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Entre panelas e fraldas, elas dão conta de tudo

Entre panelas e fraldas, elas dão conta de tudo

Elas são chefs e mães de crianças pequenas. Mas não abrem mão da cozinha e dos filhos: as duas paixões de suas vidas

Publicado em 22 de novembro de 2019 às 18:00

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Data: 12/11/2019 - ES - Vitória - Mães que são chefs - Bárbara Veroza, chef do Restaurante Soeta, com os filhos, Matias, 2 anos e Cora, três meses. (Fernando Madeira)

Antes, o universo delas girava em torno de panelas, legumes, massas, temperos. De uma hora para a outra, entraram as fraldas, mamadeiras, chupetas. Entraram os filhos. E elas, que se preocupavam basicamente em comandar suas cozinhas, passaram a ter que dar conta ainda dos bebês. Tudo ao mesmo tempo agora.

Sim, porque uma chef não consegue abandonar o barco - ou melhor, o fogão - quando vira mãe. E assim elas vão se desdobrando em duas, três, quatro para cumprir a jornada.

Júlia Faria, 35 anos, já sente o dolma apertado. Com Cora na barriga e Lucca correndo pela cozinha, ela vai administrando as coisas no seu Daju Bistrô, restaurante de cozinha artesanal que funciona há nove anos na Mata da Praia, em Vitória.

“O Lucca vem mais nos finais de semana. Até evito de deixá-lo na cozinha porque ele toca o terror! Não para um segundo! Quer subir na pia, abrir a torneira...”, diz Júlia, rindo meio que de nervoso.

É em casa que ela deixa o menino - sapeca como qualquer criança de 3 anos - à vontade nesse ambiente. “Ele sempre fica comigo quando vou cozinhar. É interessado! Fica me vendo fazer as receitas, pergunta tudo”, conta.

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Voltei a trabalhar quando ele tinha dois meses. O restaurante é meu. Não podia ficar ausente. E é pertinho de casa! Então, eu ficava indo e voltando para amamentar.

Júlia Faria
Chef do Daju Bistrô e mãe do Lucca
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A chef Julia Faria, do Daju Bistrô, com o filho Lucca, de 3 anos. (Arquivo pessoal)

No restaurante da família, em Iriri, é a mesma coisa. “Lá ele pega as panelas, joga tudo para cima, bate tampa… É diversão mesmo! E barulho”, ri a chef.

Bem pequenino Lucca teve que aprender a dividir a mãe dele com as panelas. “Voltei a trabalhar quando ele tinha dois meses. O restaurante é meu. Não podia ficar ausente. E é pertinho de casa! Então, eu ficava indo e voltando para amamentar. Depois, quando ele fez um ano e meio, foi para a creche em período integral. Até a creche foi difícil de achar, por causa dos meus horários”, lembra Júlia, casada com o empresário Carlos Alberto, de 32 anos.

Uma mulher, duas gestações

Data: 06/11/2019 - ES - Vitória - Natássia Miranda, chef do Pura Bali, com a filha Alice . (Ricardo Medeiros)

Alice tem só quatro meses de vida e não entende muito bem o que tanto sua mãe faz na cozinha. O jeito é ficar por perto, a uma distância segura do fogo e das facas, claro.

Quando está em casa, Natássia Miranda, 32 anos, mantém um olho no cozido e outro na filhota. Mas ela também tem que se ocupar bastante de outro “bebê”: o restaurante, que também acaba de nascer. “Os dois nasceram praticamente juntos! Brinco que tive duas gestações”, conta ela, referindo-se ao Pura Bali, espaço voltado para alimentação saudável recém-aberto na Praia do Canto, em Vitória.

A comida ali é leve, mas a rotina é pesada. “O restaurante me dá muito mais trabalho que minha filha! Ela é muito tranquila”, comenta Natássia.

Apesar disso, a chef sente na pele o sacrifício que é passar tanto tempo longe da pequena. “Fico longe dela oito horas por dia. Saio de casa às 13h e só volto para casa às 21h. Não tenho coragem de levá-la ao trabalho, já que ela não tomou todas as vacinas ainda. E não tem um lugar confortável para ela. Conto com uma rede de apoio para ficar com a Alice. Tive complicações com amamentação e, por isso, entrei com suplementação. Meu leite foi secando, mas faço questão de manter o peito. Quero passar essa experiência para ela”.

Enquanto está lá, cozinhando, Natássia fica imaginando o dia em que verá a menina correndo por entre as mesas. Será que ela vai gostar de açaí?

Feliz no trabalho e como mãe

Bárbara Verzola. Ela é um dos nomes mais respeitados da gastronomia capixaba e brilha à frente do Soeta, restaurante de comida contemporânea na Capital. É também a mãe do Matias, de 2 anos, e da Cora, de apenas 3 meses de vida. E isso diz muito sobre essa mulher.

Aos 39 anos, ela encara a criação dos dois filhos pequenos e a função de chef com leveza, transmitindo plena realização. Pensa que ela reclama do cansaço, das noites maldormidas? “Ser mãe é cansativo, claro. Mas sou uma mãe melhor depois de uma boa noite de trabalho. Trabalhar me faz feliz, faz parte do que eu sou. Acredito que a gente consegue ser uma mãe melhor quando a gente está feliz!”, diz.

Apesar da tranquilidade de agora, Bárbara admite que sofreu um certo baque com a chegada do Matias. “Mudou tudo, né? Eu tinha medo de não conseguir voltar à minha vida normal”. Com Cora foi bem diferente. “Com o segundo filho, a gente já está mais organizada, já sabe onde o calo aperta, se é sono, se é amamentação. E já se cerca de quem pode te ajudar. Tenho uma boa rede de apoio, com um marido incrível, mãe e sogra... E Cora é uma bebezinha maravilhosa!”

E assim ela vai levando a rotina entre as panelas e as mamadas. Mas quando chega em casa, ela passa longe da cozinha. “Cozinho muito pouco em casa, não tenho paciência. Muitas vezes, levo comida do restaurante lá para casa. O Matias me vê cozinhar muito pouco. É mais o café da manhã, quando faço uma panqueca. Deixo ele me ajudar a mexer, a abrir um ovo”, conta a chef.

É o máximo que ela vai estimular do filho. “Ele pode querer cozinhar, mas não vou estimulá-lo a ser cozinheiro. Claro que amo o que faço, mas é uma profissão muito dura, não sei. Não tenho esse sonho de ele ser meu substituto”.

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Ser mãe é cansativo, claro. Mas sou uma mãe melhor depois de uma boa noite de trabalho. Trabalhar me faz feliz, faz parte do que eu sou

Bárbara Verzola
Chef do Soeta e mãe da Cora e do Matias
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