Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 16:44
As notícias sobre a descoberta do 3I/Atlas, um cometa "estrangeiro", que veio de fora do Sistema Solar, viajaram numa velocidade comparável à do próprio objeto interestelar.>
E, junto com as informações divulgadas a partir de julho de 2025, surgiram também especulações e alegações que fogem do consenso de especialistas da área: algumas versavam sobre o risco desse cometa se chocar com a Terra; outras sugeriam que ele seria, na verdade, uma nave alienígena.>
Na próxima sexta-feira (19/12), o 3I/Atlas estará no ponto mais perto de nosso planeta — embora, como você entenderá ao longo da reportagem, falar em proximidade aqui seja praticamente um exagero.>
Mas essa posição dele permitirá que alguns telescópios e outros equipamentos avançados capturem imagens e façam medições valiosas sobre esse cometa — o que, por sua vez, pode nos ajudar a entender um pouco melhor como sistemas planetares diferentes do nosso foram formados.>
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Mas o que já sabemos sobre o 3I/Atlas? E quais mistérios ainda carecem de esclarecimentos? Entenda a seguir como esse objeto que veio de lugares muito distantes pode trazer respostas valiosas.>
O astrônomo Jorge Marcio Carvano, do Observatório Nacional, explica que cometas são objetos feitos de gelo e poeira que se formaram em regiões periféricas dos sistemas planetares.>
Mas o que torna o 3I/Atlas tão especial? O ponto é que a vasta maioria dos cometas observados pelos cientistas nos últimos séculos se originaram dentro do Sistema Solar.>
O 3I/Atlas é apenas o terceiro objeto interestelar, que vem de fora de nossa "vizinhança" formada por Sol, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, etc., a ser captado pelos observatórios, laboratórios e centros de pesquisas das agências espaciais e das universidades.>
Os outros dois são o Oumuamua, descoberto em 2017, e o Borisov, em 2019.>
E isso abre uma janela de oportunidade única: entender como outros sistemas planetários, diferentes do nosso, nasceram.>
"Os cometas são feitos de grãos de poeira com gelo que não chegaram muito próximo do Sol em nenhum ponto da sua formação. Então esse material fica preservado", contextualiza Carvano.>
"Quando a gente observa os cometas, conseguimos estudar o que aconteceu no início da formação do Sistema Solar, para entender como foram os processos que geraram a Terra e os outros planetas", complementa o especialista.>
É possível que esses objetos também estejam relacionados à origem da água na Terra — algumas evidências sugerem que parte da água disponível no nosso planeta tenha vindo de asteroides ou cometas.>
"Além disso, esses objetos tendem a ser ricos em material orgânico, o que abre a possibilidade de eles terem alguma relação com o aparecimento da vida no Sistema Solar", acrescenta Carvano.>
No caso específico do 3I/Atlas, isso tudo ganha outra proporção, como mencionado anteriormente.>
"Como ele vem de outro local, há possibilidade de entender essas questões numa escala maior, a partir de outras estrelas e da formação de outros sistemas planetários", diz o astrônomo.>
Vale ponderar, no entanto, que todo esse conhecimento vai demorar a ganhar forma.>
Isso porque é necessário capturar as imagens, fazer todas as medições, para aí sim começar as análises e interpretações dos dados — algo que pode levar meses ou até anos.>
Uma data-chave para esse esforço é o dia 19 de dezembro, data em que o 3I/Atlas atingirá o ponto mais próximo em relação à Terra — algo em torno de 270 milhões de quilômetros, ou quase duas vezes a distância do nosso planeta até o Sol.>
Isso permitirá que diferentes equipamentos, como o telescópio Hubble, realizem observações e captem detalhes do 3I/Atlas.>
Para ter ideia, até estimativas que parecem mais simples podem ser bem complicadas de fazer quando falamos em distâncias estelares.>
É o caso, por exemplo, de saber o tamanho desse cometa: inicialmente, agências como a Nasa afirmavam que o 3I/Atlas deveria ter algo entre 300 metros e 5,6 quilômetros de diâmetro.>
"Algumas observações e modelos recentes sugerem que esse cometa tem um tamanho menor, algo como 600 a 800 metros de diâmetro", informa Carvano.>
Essa conta é dificultada porque, conforme viaja pelo espaço e se aproxima do Sol, o objeto é rodeado por uma grande nuvem de gás e poeira.>
Lembra que o cometa é formado por gelo? Ao chegar perto de uma estrela, o calor e a radiação dão início a um processo de sublimação, ou seja, de conversão do gelo em gás.>
E, junto com a liberação de substâncias em estado gasoso, o cometa também perde parte da poeira que estava encapsulada em seu interior.>
É justamente isso que forma aquele rastro, ou a chamada "cauda do cometa" — que, no caso do 3I/Atlas, foi alvo de uma controvérsia.>
Isso porque esse objeto interestelar apresentou em algumas ocasiões um comportamento um tanto diferente na liberação de gases e poeira.>
Carvano explica que, geralmente, pela ação da radiação e dos ventos solares, as caudas dos cometas se formam e são "sopradas" na direção contrária ao Sol.>
No entanto, foi observado que o 3I/Atlas também fazia essa liberação de gases e poeira na direção do Sol, como se fosse uma "cauda reversa" — ou um "topete".>
E essa evidência ajudou a dar fôlego a algumas teorias que sugerem que o 3I/Atlas seria, na verdade, uma nave alienígena.>
Mas tal alegação é descartada pelo consenso dos cientistas que fazem pesquisas nessa área da astronomia.>
Numa coletiva de imprensa realizada em novembro, Amit Kshatriya, um dos representantes da Nasa, falou diretamente sobre esse debate, que ele classificou como um "rumor".>
"Acho importante falarmos sobre isso [as origens do 3I/Atlas]. Esse objeto é um cometa. Ele tem a aparência e comportamento de um cometa. E todas as evidências apontam para que ele seja um cometa", comentou ele.>
Carvano acrescenta que é esperado que um objeto que se originou fora do Sistema Solar tenha comportamentos e padrões um pouco diferentes ao que estamos acostumados.>
"Mesmo essa questão da cauda na direção do Sol, nós já observamos isso em cometas do próprio Sistema Solar", exemplifica ele.>
"O 3I/Atlas é um objeto que vem de fora do Sistema Solar, a gente já esperava que ele tivesse uma composição diferente da média", complementa o especialista.>
Entre notícias e boatos, Carvano acredita que novos objetos interestelares que estejam de passagem pelas nossas vizinhanças da Via Láctea sejam encontrados ao longo dos próximos anos.>
"Nós agora temos telescópios melhores e conseguimos analisar os dados de maneira mais eficiente, o que facilita a descoberta desse tipo de objeto", observa ele.>
"Vivemos uma época bastante excitante para o estudo dos cometas", constata o astrônomo.>
Quando foi descoberto, o 3I/Atlas viajava a uma velocidade de 221 mil km/h — e sua trajetória indica que essa será a primeira — e única — vez que ele passará "perto" do planeta Terra.>
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