Medicina e história: dois anos e meio de uma crise sanitária tem nos mostrado, sim, que as doenças podem ser instrumentos através dos quais é possível estudar aspectos variados da vida social
Medicina e história: dois anos e meio de uma crise sanitária tem nos mostrado, sim, que as doenças podem ser instrumentos através dos quais é possível estudar aspectos variados da vida social. Crédito: Pixabay

As doenças têm história e ajudam a explicar a sociedade

Numa época em que a história se voltava para os grandes heróis, as guerras, e os temas da economia e da política, fazer a defesa de que era possível conhecer as sociedades do passado a partir de temas incomuns, como as doenças, foi algo  revolucionário

Tempo de leitura: 3min
Publicado em 13/08/2022 às 01h00
  • Dilene Raimundo do Nascimento

    É médica, membro do GT de História da Saúde e das Doenças da ANPUH e do conselho consultivo da Revista Locus. Docente do Programa de História das Ciências e da Saúde, da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

“As doenças têm história”, esse é o título da versão portuguesa de uma coletânea prefaciada pelo grande historiador francês Jacques Le Goff. A obra, traduzida em 1997, veio a público em 1985 e costuma ser tomada pelos historiadores contemporâneos como um dos manifestos a legitimar os estudos dos eventos e processos envolvidos com a saúde e as doenças em sociedades diferentes e em tempos históricos diversos.

A corrente historiográfica à qual Le Goff pertence – conhecida como Escola dos Analles – defendia já na primeira metade do século XX que tudo aquilo que diz respeito ao homem é digno de figurar como objetos de estudo para os historiadores. Numa época em que a história se voltava para os grandes heróis, as guerras, e os temas da economia e da política, fazer a defesa de que era possível conhecer as sociedades do passado a partir de temas incomuns, como por exemplo as doenças, foi algo realmente revolucionário.

Hoje, dois anos e meio de uma crise sanitária tem nos mostrado, sim, que as doenças podem ser instrumentos através dos quais é possível estudar aspectos variados da vida social. A pandemia reinante tem mostrado como a doença tem impactos importantes não só na vida do doente, mas na vida de toda a comunidade – como nas atividades econômicas, na esfera política, no âmbito da ciência, na criação de medicamentos, na incorporação e reforço de hábitos higiênicos, sociais, na vida familiar, ou ainda nas mentalidades e nas percepções que as pessoas e coletividades elaboram sobre a doença e seu enfretamento.

A história das doenças é o carro-chefe de um evento que acontece entre os dias 13 e 15 de setembro na Ufes, reunindo um time da pesada para discutir não só as doenças em perspectiva histórica, mas também, os tratamentos, as políticas de saúde, a experiência do adoecimento, a produção da ciência, alimentação e saúde, patrimônio da saúde, entre vários outros temas. E assim, torna-se um espaço de debate em que se entrecruzam diferentes áreas de conhecimento, não só da História como da Medicina, Estatística, Sociologia, Enfermagem e Antropologia.

O Colóquio de História das Doenças, que já se encontra em sua décima edição, é organizado anualmente por um pool de pesquisadores de diferentes e importantes instituições (Ufes, Fiocruz, UFMG, Ufop) e tem contribuído não só para difundir o debate no campo da história das doenças como para congregar, cada vez mais, pesquisadores e estudiosos do país sobre o tema.

O evento contará com duas conferências, cinco mesas-redondas, duas sessões de comunicações coordenadas, um minicurso e duas oficinas. As inscrições para apresentação de trabalhos nas comunicações coordenadas e para ouvintes ainda estão abertas. Para saber mais sobre o evento e toda a sua programação é só entrar no endereço do evento.

A Gazeta integra o

Saiba mais
UFES História do es doenca medicina FioCruz

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.