Publicado em 11 de novembro de 2023 às 16:17
Ter muito autocontrole costuma ser visto como algo bom. A habilidade é considerada a chave para o sucesso em muitos aspectos da vida — seja para conseguir uma promoção no trabalho, seguir um a rotina de exercícios ou resistir à tentação de um doce.>
No entanto, tal como sugerido por uma teoria publicada pelo professor Thomas Lynch em 2018, um elevado autocontrole pode nem sempre ser uma coisa boa — e, para alguns, pode estar ligado a certos problemas de saúde mental.>
De acordo com a teoria de Lynch, cada um de nós se inclina mais para um dos dois estilos de personalidade: "subcontrole" ou "supercontrole". O lado de cada um depende de muitos fatores, incluindo o perfil genético, a aprovação ou reprovação dos outros ao redor, as nossas experiências de vida e as estratégias de enfrentamento que usamos no cotidiano.>
É importante ressaltar que ser subcontrolado ou supercontrolado não é bom nem ruim. Embora esses polos indiquem um perfil de comportamento, a maioria de nós é psicologicamente flexível e pode se adaptar às diferentes situações que apareçam. Portanto, independentemente de sermos supercontrolados ou subcontrolados, essa flexibilidade nos ajuda a lidar com desafios e contratempos da vida de uma forma construtiva.>
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Tanto o subcontrole quanto o excesso de controle podem tornar-se problemáticos. Isso geralmente acontece quando uma combinação de fatores biológicos, sociais e pessoais nos torna muito menos flexíveis.>
A maioria de nós provavelmente está mais familiarizada com as manifestações do chamado subcontrole problemático. Pessoas altamente descontroladas podem ter poucas inibições e não conseguem segurar as próprias emoções. Esse comportamento pode ser imprevisível porque muitas vezes depende do humor no qual estão. Isso pode afetar negativamente os seus relacionamentos, educação, trabalho, finanças e saúde.>
Existem muitas terapias que podem ajudar essas pessoas. De modo geral, ajudam o paciente a aprender a regular as emoções e aumentar o autocontrole. Por exemplo, a terapia cognitivo-comportamental visa a ensinar o controle sobre seus pensamentos, comportamento e emoções. Da mesma forma, a terapia comportamental dialética — projetada para pessoas que vivenciam emoções muito intensamente — tem como alvo a desregulação emocional.>
Infelizmente, não se fala tanto em excesso sobre as pessoas muito controladas. Isso acontece porque traços excessivamente assim — como a persistência, a capacidade de fazer planos e cumpri-los, a luta pela perfeição e a manutenção das emoções — são altamente valorizados em muitas sociedades. Mas, quando o excesso de controle se torna um problema, pode ser prejudicial em muitas áreas da vida.>
Pessoas altamente sob controle podem ter dificuldade para se adaptar a mudanças. Eles podem ser menos abertos a novas experiências e críticas dos outros e tendem a ser muito obstinados. Pessoas com esse quadro podem experimentar sentimentos amargos de inveja dos outros e ter dificuldade para relaxar e se divertir em situações sociais. Eles também podem usar menos gestos, raramente sorriem ou choram, e tentam esconder suas emoções a qualquer custo.>
Juntas, essas características podem tornar uma pessoa mais propensa a vivenciar isolamento social e solidão. Em última análise, isso pode piorar sua saúde mental.>
Infelizmente, muitas das terapias psicológicas disponíveis não são úteis no tratamento de problemas de excesso de controle. Isso ocorre porque as técnicas se concentram em melhorar o autocontrole e a regulação emocional. Mas, como as pessoas excessivamente assim já controlam e regulam demais, precisam de uma terapia que possa ajudá-las a aprender que às vezes não há problema em relaxar e deixar simplesmente as coisas acontecerem.>
Juntamente com sua teoria, Lynch também desenvolveu uma terapia destinada a tratar questões de excesso de controle — conhecida como terapia comportamental dialética radicalmente aberta. Os primeiros estudos mostraram que a técnica tem muito potencial para ajudar pessoas excessivamente controladas. Isso é feito ensinando-os a abandonar a necessidade de estar sempre no controle, a serem mais abertos sobre suas emoções, a se comunicarem melhor com outras pessoas e a serem mais flexíveis em meio a situações de mudança.>
É importante ressaltar que essa terapia é transdiagnóstica, ou seja, que pode ser útil independentemente da condição de saúde mental com a qual uma pessoa possa ter sido diagnosticada antes. A investigação mostra que pode ser útil inclusive para pessoas que lutam com uma série de condições de saúde mental — tais como depressão resistente ao tratamento, anorexia nervosa e perturbações do espectro do autismo.>
Mas, para receber ajuda adequada, uma pessoa deve primeiro ser corretamente identificada como altamente controlada.>
A avaliação atual do excesso de controle é bastante longa e complexa. Envolve alguns questionários e uma avaliação que deve ser conduzida por um médico especialmente treinado. Esses fatores podem limitar o acesso ao apoio e retardar o tratamento.>
Estou trabalhando no desenvolvimento de um método de avaliação simplificado que ajudará a identificar prontamente o excesso de controle problemático. Isso também tornará mais fácil para os pesquisadores continuarem estudando o supercontrole. >
O excesso de controle é normalmente admirado, e pessoas assim raramente são abertas sobre seus problemas e lutas internas. É por isso que o excesso de controle problemático pode passar despercebido por muito tempo. É esperado que o trabalho contínuo nesse campo torne mais fácil para as pessoas obterem a ajuda de que necessitam.>
É importante ressaltar que o supercontrole e o subcontrole são conceitos complexos e não podem ser autodiagnosticados. Se você suspeitar que pode estar supercontrolado ou subcontrolado — e especialmente se isso estiver afetando sua saúde e bem-estar — é importante entrar em contato com um médico ou terapeuta.>
* Alex Lambert é pesquisadora de doutorado da Nottingham Trent University, na área de Psicologia do supercontrole desadaptativo.>
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.>
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