Publicado em 8 de fevereiro de 2025 às 07:43
Limerência é um termo com o qual talvez você não esteja familiarizado. Ele descreve um desejo involuntário, incontrolável e obsessivo por outra pessoa. Essa fixação pode levar a um sofrimento significativo, perturbando a vida cotidiana, e pode ter impactos negativos em outras pessoas também.>
A limerência pode afetar qualquer pessoa, mas é mais provável que ocorra em pessoas com ansiedade ou depressão. Acredita-se que ela afete de 4 a 5% da população em geral, embora seja muito difícil de medir.>
O termo foi cunhado pela psicóloga comportamental Dorothy Tennov em seu livro de 1979, Love and Limerence: The Experience of Being in Love ("Amor e Limerência: A Experiência de Amar", em tradução livre). Ela a descreveu como um fenômeno psicológico único, diferente de se apaixonar, que é movido por um desejo incontrolável por outra pessoa — o "objeto limerente".>
Qualquer pessoa pode se tornar um objeto de limerência, seja um amigo, colega ou um estranho. Esses sentimentos quase sempre não são correspondidos porque uma das principais características da limerência é a incerteza dos sentimentos do outro.>
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O período em que uma pessoa está experimentando esses sentimentos é chamado de "episódio limerente". A duração de um episódio de limerência varia de pessoa para pessoa.>
Para algumas pessoas, como aquelas com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), isso pode ser particularmente intenso, pois a paixão se combina com características como hiperfoco — uma fixação intensa em um interesse ou atividade por um longo período de tempo, o que é familiar para muitas pessoas neurodiversas.>
Ainda há alguma discussão acadêmica sobre se a limerência é "natural", como sugerido originalmente por Tennov em seu livro. Outros estudiosos apontam seu impacto negativo na vida cotidiana, inclusive na saúde mental da pessoa, e potencialmente na outra pessoa. Também é importante observar que a limerência não é um diagnóstico formal.>
Uma pessoa em um estado de limerência idolatra seu objeto limerente, fixando-se em suas características positivas e negando quaisquer falhas. Suas emoções se tornam dependentes de sinais percebidos de interesse ou rejeição, levando a altos e baixos extremos.>
Eles pensarão continuamente em seu objeto limerente, o que pode ser excitante e divertido, especialmente se os sentimentos forem recíprocos. Nesses casos, pode ser difícil reconhecer o tipo de apego limerente em um relacionamento, confundindo esses sentimentos com os estágios iniciais do amor romântico.>
Entretanto, a intensidade da limerência tem consequências negativas. Uma pessoa em estado de limerência pode ter pensamentos intrusivos, desconforto físico, sentimentos intensos e unilaterais, bem como pensamentos obsessivo-compulsivos em relação ao seu objeto limerente. Essas características distinguem a limerência das paixões e dos sentimentos românticos convencionais semelhantes.>
Normalmente, há três estágios de limerência. Primeiro, a paixão, que envolve a atração inicial em que a pessoa começa a idealizar alguém.>
Em segundo lugar, a cristalização, que é a fase totalmente limítrofe, em que predominam os pensamentos obsessivos, a dependência emocional e a euforia ou o desespero. E a terceira, a deterioração, quando o apego acaba desaparecendo.>
Embora a limerência continue a ser um tópico pouco pesquisado, alguns estudos sugerem ligações com estilos de apego ansiosos, quando a pessoa teme a rejeição e anseia por garantias constantes.>
As pessoas com esse estilo de apego geralmente apresentam maior sensibilidade emocional e intensa preocupação com as respostas do parceiro. Essas características podem torná-las mais vulneráveis à limerência, pois lutam para regular as emoções e se separar do objeto de sua paixão.>
Isso também pode afetar a capacidade da pessoa de desenvolver e manter relacionamentos saudáveis, sejam eles amorosos ou platônicos.>
Há pouca literatura sobre como as pessoas que sofrem de limerência podem regular suas emoções ou interromper o ciclo. Em termos de apoio externo, terapias como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e a terapia de aceitação e compromisso (ACT) podem ajudar.>
A ACT funciona ao mudar a relação da pessoa com seus pensamentos e sentimentos. Ao utilizar um processo conhecido como "difusão cognitiva", a pessoa aprende a perceber seus pensamentos intrusivos e a se desligar deles. Para aqueles que sofrem de limerência, isso pode facilitar o desenvolvimento e a manutenção de relacionamentos saudáveis.>
No entanto, embora a limerência possa ser avassaladora, reconhecê-la pelo que ela é, e não se julgar por se sentir assim, pode ser um primeiro passo importante.>
Em segundo lugar, é fundamental praticar a autoconsciência: compreender os gatilhos e os padrões do comportamento limerente e usar esse conhecimento para construir bases mais saudáveis para relacionamentos futuros.>
Em terceiro lugar, estabelecer limites, como limitar a exposição ao objeto limerente, pode ajudar a quebrar o ciclo de reforço. E, em quarto lugar, praticar a autocompaixão e a paciência, aceitando essas emoções sem julgamentos e concentrando-se no crescimento pessoal, pode ajudar a aliviar o sofrimento.>
A internet permitiu que mais pessoas compartilhassem suas experiências com a limerência, encontrassem apoio da comunidade e compreendessem melhor a si mesmas. >
No entanto, é necessário que haja maior conscientização e mais pesquisas para apoiar as pessoas que lutam contra seus efeitos e para oferecer maneiras mais saudáveis de lidar com a atração e o apego.>
*Rebecca Ellis é pesquisadora assistente em Saúde Pública da Universidade de Swansea, no Reino Unido.>
**Este artigo foi publicado no The Conversation e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original em inglês.>
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