Publicado em 22 de abril de 2019 às 17:39
Enquanto fazia turismo com o marido pelas ruas de Colombo, maior cidade do Sri Lanka, a geóloga brasileira Alice Ferreira Souza, 35, ouviu uma explosão. Eles estavam em um tuk-tuk (triciclo motorizado popular na região), o motorista disse que provavelmente o barulho vinha de algum gerador em pane e continuou o passeio.>
Cerca de 40 minutos depois, ao voltar para a área, o veículo parou em frente ao hotel Cinnamon Grand. "Descemos e vimos uma confusão absurda", conta ela. "O prédio estava cercado, tinha muita polícia, gente carregando pessoas para dentro de ambulâncias, curiosos parando para tirar foto", descreve.>
"Na hora, pensamos: é atentado. Mas achamos que era uma coisa isolada", completa. Não era. O Cinnamon Grand foi um dos alvos da série de oito ataques que deixou ao menos 290 mortos e 500 feridos no país asiático no domingo de Páscoa (21). Três igrejas também foram atingidas, assim como outros dois hotéis, o Kingsbury e o Shangri-La.>
Pouco depois de ver a cena, o casal de brasileiros passou por esses dois hotéis e viu que também estavam isolados, com policiais, ambulâncias e curiosos por toda parte. As explosões ocorreram simultaneamente, por volta das 8h45 (0h45 no horário de Brasília). "O Kingsbury e o Shangri-La ficam na orla, e a gente tinha passado na frente deles mais cedo. Tiramos um monte de fotos lá", conta Alice.>
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Ela procurou reportagens sobre os atentados nos sites de notícias, mas só encontrou um link naquele momento. Mesmo assim, procurou um wi-fi para mandar uma mensagem para a mãe dizendo que estava bem. Só depois de um tempo, foi saber que se tratava do mais violento atentado no país desde o fim da guerra civil, há dez anos.>
Até agora, foram detidas 24 pessoas por suspeita de relação com os ataques, e o governo do Sri Lanka apontou o grupo jihadista NTJ (National Thowheeth Jama'ath, ou Organização Nacional Monoteísta, em tradução livre) como o responsável.>
Alice e o marido moram atualmente na Arábia Saudita e passavam pelo Sri Lanka voltando de uma viagem para a China e a Coreia. Eles ficariam no país até o dia seguinte, mas decidiram antecipar a volta após o que aconteceu.>
"A população estava até tranquila: não vimos tumulto, gente correndo, nada disso", conta. "Mas teve toque de recolher, tudo estava fechado na cidade. Não fazia sentido continuar ali, isolados naquela confusão", afirma.>
No aeroporto, a situação estava mais conturbada -sem táxis nas ruas, eles chegaram até lá de tuk-tuk, em um trajeto que levou mais de uma hora e meia. "Estava um caos. A entrada do aeroporto bloqueada, todos os carros eram revistados por policiais armados, tinha um engarrafamento enorme. Vimos muitos turistas querendo ir embora também", conta.>
O casal conseguiu mudar a passagem pela internet e embarcou em um voo às 18h30 do mesmo dia. Antes, passou por uma revista minuciosa no saguão. "Inspecionaram a roupa, as malas, tudo, antes mesmo de entrarmos para o embarque", conta. "Já tínhamos estado no país antes e não era assim, foi realmente por causa do que aconteceu.">
O Sri Lanka tem um longo histórico de tensão entre a maioria budista e as minorias hindu, muçulmana e cristã.>
O grupo apontado como autor dos ataques, o NTJ, era conhecido por vandalizar estátuas budistas. Em 2016, seu secretário, Abdul Razik, foi preso por incitar racismo.>
Especialistas ouvidos pela agência Reuters consideram que é provável o envolvimento de grupos como Al Qaeda ou Estado Islâmico, pela complexidade e coordenação entre os ataques.>
Segundo o último censo, de 2012, 75% da população do país é budista, 12,6 % é hindu, 9,7% é muçulmana e 7,6% é cristã (sendo a maioria católica).>
Após o ataque, o governo decretou um toque de recolher e bloqueou o acesso a redes sociais e a aplicativos de mensagens, como Facebook e WhatsApp, com a intenção de evitar o surgimento de boatos.>
O papa Francisco voltou a condenar nesta segunda-feira (22) o ataque. "Peço a todos que não hesitem em oferecer toda a ajuda necessária a essa querida nação. Espero que todos condenem esses atos terroristas e inumanos, jamais justificáveis", disse ao público reunido na praça de São Pedro durante as celebrações da segunda-feira de Páscoa, feriado na Itália e no Vaticano.>
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