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E a sororidade? Especialistas analisam palavras que bombaram em 2019

E a sororidade? Especialistas analisam palavras que bombaram em 2019

Será que as pessoas sabem, de fato, o que significam essas expressões que viraram modismos nas redes sociais?

Publicado em 27 de dezembro de 2019 às 16:30

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Nuvem de palavras. (Marcelo Franco)

Quem frequenta as redes sociais deve ter visto algumas hashtags circulando com muita frequência este ano. É o caso da palavra sororidade que, embora não exista nos dicionários formais da língua portuguesa, ganhou corpo e voz por aí. Mulheres que nem se julgam militantes compraram a ideia e a compartilharam na internet.

O mesmo aconteceu com expressões como empoderamento, empatia, equidade… Todas muito associadas ao movimento feminista. Elas bombaram em 2019. Mas a questão é: ao se tornarem modismos virtuais e serem utilizados de maneira excessiva até, esses nomes tão fortes e cheios de significados não correm o risco de acabar se enfraquecendo um pouco?

Gabriela Santos Alves, professora do departamento de Comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e pesquisadora de teoria feminista, não vê risco de banalização. Para ela, essa massificação linguística não é algo negativo.

“Quando uma expressão se torna de uso massivo, isso tem um potencial positivo porque chega às pessoas. Por exemplo: uma mulher que nunca ouviu falar sobre sororidade talvez se sinta interessada ao ver numa hashtag. Isso pode ser o ponto de partida para o entendimento do significado das palavras. Então, não vejo problema nisso. Pelo contrário”, comenta ela.

Para a professora, esse fenômeno nas redes sociais é reflexo de um comportamento social. “O que as pessoas estão falando em seus círculos vai para a internet, que não é um mundo fora do que a gente vivencia. Essas palavras vêm muito de uma prática feminista, de mulheres que têm questionado as violências simbólicas e físicas e estão criando uma rede de apoio”.

Sororidade

O substantivo feminino sororidade significa uma espécie de pacto entre as mulheres, sob vários pontos de vista (ético, político, na questão da igualdade de gênero…). Não se sabe ao certo quando o termo começou a se disseminar como corrente.

Ao contrário do que se pode pensar, no entanto, ele não virou só mais um clichê popular. “Alguns assuntos não se aprofundam, viram meme. Um tuíte que é provocador em algum momento pode gerar conscientização. Mas dado o curto espaço do texto, a gente não vai a fundo. Pode, porém, ser o ponto de partida”, diz Gabriela.

A mestre em Direito e especialista em trabalhos de igualdade de gênero, Renata Bravo, concorda com essa tese. “As redes sociais são muito criticadas. Mas num país de dimensões continentais como o nosso, a internet torna tudo mais próximo. Vejo benefícios no uso das hashtags. Claro que, como em todo movimento, seja nas redes sociais, seja nas ruas, tem gente que distorce, que vai usar sem entender o porquê”, observa.

Não faltou gente tentando desqualificar o conceito, claro. “Sempre tem um outro movimento, de dizer que falar em empoderamento ou em sororidade é ‘mimimi’. Uma grande mentira do patriarcado é afirmar que mulher não é amiga de mulher. Isso desfavorece nosso lado, nossas aproximações, faz com que a gente não se mobilize”, reforça Gabriela.

Aspas de citação

O que as pessoas estão falando em seus círculos vai para a internet, que não é um mundo fora do que a gente vivencia. Essas palavras vêm muito de uma prática feminista, de mulheres que têm questionado as violências simbólicas e físicas e estão criando uma rede de apoio

Gabriela Santos Alves
Professora universitária 
Aspas de citação

Ela lembra um episódio recente, em que uma foto em que a atriz Isis Valverde aparece amamentando o filho repercutiu de forma negativa a partir de uma manchete desrespeitosa de um site, que sexualizou o ato de amamentar. Isis foi alvo de comentários maldosos, agressivos. Rapidamente, o caso ganhou grandes proporções. Uma espécie de “mamaço” virtual tomou conta das redes. Neles, mães compartilharam a hashtag “não sexualize”.

“Algumas pessoas sexualizaram o ato de amamentar, e outras mulheres saíram em defesa da Isis. A gente precisa se proteger em tantas esferas. É preciso que fiquemos atentas a esses movimentos de exclusão e violência contra nós. Assim, a gente se fortalece”, dispara a professora da Ufes.

Impacto

E de um viral nas redes, um tópico pode ter desdobramentos práticos e gerar mais impacto. Uma amostra disso foi vista no último carnaval, quando o empoderamento foi parar nos versos das marchinhas nos blocos de rua, que estampavam cartazes com “Não é não”, numa campanha para coibir o assédio e a violência contra a mulher.

Renata cita também o “Vemprarua”, no campo político. “De fato, muita gente foi para a rua sem saber direito por que estava na rua. Mas isso levou a discussões, foi algo importante para mudar o cenário no país. Assim como a hashtag ‘EleNão’, nas eleições de 2018, que começou nas redes e foi para as ruas, envolvendo também mulheres que não eram militantes, mas que se viram atacadas por alguns discursos. Foi algo que teve força e até gerou um movimento contrário, o ‘EleSim’”.

Para as especialistas, a juventude sabe bem como incorporar esses movimentos no seu dia a dia. “Essa nova geração, de pessoas com idades abaixo dos 20 anos, reconhece as violências. Tenho muita confiança de que é uma geração transformadora, que vai combater essas opressões”, salienta Gabriela.

Para 2020, Renata acredita que outra hashtag que deve se popularizar é a #VamosJuntas, que aborda a participação feminina na política. “Já tem gente discutindo isso. Acho que nas próximas eleições municipais, um assunto que estará em destaque é o da violência política de gênero. Ainda são menores as oportunidades que as mulheres têm de participação política. Dentro dos partidos, os homens ainda são os ‘cabeças’. Muitas mulheres são usadas como laranjas”.

Fique por dentro

Empoderamento - Empoderar é um verbo que se refere ao ato de dar ou conceder poder para si próprio ou para outrem. O empoderamento feminino é o ato de conceder o poder de participação social às mulheres, garantindo que possam estar cientes sobre a luta pelos seus direitos, como a total igualdade entre os gêneros

Sororidade - É a união e aliança entre mulheres, baseado na empatia e companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum. O conceito está fortemente presente no movimento feminista, sendo definido como um aspecto de dimensão ética, política e prática deste movimento de igualdade entre os gêneros

Empatia - Empatia significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo

Equidade - é o substantivo feminino com origem no latim aequitas, que significa igualdade, simetria, retidão, imparcialidade, conformidade. O conceito também revela o uso da imparcialidade para reconhecer o direito de cada um, usando a equivalência para se tornarem iguais.

“NãoÉNão – A hashtag se popularizou no carnaval deste ano virou lema de uma campanha para coibir o assédio e a violência contra a mulher. Ela serviu para deixar em evidência as várias formas de assédio, de modo que a vítima reconheça a violência, não se intimide, reaja e denuncie

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Fonte: www.significados.com.br e fontes entrevistadas

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