Publicado em 21 de julho de 2020 às 20:37
Tudo começou por conta do casamento da filha. Envolvida no universo, a servidora pública Mônica Pretti Haynes resolveu criar um blog para contar os preparativos da comemoração. "Era tanta loucura que o nome ficou As Mãe Pira. Porque fazer um casamento é de pirar", conta rindo. A brincadeira virou negócio. Tanto que, ao lado da amiga Magali Magalhães, ela se tornou uma digital influencer da meia-idade. >
No Brasil é cada vez maior o número de influenciadores digitais acima de 50 anos, que vêm ganhando seguidores nas redes sociais e chamando a atenção de marcas para parcerias e eventos. Com os avanços da medicina e da ciência, a expectativa de vida aumentou. Com isso o envelhecimento tem sido visto cada vez mais de forma positiva. Eles trabalham, malham e se reinventam nesta fase da vida.>
Aos 57 anos, Mônica tem um objetivo na internet: mostrar que envelhecer bem não é um privilégio dos homens. "Eles não são cobrados, mas nós, mulheres, somos. Quero provar que a mulher madura também vende", diz. Em outubro do ano passado ela surpreendeu as seguidoras ao aparecer com os fios brancos. Ela não tem vergonha de assumir, no cabelo ou na pele, a passagem do tempo e se sente disposta a encarar o que se tornou "o envelhecimento em tempos de redes sociais dominadas por millenials". "No começo foi mais difícil. Hoje várias mulheres chiques estão assumindo os cabelos brancos".>
Com facilidade para lidar com a tecnologia, a influencer vive aprendendo coisas novas. "Gosto muito. Aprendo sozinha e o que eu não sei pesquiso. Mas só gosto de mexer no celular". Mônica também é avó e, mesmo curtindo essa fase da vida, diz que "mãe pira com tudo". "Pira com o filho se formando, com a filha casando, se separando, tendo filhos. A mãe sempre vai estar pirada no sentido de estar ligada", diz, rindo. >
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Formada em História, a aposentada Magali Magalhães, 60 anos, pisou novamente na sala de aula com 50. Tudo pelo sonho de estudar moda. "Meu pai sempre teve loja de roupas, nasci dentro desse universo. E foi maravilhoso fazer faculdade nessa idade porque aproveitei. Foi uma feliz convivência com os jovens e muitas trocas de experiências", conta. >
Ela também é digital influencer. "Queremos falar com a mulher de 40, 50, 60 anos... Que ela pode fazer o que quiser. Ter o estilo próprio, praticar atividades físicas e se sentir importante. A moda, por exemplo, não inclui em suas campanhas mulheres com mais de 50 anos. Espero que esse cenário mude, inclusive no Estado". >
A história está mudando. A revista americana Allure, considerada a Bíblia de beleza, baniu o termo anti-idade de suas matérias. A L'Oréal colocou suas embaixadoras mais velhas, Helen Mirren, de 74, e Jane Fonda, de 82, para marcar presença em diversos eventos, campanhas e editoriais, tudo para chamar atenção das consumidoras da mesma faixa etária, que geralmente não se reconhecem na publicidade. Tem mercado e consumidoras para todos os produtos. >
Para Magali é uma reinvenção estar ativa e conectada. "É um trabalho. Falo o dia inteiro com a minha parceira e vamos atualizando o Instagram. Também conversamos muito com as seguidoras", diz ela que também se tornou avó recentemente. "Tem sido uma experiência maravilhosa. Brinco que está quase na hora de mudar o nome para 'Avós pira'", diz, bem humorada.>
O geriatra Roni Chaim Mukamal, da MedSênior, diz que a aposentadoria pode ser uma oportunidade de reinvenção e de realização de algum sonho. "Temos histórias maravilhosas de pessoas que se aposentaram e puderam realizar sonhos porque tinham mais tempo, que conseguiram realizar projetos e fazer coisas que elas desejaram a vida toda, mas não tinham tempo ou oportunidade", explicou ele. >
Já se sabe, inclusive, que se manter ativo é fator protetor para todas as doenças da velhice, como a fragilidade, a sarcopenia e a depressão. "Infelizmente alguns idosos se aposentam e, por questões financeiras ou familiares, precisam manter alguma atividade remunerada. Isso, às vezes, é muito cruel porque ele não faz porque quer e sim porque sustenta muita gente ou precisa pagar o seu plano de saúde, seus remédios e sua comida. Nem todo mundo consegue realizar seu sonho na aposentadoria". O desejo pode ser a abertura de um novo negócio, uma viagem ou dedicar o tempo a um trabalho voluntário para ajudar o outro e ter um propósito de vida. "Tudo isso é benéfico", diz o médico.>
Roni Chaim Mukamal
Geriatra
Depois de trabalhar 30 anos num banco, em Linhares, Henrique Luis Custódio, 64, também se reinventou. Há um ano e meio ele faz artesanato e peças de decoração. "São feitas a partir de pedaços de madeira que encontro em terrenos baldios ou enterrados em lagoas. Essas madeiras são lixadas, lavadas e secas ao sol, depois recebem pintura especial e são afixadas em uma base. Algumas lembram figuras, outras são totalmente abstratas", conta. >
O sucesso foi tanto que ele já fez até uma exposição no município da Serra. "Tivemos que terminar antes por conta da pandemia", lamenta. Filho de um marceneiro e de uma dona de casa, a madeira sempre esteve presente em sua vida. Hoje ele também produz pergolados, parques infantis e playground. "Meu pai teve marcenaria e depois de vender o maquinário investiu na compra de uma propriedade rural. Ele se orgulhava em dizer que sabia fazer tantas coisas, mesmo com pouco estudo".>
Peças de Henrique Custódio
Casado, pai de dois filhos, Henrique também se orgulha de sua história. Começou a trabalhar aos 14 anos e, após concluir o ensino médio, passou no concurso do banco. Exerceu diversas funções. "Aprendi muito durante todos os anos que trabalhei lá", recorda. Mesmo aposentado nunca se manteve parado. Fez cursos e trabalhou em outros lugares. Para ele é fundamental manter-se ativo com o propósito de alcançar um desejo que não esconde de ninguém: viver até os 150 anos. "Quero ver muita coisa acontecer ainda nesse mundo. Para isso tenho que ter qualidade de vida". >
Não é de hoje que famosos, que já passaram dos 60 anos, fazem sucesso nas redes sociais. Nessa quarentena o ator Ary Fontoura se tornou o novo rei do Instagram. Entre receitas, brincadeiras e rotina em isolamento social, aos 87 anos, ele diverte seus seguidores com as publicações compartilhadas em sua página. De "vovô gamer" a "vovô fitness", são diversas personalidades esbanjando alegria e positividade. Com postagens simples, de incentivo, Fontoura atingiu recentemente a marca de 1 milhão de seguidores. E, sem pretensão, tornou-se influenciador digital.>
Desde 2015 Vera Holtz mostra uma nova faceta para o público. Suas postagens performáticas, algumas polêmicas, já lhe renderam até o título de "rainha da internet". A atriz, de 66 anos, já declarou que as postagens dependem de sua inspiração e também do ritmo de trabalho. Vera, que tem 1,3 milhão de seguidores, já postou, entre dezenas de imagens, fotos com um pão no meio do coque - aliás, os cabelos brancos da atriz compõe quase um personagem nas performances -, vestida de árvore de Natal, com a cabeça em uma bacia com gelo, comendo absorventes femininos, entre outras excentricidades.>
A designer norte-americana Iris Apfel continua influenciando outras mulheres com seu modo de vestir e de se apresentar ao mundo. E prova que estilo não tem idade. Aos 98 anos é um dos principais nomes no mundo quando o assunto é moda e decoração. Na internet ela gosta de mostrar sua personalidade em looks sempre marcantes. >
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