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Como o calor extremo reforça a desigualdade social no Espírito Santo

Como o calor extremo reforça a desigualdade social no Espírito Santo

A onda de calor que atingiu o Brasil nas últimas semanas, colocou o Espírito Santo em alerta de “grande perigo”; o calorão, porém, não é sentido da mesma forma por todos. Em algumas localidades, falta o básico: vento

Publicado em 22 de novembro de 2023 às 18:32

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Nas últimas semanas, a onda de calor deixou (e ainda deixa) os termômetros 5°C acima da média em todo o Espírito Santo. Mas a temperatura extrema não é sentida igualmente por todos os moradores. Nas comunidades, o teto das casas esquentam, não há ventiladores e, debaixo de um sol escaldante, os moradores precisam subir e descer os morros. Além disso, ainda lidam com a falta d'água constantemente.

Para essas pessoas, falta o básico e as casas são construídas em regiões periféricas do jeito que dá, sem planejamento e "ventilação cruzada" - termo que os arquitetos utilizam para definir a forma como o vento entra e refresca a residência.

A respiração ofegante e o suor são sensações frequentes da autônoma Márcia Helena Carias. O sol forte castiga, mas o problema não é só esse. Todo dia, ao menos quatro vezes, ela precisa subir e descer para voltar para casa no Morro do Romão, em Vitória.

Como o calor extremo reforça a desigualdade social no Espírito Santo
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A gente faz malabarismos para driblar o calor, mas está complicado. Não dá para ficar dentro de casa, porque não tenho ventilador, fica aquele forno. Está sendo complicado. Ainda mais para as minhas crianças pequenas

Márcia Helena Carias
Autônoma
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Calor extremo reforça a desigualdade social
Subir as escadarias debaixo do sol escaldante torna o dia dos moradores de regiões altas ainda mais difícil. (Fernando Estevão)

Entre os malabarismos para driblar o calor, está ficar fora de casa. Ela e os filhos estão provisoriamente na casa da irmã - que é mais fresca.

Calor tem de sobra, o que falta para muitas famílias é o básico: vento.

“Muito calor, tem vezes que preciso abrir a porta da geladeira e deixar aberta para dar uma refrescada. É calor demais, o ventilador não dá conta. A poeira é muito forte também”, afirmou o assistente de logística Leonardo Vasconcelos Dias.

Para diminuir os contrastes entre bairros da periferia e outras localidades, o arquiteto e urbanista, Alexandre Ricardo Nicolau, está organizando um projeto de assistência técnica habitacional para reformar algumas residências. O bairro escolhido para iniciar o projeto é Jaburuna, em Vila Velha.

“As melhorias habitacionais vão focar em algumas questões específicas, como ventilação, adequar parte elétrica, impermeabilizar vazamentos, construção de banheiros, vamos buscar parcerias com lojas e empresas para viabilizar esse trabalho”, explicou Alexandre Ricardo Nicolau.

A casa da dona Francisca Batista dos Santos é uma das primeiras avaliadas por Alexandre. Uma única janela tem a missão de refrescar a casa. “Quando não está ventando, é uma quentura que ninguém aguenta”, afirma.

Calor extremo reforça a desigualdade social
O arquiteto Alexandre visita a casa de douma moradora, que possui apenas uma janela. (Fernando Estevão)

Mudanças, mesmo que simples, podem mudar o cenário de muitas casas. Para o arquiteto, alterar a realidade dessas famílias pode transformar toda a sociedade.

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Hoje a Fiocruz já tem estudos que colocam a casa sob uma perspectiva de saúde pública e que aponta que todo conjunto da sociedade é afetado. As crianças vão acessar mais o SUS, ficar mais doente. As pessoas faltam ao trabalho porque ficam mais doentes

Alexandre Ricardo Nicolau
Arquiteto e urbanista
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O projeto de Alexandre ainda está no início. Para fazer triagem, ele conversa com os moradores das residências, pois as casas precisam passar por interdição. O morador precisa entender e aceitar. Para angariar os fundos, ele vai buscar parcerias com iniciativas privadas.

Operações que podem significar uma vida mais digna. Para fazer com que para muitos moradores, o dia azul representa um dia bonito, não mais um dos vários problemas enfrentados.

“Quando se fala de calor e de infraestrutura, os moradores tentam resolver nem que seja colocando uma piscina provisória, uma caixa d’água, banho de mangueira. Quando não falta água, é outro problema grave que as favelas enfrentam. E a gente busca esse campo da orientação, porque o poder público precisa atuar nesses casos. Como promover o melhor ambiente para essas famílias? No caso de temperaturas elevadas, estamos falando de situações extremamente adversas que essas famílias enfrentam”, afirmou Gabriel Nadipeh, presidente da Central Única das Favelas (Cufa).

Com informações do repórter João Brito, da TV Gazeta

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