Viajar sempre foi uma paixão para a jornalista Carminha Corrêa. Depois de quatro décadas de trabalho, em 2018 ela resolveu se aventurar numa 'missão' de um mês pelo Nepal. Estudiosa do budismo, era a oportunidade de se aprofundar na religião. "Um amigo francês me apresentou a um monge do Nepal, que me convidou para conhecer e passear pelo país. Fiquei num templo, onde ele vivia, para estudar mais sobre o budismo e receber orientações sobre meditação e relaxamento", cota.
Em maio de 2019 ela voltou ao país para ficar 5 meses no mosteiro aprendendo a meditar. A capixaba não imaginava, mas aquele confinamento voluntário foi uma preparação para enfrentar o isolamento social imposto pelo coronavírus. E ela tem compartilhado com amigos e até desconhecidos, através de sua rede social, alguns ensinamentos. "A gente vive dentro de uma sociedade tensa. Tenho as preocupações normais, mas tenho sofrido menos. Não deixo que a preocupação da pandemia me absorva".
Carminha conta que o budismo tem ensinamentos valiosos para aguentar um tempo tão perverso, como aprender a ficar em silêncio, a gostar da própria companhia, além de cuidar do corpo, da saúde e da alimentação. "As pessoas estão desorientadas porque tinham hábitos que não eram saudáveis. É preciso aproveitar esse momento para estar consigo mesmo, para perceber o companheiro, as crianças... A Covid-19 está fazendo a gente descobrir a bondade que existe dentro de nós. Percebemos o quanto somos generosos".
Ela, que medita todos os dias às 4 horas da manhã, diz que é fundamental cuidar da mente. "É preciso nos acalmar e perceber que não temos o controle de resolver o problema do vírus. Vamos cuidar da mente e ser generoso, conosco e com o outro. É preciso saber que somos seres humanos e não máquinas. Aprender a ter calma e tranquilidade. Aproveitar que estamos com tempo e ligar para amigos, por exemplo".
A primeira vez que esteve no Nepal foi uma experiência preparatória para o confinamento atual. Lá, embora não fosse obrigada a ficar dentro do templo, optou por sair pouco e se dedicar aos estudos. "Foi uma experiência fantástica porque vivi mais tempo comigo mesma, analisando o meu interior. O budismo nos ensina a nos conhecer. Passei a me conhecer melhor, a estar mais atenta, a controlar as emoções. Fui aprendendo a controlar a mente com meditação e entoando mantras. O budismo ensina que dor e sofrimento são duas sensações e emoções que todos vamos passar", fala.
Já na segunda vez, quando ficou 5 meses, foi um período mais difícil. "Foi um momento de adaptação. Estava rompendo meu laços, deixando para trás casa, vida, trabalho. Para conseguir o que desejava precisava soltar os laços, um momento de desapego", relata. Foi nesse período que aprendeu a tirar as impurezas do corpo e acalmar a mente contra sentimentos que fazem mal, como inveja, ganância e raiva. Atualmente ela tem usado o Instagram para compartilhar mensagens, fazer lives de meditação e ajudar outras pessoas. "A Covid-19 tirou a liberdade de ir e vir, que é algo importante para nós, ocidentais. A gente sempre teve uma vida cheia de programação, agitada e, de repente, a gente precisa parar. Como fazer esse processo que nunca fizemos? É preciso conhecer a mente e o próprio corpo, e eliminar aquilo que faz mal". Abaixo ela lista o passo-a-passo para aprender a meditar.
1 - Escolha o local de sua preferência;
2- Sente-se num sofá, numa cadeira, numa almofada, no recosto da cama;
3- Mantenha uma postura ereta, coluna reta (para não causar danos às costas);
4- Relaxe pescoço, ombros, braços;
5- Pratique a respiração: inspire e expire lentamente umas 10 vezes;
6- Repouse os olhos e os direcione para baixo, 45 graus, ou para a ponta do nariz;
7- Pouse os braços sobre as pernas, ou entrelace os dedos, sendo a mão esquerda sobre a direita;
8- Coloque a língua no céu da boca e pouse os lábios um sobre o outro; (para não produzir saliva e ter que engolir, desconcentrando-se);
9- Comece a meditação: respire e inspire lentamente, até ficar normal;
10- Relaxe a mente e não pense em nada; se um pensamento surgir deixe que ele vai partir como as nuvens navegando pelo céu;
11 Abstenha-se de focar a mente em um pensamento... não foque em nada. MENTE VAZIA é o segredo da meditação.
12 Não se mova! Corpo ereto, respiração lenta, olhos pousados e relaxados;
13 Fique na posição pelo tempo que lhe for confortável e relaxante; prolongue o tempo que quiser (não tem contraindicação)
14 Foque a mente no vazio e não preste atenção aos sons do entorno, perceba os barulhos apenas;
15 Quando sentir necessidade ou desejar retorne, interrompendo a meditação calmamente, abrindo os olhos, soltando as mãos e se posicionando para se levantar;
16 Faça meditação quando se sentir bem ou quando tiver uma dor de cabeça, uma tensão, uma angústia, uma dor qualquer que você sabe estar ligada ao emocional à mente agitada.
17 Duração: pelo menos 20 minutos duas vezes ao dia ou durante o tempo que se sentir bem na postura.
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