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Recuperação e virada já marcaram eleições americanas em 1976 e 1988

Recuperação e virada já marcaram eleições americanas em 1976 e 1988

Os contextos e os personagens diferem bastante entre si e em relação ao pleito deste ano, mas servem de alerta para as campanhas de Trump e de seu adversário, Joe Biden

Publicado em 10 de setembro de 2020 às 15:54

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O presidente dos EUA, Donaldo Trump, usando máscara de proteção
O presidente dos EUA, Donaldo Trump, usando máscara de proteção. (Reprodução Twitter)

O discurso de George Bush na convenção republicana de 1988 serviu de inspiração para Donald Trump. Naquele ano, Bush inaugurou o que ficou conhecido como campanha negativa moderna e conseguiu uma virada histórica sobre o democrata Michael Dukakis na disputa.

Bush estava 17 pontos atrás nas pesquisas, mas encaixou ataques fortes e direcionados ao adversário –associando-o a posições consideradas radicais e a uma ameaça à classe média– que mudaram o jogo e resultaram na vitória do republicano por 53% a 46%.

Doze anos antes, o republicano Gerald Ford não conseguiu o mesmo desempenho contra o democrata Jimmy Carter, mas transformou uma disputa que parecia perdida numa corrida bastante acirrada. Carter chegou a liderar levantamentos por mais de 30 pontos percentuais, mas a eleição terminou com diferença de apenas sete: 55% a 48% para o democrata.

Os contextos e os personagens diferem bastante entre si e em relação ao pleito deste ano, mas servem de farol e também de alerta para as campanhas de Trump e de seu adversário, Joe Biden, em um reflexo de como a opinião pública pode mudar rapidamente nos EUA.

Trump começou o ano como favorito à reeleição, surfando nos bons dados da economia e nas divisões do Partido Democrata, que parecia fadado a repetir o xadrez de 2016, quando a ala mais progressista, ligada ao senador Bernie Sanders, não apoiou a candidatura de Hillary Clinton.

A pandemia e a recessão econômica, porém, complicaram o cenário para o presidente, que tenta mudar a narrativa para que a campanha não seja um referendo sobre sua condução errática e ineficaz diante da crise que já matou quase 190 mil americanos e deixou milhões de desempregados.

Segundo o site Five Thirty Eight, que compila a média das principais pesquisas, Biden tem hoje 50,6% ante 43,1% de Trump –diferença que já chegou a quase dez pontos.

Em busca de uma virada, Trump bebe da experiência de Bush, ancorado na tese de que grande parte dos eleitores começa a prestar atenção na corrida presidencial só a partir de setembro, e que ataques mais fortes em relação ao adversário podem fazer mais efeito nesse período.

Em 1988, estrategistas da campanha republicana constataram –em meio a pesquisas com grupos de eleitores setorizados– que o perfil de Dukakis era pouco conhecido nacionalmente (ele era governador de Massachusetts) e que suas posições mais progressistas poderiam prejudicá-lo na eleição presidencial.

Bush foi orientado a investir na ideia de que seu adversário era contrário à pena de morte e favorável a regimes alternativos. O republicano explorou um caso específico em que um homem negro estuprou uma mulher branca e esfaqueou o namorado dela durante um programa equivalente ao regime semiaberto de Massachusetts, então comandado por Dukakis.

O democrata também foi alvo de rumores sem comprovação de que sua saúde mental estava comprometida e que ele havia se tratado de uma depressão –Dukakis convocou uma entrevista para dizer que não lutava contra a doença.

Trump investe nos mesmos polos contra Biden, apresentando-o como um extremista de esquerda, apesar de seu perfil centrista, e dizendo que o democrata está senil.

Mas há diferenças: o ex-vice de Barack Obama é mais conhecido que Dukakis, e o atual presidente enfrenta uma rejeição grande (na casa dos 54%), enquanto Bush era vice de um governo mais bem avaliado.

Além disso, dizem analistas, Biden tem respondido mais rápida e agressivamente aos ataques de Trump. Bush venceu a eleição de 1988 em 40 dos 50 estados americanos.

Em 1976, a disputa não teve o mesmo sucesso para os republicanos, mas houve notável recuperação de Gerald Ford, que, abandonado por Ronald Reagan, concorreu em meio a um partido rachado.

Líder da ala moderada dos republicanos, Ford era o presidente em exercício –assumiu o cargo em 1974 após a renúncia de Richard Nixon– e concorreu à nomeação com Reagan, expoente mais conservador do partido. As primárias foram acirradas, e Ford venceu com pequena vantagem.

Apesar da fratura da legenda, o então presidente tinha a máquina do governo e apostava em eventos que lhe dessem publicidade e tempo na TV, apresentando-se como um líder já testado.

Do outro lado, estava Jimmy Carter, senador e ex-governador da Geórgia que se dizia um nome centrista e sem envolvimento em esquemas de corrupção. O argumento teve apelo em parte do eleitorado porque Ford havia assinado a anistia de Nixon, isentando-o de qualquer crime que o ex-presidente poderia ter cometido durante o seu mandato.

Nixon foi eleito presidente em 1968 e reeleito em 1972. Para garantir essa última vitória, porém, ordenou escutas telefônicas e roubo no escritório democrata, num esquema revelado pelo jornal The Washington Post que ficou conhecido como Watergate.

Sem condições de governar, Nixon renunciou para não sofrer impeachment. Seu vice, Spiro Agnew, também renunciou, e Ford assumiu a Casa Branca em 1974, já de olho na candidatura em 1976.

Sua imagem ficou desgastada com a concessão da anistia a Nixon, somada a um cenário econômico ruim, mas Carter também cometeu deslizes que tiveram altos custos políticos e ajudaram a diminuir sua vantagem.

A vantagem de Carter, que chegava a 33 pontos percentuais no meio do ano, despencou, mas o democrata ainda conseguiu vencer a eleição com 55% ante 48% de Ford.

Um dos pontos que favoreceram a arrancada de Ford, dizem especialistas, foi seu bom desempenho no primeiro debate entre os candidatos –e o primeiro televisionado desde a década de 1960–, quando Carter foi avaliado como vago e pouco experiente.

Em meio à pandemia, os debates ganham ainda mais relevância em uma campanha com pouco contato entre candidatos e eleitores. O primeiro entre Trump e Biden, marcado para o fim de setembro, é esperado como marco da reta final de uma das eleições mais imprevisíveis da história americana.

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