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Trump pode perder maioria no Congresso em novembro, apontam pesquisas

Trump pode perder maioria no Congresso em novembro, apontam pesquisas

Eleições legislativas vão renovar deputados e um terço dos senadores

Publicado em 4 de junho de 2018 às 10:44

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O presidente dos Estados Unidos Donald Trump. (Gage Skidmore | Flickr)

O governo de Donald Trump poderá ter, em alguns meses, mais uma dor de cabeça: perder a maioria republicana no Congresso. Especialistas indicam que as eleições legislativas de novembro, que vão renovar todos os deputados e um terço dos senadores, devem gerar uma onda democrata que pode paralisar a Casa Branca. As primárias mostram os dois partidos com estratégias diferentes, com os democratas escolhendo candidatos moderados, que podem fisgar os eleitores independentes, e republicanos optando por ultraconservadores.

Embora as eleições ocorram apenas em cinco meses, grande parte dos estados já escolheu seus candidatos, criando um perfil em cada legenda que começa a se repetir pelo país. E uma série de fatos favorece a análise de que o ano tende a ser “azul”, cor dos democratas. Além da tendência normal de mais apoio à oposição nas eleições de meio de mandato presidencial, a gestão de Trump tem afastado os republicanos moderados da disputa. Até o momento, 44 deputados e senadores do partido afirmaram que não vão disputar a reeleição — um recorde muito acima da média histórica de 30 congressistas que desistem. Isso favorece a conquista da cadeira por parte da oposição.

— Geralmente, 95% dos candidatos são reeleitos. O número de aposentadorias significa um medo de perder, simplesmente estar cansado da política partidária e da pressão pública. Mas, este ano, os republicanos moderados parecem não gostar da direção de seu partido sob Trump — afirmou John Zogby, da John Zogby Strategies. — Até agora, os defensores de Trump estão saindo nas primárias para votar nos conservadores, o que pode isolá-los em novembro dos eleitores moderados.

PROBLEMAS TAMBÉM PARA DEMOCRATAS

Isso pode mudar o equilíbrio de forças. Atualmente os republicanos detêm 235 das 435 cadeiras da Câmara dos Representantes e 51 dos cem senadores. De acordo com a compilação das pesquisas feitas pelo site Realclearpolitics, há 34 vagas de deputados em eleições disputadas, sendo 30 delas atualmente ocupadas por republicanos, e oito cadeiras de senadores sem definição clara, sendo cinco delas atualmente nas mãos dos democratas. Muitos já falam na possibilidade, até então remota, de os democratas vencerem e controlarem as duas casas do Legislativo.

— Normalmente, as eleições de meio de mandato (presidencial) favorecem a oposição. E há um desgaste com a política de Trump e os candidatos republicanos mais conservadores. A gente sabe que este ano os democratas vão ganhar espaço, será um ano azul, agora precisamos ver os números — afirmou ao GLOBO Clifford Young, presidente para os Estados Unidos do instituto de pesquisa Ipsos. — O Partido Democrata é favorito para assumir o controle da Câmara de Representantes, e tem 50% de chances de dominar também o Senado.

Young afirma que fatores externos, com uma melhora na economia, um ataque terrorista ou até uma guerra, que tem grandes impactos nas eleições presidenciais, influenciam menos nas legislativas, mais espalhadas pelo país em diversos candidatos. E que o sentimento anti-Trump está muito forte na sociedade americana, mobilizando os eleitores democratas:

— As eleições especiais (quando há a necessidade de substituir um senador ou deputado, pois os EUA não têm a figura do suplente) que ocorreram até então mostram isso. Os democratas ganharam em locais que eram tradicionalmente republicanos, e mesmo onde os republicanos ganharam, foi por uma margem muito mais apertada do que em outras eleições — disse ele.

Porém, nem tudo são flores no campo da oposição. Se por um lado a escolha de candidatos moderados facilita a conquista de eleitores independentes e até mesmo de republicanos que não concordam com as políticas de Trump, por outro, cria problemas entre os progressistas mais aguerridos. Desde as primárias das eleições presidenciais de 2016, o grupo de Bernie Sanders, que perdeu a indicação para Hillary Clinton, tenta, sem sucesso, levar a legenda mais à esquerda.

— Mas isso não é um problema, este tipo de divisão interna sempre existe dentro das legendas num sistema de dois partidos. Mas não vejo uma guerra ideológica entre os democratas — ponderou Simon Rosenberg, presidente e fundador da Nova Rede Democrata (NDN, a sigla em inglês). — O movimento anti-Trump é muito forte, e isso falará mais alto.

Ele afirma, ainda, que a legenda tem priorizado “pessoas comuns” nas candidaturas, e não apenas políticos tradicionais. As minorias também estão emplacando mais candidatos nas primárias, juntamente com líderes sociais. E a legenda terá um número recorde de mulheres disputando cargos, refletindo a nova força do movimento feminista nos EUA, que chegou em todos os pontos da sociedade americana.

— Mas acredito que os políticos tradicionais terão mais dificuldades este ano, e estamos no partido com muitas caras novas, jovens, pessoas que estão energizando as bases — disse ele.

PERSONALIDADE DE TRUMP PIORA QUADRO

Se a tendência se consolidar, Trump viverá o pesadelo dos últimos anos de Barack Obama: tentar governar com um Congresso hostil. Se o democrata sequer conseguiu aprovar o nome de um juiz para a Suprema Corte, com o republicano e seu estilo explosivo a situação tende a ser ainda pior, lembrando que, mesmo com a maioria de seu partido nas duas Casas, ele teve dificuldades para aprovar uma série de projetos nestes primeiros 17 meses na Casa Branca.

— Se isso ocorrer, será um caos: o governo ficará parado, não veremos nenhum projeto sendo aprovado — disse Young, da Ipsos.

A oposição controlando ao menos uma das Casas do Congresso deve dar força, inclusive, para pedidos de impeachment do presidente.

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— Se Trump controlar o Congresso após a eleição, ele estará em boa forma para aprovar sua agenda. Se perder o controle, ele pode ter que mudar de direção, mas não tenho certeza se consegue fazer isso, por causa de sua personalidade — disse Zogby.

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