival

Publicado em 7 de abril de 2018 às 16:41

Aos 60 anos de idade, Ana Botafogo continua saltitando por aí. Diz que não conseguiu pendurar as sapatilhas e se mantém ativa, comandando o balé do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, fazendo palestras e apresentações pelo Brasil. Amanhã à noite, a bailarina estará no Festival Internacional de Dança do Espírito Santo, em Vitória, onde fará uma palestra. Na segunda-feira, será homenageada em uma academia na Capital.

O balé é uma modalidade cheia de glamour. Mas alguns bailarinos costumam falar em escravidão. Para você é assim também?

Amo o que faço, sempre amei. Mas realmente para ser bailarina tem que ter uma dedicação exclusiva, se empenhar muito. Tem as horas de escravidão. É uma profissão de escolhas, de prioridades. Mas acho o termo ruim porque escravidão não tem prazer. E sempre dancei por prazer.

Você não teve filhos. Foi por causa do balé?

Não foi o caso. Teve um momento em que eu quis muito ter um filho, mas acabou não acontecendo. Fiz planos de engravidar no segundo casamento, mas não deu certo e fiquei viúva. Não carrego essa frustração. Tinha tanta coisa para fazer, sempre me dediquei tanto ao balé, tive tantas alegrias na minha profissão... Acho que até passei por esse momento com mais facilidade, diluindo a tristeza de não ter filhos. Tive uma carreira longa. Isso me ajudou a não focar nisso.

Nem todo bailarino tem carreira longa assim, não é?

É verdade. Poderíamos ter direito a aposentadoria, porque somos atletas, trabalhamos com o corpo. Mas no Brasil a gente não tem esse direito. A carreira de uma bailarina costuma terminar cedo, por volta dos 40 anos de idade. Mas eu nunca parei. A forma física me ajudou nesse sentido.

Você parece ter o mesmo corpinho de sempre...

(Risos) Parei de dançar os grandes clássicos há quatro anos. De lá para cá, ganhei um pouquinho de peso. Sempre pesei pouco, 42, 43 quilos. Hoje tenho 47 quilos. Não tenho mais tanto ensaio como tinha antes, quando ensaiava seis horas de balé por dia. Hoje faço aula todo dia, e sempre tenho algum espetáculo.

Está longe de pendurar as sapatilhas....

Até tentei, mas não consegui! Tenho alguns espetáculos para fazer, principalmente os criados especialmente para mim. Em abril e maio agora tenho dois para fazer, em que vou dançar.

Você tem 60 anos. Como é envelhecer?

Encaro muito bem! Estou muito ativa. Então, a idade não está pesando. Claro que é muito diferente de quando estava no auge. Mas faz parte. A gente vai passando etapas. E lido muito bem com isso. Faço bastante coisa que muita gente da minha idade, e até mais jovem, não consegue fazer por causa do meu condicionamento físico. Faço exercícios, dentro do limite da minha idade, e sempre cuidei da minha alimentação. Hoje dirijo o balé do Teatro Municipal do Rio, que é outro tipo de trabalho, tem outro foco, estimulando, preparando jovens bailarinos.

Estamos numa época em que se fala muito do empoderamento feminino. O que acha desse movimento?

Vejo que há anos as mulheres têm procurado seu espaço. Sei que se discute a questão do empoderamento, dos casos de assédio contra mulheres. No nosso meio não conheço nenhum caso... É um debate importante. As mulheres hoje têm mais coragem de mostrar a cara, porque antigamente elas tinham vergonha de tudo. Mulher não tem que sofrer assédio, nem moral, nem físico, de nenhum tipo. Agora se fala mais abertamente, mas as lutas femininas já vêm de bastante tempo.

E na política? Você tem acompanhado de perto esse momento que estamos vivendo?

É impossível ficar alheio. Mas não me meto de jeito nenhum. Nunca usei minha profissão, minha visibilidade para algo político. Sou apartidária, não faço campanha para ninguém. Sou do partido anticorrupção. Não podemos mais viver tanta mentira.

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