> >
Por que governo Trump pode promover maior mudança na política de drogas dos EUA em décadas

Por que governo Trump pode promover maior mudança na política de drogas dos EUA em décadas

A possível emissão da ordem presidencial incluindo a cannabis na mesma categoria do Tylenol, que contém codeína, marcaria a mudança mais significativa da política de drogas americana desde 1971.

Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 16:44

Imagem BBC Brasil
A maioria dos Estados americanos permite o uso da cannabis para fins medicinais e 24 Estados também autorizam seu uso recreativo Crédito: Getty Images

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve assinar uma ordem executiva que irá ampliar o acesso à cannabis.

Esta medida vem sendo anunciada há algum tempo e, se confirmada, marcará a mudança mais significativa da política americana em relação às drogas nas últimas décadas.

A ordem deve reclassificar a cannabis, que deixará de ser um narcótico do Anexo 1, passando a ser classificada no Anexo 3 — a mesma categoria do medicamento Tylenol, que contém codeína, segundo indica a imprensa americana.

Mesmo com a reclassificação, a cannabis permanecerá sendo ilegal em nível federal. Mas sua inclusão no Anexo 3 permitirá a expansão das pesquisas sobre seus potenciais benefícios.

Diversos legisladores republicanos argumentaram contra a medida. Alguns defendem que ela poderá normalizar o uso da cannabis.

A Agência de Repressão às Drogas dos Estados Unidos (DEA, na sigla em inglês) indica que os narcóticos do Anexo 3 (que também incluem a cetamina e esteroides anabolizantes) apresentam "potencial baixo a moderado de dependência física e psicológica".

A ordem executiva poderá ser publicada ainda nesta quinta-feira (18/12), mas a previsão pode se alterar, segundo a rede de TV CBS, parceira da BBC nos Estados Unidos.

A nova classificação também poderá trazer implicações fiscais para as lojas de cannabis autorizadas, nos Estados onde a venda é permitida. As regulamentações atuais impedem que elas façam uso de certas deduções de impostos, caso vendam produtos do Anexo 1.

Diversos órgãos de imprensa americanos informaram que o anúncio pode também incluir um programa-piloto, que permitiria que alguns cidadãos americanos mais idosos recebam reembolso pela compra de canabidiol para o tratamento de certas condições, incluindo o câncer.

Nos últimos anos, a maioria dos Estados americanos aprovou a cannabis para certos usos medicinais e cerca da metade (24 dos 50 Estados) legalizou seu uso recreativo.

Mas, desde 1971, a cannabis é considerada narcótico do Anexo 1, o que significa que ela não tem uso medicinal aprovado e apresenta alto potencial de abuso.

No início da semana, Trump declarou que estava "considerando" a medida, devido à "enorme quantidade de pesquisas que não pode ser feita sem a reclassificação".

O governo Biden sugeriu uma reclassificação similar e, em abril de 2024, a DEA propôs uma mudança das regras. Mas a medida ficou paralisada por questões legais e administrativas.

Trump expressa há muito tempo o desejo de alterar a política de drogas americana em relação à cannabis.

"Acredito que está na hora de pôr fim às detenções e encarceramentos de adultos por pequenas quantidades de maconha para uso pessoal", escreveu ele na rede Truth Social no ano passado, durante a campanha presidencial.

"Precisamos também implementar regulamentações inteligentes, permitindo o acesso a produtos seguros e testados para adultos", afirmou Trump.

A proposta de reclassificação enfrentou certa resistência entre os legisladores republicanos.

Na quarta-feira (17/12), um grupo de 22 senadores republicanos enviou uma carta aberta para o presidente, defendendo que o uso da maconha significaria que "não poderemos reindustrializar a América".

Os senadores destacaram antigas preocupações com o impacto da cannabis à saúde, além de pesquisas indicando que ela pode estar relacionada à "redução da capacidade de julgamento" e "falta de concentração".

"À luz dos seus riscos documentados, possibilitar o crescimento da indústria da maconha vai na contramão do crescimento da nossa economia e do incentivo a estilos de vida saudáveis para os americanos", segundo os senadores republicanos.

Em carta separada enviada em agosto para a Procuradora-Geral dos Estados Unidos Pam Bondi, nove deputados republicanos defenderam que "não há ciência ou dados adequados" para sustentar a mudança.

"A maconha é diferente da heroína, mas ainda tem potencial de abuso e seu valor médico não foi cientificamente comprovado", diz a carta.

"Portanto, alterar a classificação da maconha não só seria objetivamente errado, mas também indicaria para nossas crianças que a maconha é segura. Isso não pode estar mais longe da verdade."

De forma geral, pesquisas demonstram que a maioria dos americanos apoia as iniciativas de legalização da maconha.

Uma pesquisa do instituto Gallup, publicada em novembro, concluiu que 64% dos americanos acreditam que ela deveria ser legalizada. Mas o apoio variou levemente em relação a anos anteriores, devido a uma queda de 13 pontos entre os cidadãos republicanos.

Este vídeo pode te interessar

  • Viu algum erro?
  • Fale com a redação

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais