Publicado em 22 de maio de 2025 às 08:39
A confirmação do primeiro caso de gripe aviária numa granja comercial do Brasil acendeu o alerta das autoridades sanitárias do país.>
O vírus influenza H5N1, que é reconhecidamente um dos principais candidatos a causar a próxima pandemia, foi detectado pela primeira vez em 1996 na China. >
Desde então, ele tem se espalhado pelo mundo e afetado diferentes espécies de animais. Além das aves, diversos mamíferos (como leões marinhos, focas e raposas) também podem se infectar com esse patógeno.>
Há registros de casos e mortes entre seres humanos. Nesses episódios, a infecção aconteceu pelo contato direto com animais afetados por esse vírus. Até o momento, não foi estabelecida uma transmissão direta de uma pessoa para outra.>
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Entenda a seguir o que se sabe sobre esses casos, quais são os sintomas mais frequentes e qual é a taxa de mortalidade da gripe aviária entre indivíduos de nossa espécie.>
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos dividem as manifestações dessa doença em dois grupos principais.>
O primeiro abarca os sintomas leves a moderados:>
O órgão destaca que o sintoma mais predominante entre casos recentes de gripe aviária registrados nos EUA foi a conjuntivite. >
Entre os incômodos leves menos frequentes, é possível que o paciente também tenha diarreia, náusea e ânsia de vômito.>
O segundo grupo destacado pelo CDC é o dos sintomas moderados a graves:>
A gripe aviária pode se agravar. Nessas situações, é comum que o paciente sofra com pneumonia, insuficiência respiratória, falência aguda dos rins, falência múltipla de órgãos, sepse e até meningoencefalite (inflamação que acomete estruturas do sistema nervoso). >
Em entrevista à BBC News Brasil, o virologista Fernando Spilki explica que essa variação de sintomas — que vão desde incômodos brandos e simples até complicações bem sérias — está relacionada à lenta introdução do vírus na nossa espécie. >
"Nós já vimos casos humanos que só tiveram uma conjuntivite, e outros que desenvolveram uma doença respiratória muito grave", observa o especialista, que é professor da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul.>
"Os sintomas conhecidos ainda estão um pouco dispersos", complementa ele.>
Algo similar aconteceu durante a pandemia de covid-19. Os primeiros casos registrados eram muito graves e chamaram a atenção das autoridades na China.>
Com o passar do tempo, conforme o vírus se espalhou pelo mundo, foi possível conhecer em detalhes as manifestações que esse agente infeccioso causa no corpo.>
E esse conjunto de sintomas também se modificou conforme o patógeno evoluía e novas variantes foram detectadas. >
Algumas delas causavam mais perda de olfato e paladar, enquanto outras afetavam com maior frequência o nariz e a garganta, por exemplo. >
Ainda segundo o CDC, o tempo entre a pessoa ser exposta ao vírus da gripe aviária e o aparecimento dos sintomas costuma ser de três dias. >
Mas esse prazo pode variar entre dois e sete dias, a depender do caso.>
O centro americano pontua que os sintomas oculares, como a vermelhidão e a irritação, já são observados em um ou dois dias após o contato com esse patógeno.>
Ainda não se sabe ao certo o tempo que um indivíduo com sintomas leves a moderados poderia em tese transmitir o vírus adiante — embora ainda não tenham sido detectados episódios de infecção direta, de uma pessoa para outra.>
O CDC estima que o pico do risco de contágio entre quadros mais leves aconteceria nos primeiros dias da infecção.>
Já nos casos severos, que demandam hospitalização, o paciente potencialmente teria uma alta carga viral no sistema respiratório e poderia passar o vírus adiante durante algumas semanas. >
Em linhas gerais, pelo que se sabe até agora, os sintomas leves a moderados da gripe aviária duram entre alguns poucos dias até duas semanas. >
Já os incômodos mais graves podem gerar repercussões que se alongam por um tempo maior, de várias semanas.>
Pelo que se conhece até o momento, a transmissão desse patógeno entre as aves se dá pelo contato direto entre esses animais ou através da água contaminada.>
Entre aves e mamíferos, a passagem do vírus se dá pela proximidade com excreções contaminadas ou pela predação (quando um animal caça e come o outro).>
Já de aves e mamíferos para humanos, o causador da gripe aviária pode ser transmitido pela via respiratória, por meio de gotículas de saliva que saem em tosses e espirros, por exemplo. >
Outro risco aqui é a manipulação das carcaças dos animais mortos.>
"A exposição a superfícies contaminadas com secreções e excreções animais também representa outro risco", diz o CDC.>
"Comer aves ou ovos malpassados ou crus, ou consumir leite não pasteurizado de vacas leiteiras infectadas também pode representar um risco de exposição à infecção pelo vírus da gripe aviária. Consumir produtos devidamente preparados e cozidos (ou pasteurizados) é seguro", acrescenta a instituição.>
O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês) destaca que o tratamento da gripe aviária pode envolver o uso de fármacos antivirais, como o oseltamivir ou o zanamivir.>
"Esses medicamentos reduzem a gravidade dos sintomas, previnem complicações e aumentam a chance de sobrevivência", resume o NHS.>
Os médicos também podem indicar outras medidas, como manter-se em casa ou isolado em hospital (para evitar novas infecções), fazer repouso, caprichar na hidratação e tomar remédios para alívio dos sintomas (como febre e dor de cabeça).>
Spilki destaca que o vírus causador da gripe aviária é bem agressivo entre os animais. >
Ele se espalha rapidamente e causa uma doença grave, que infelizmente culmina na morte da maioria das aves e dos mamíferos afetados.>
Entre seres humanos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) compila dados dos casos e mortes desde janeiro de 2003.>
Até 22 de abril de 2025, infecções entre humanos haviam sido registradas em 25 países: Vietnã, Turquia, Tailândia, Iraque, Indonésia, Egito, Djibuti, China, Camboja, Nigéria, Azerbaijão, Paquistão, Mianmar, Laos, Bangladesh, Canadá, Índia, Nepal, Reino Unido, Espanha, Estados Unidos, Equador, Chile, Austrália e México.>
Foram 973 casos confirmados de gripe aviária entre indivíduos da nossa espécie. Desses, 470 morreram.>
Isso representa uma taxa de mortalidade de 48,3%.>
A título de comparação, a atual taxa de mortalidade da covid-19 fica ao redor de 1%.>
"Os vírus influenza comuns costumam se replicar nas vias aéreas superiores e nos pulmões. Já o H5N1 parece ir além e atinge outros órgãos vitais, como o cérebro, o coração, o fígado, o baço e os rins", detalhou o virologista Edison Luiz Durigon, professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), em entrevista à BBC News Brasil em março de 2023.>
"Os atestados de óbito para gripe comum costumam dizer que o indivíduo morreu de infecção pulmonar ou pneumonia. Já no H5N1, a causa de morte geralmente é descrita como 'falência múltipla de órgãos'", complementou o virologista.>
Que fique claro: os casos de gripe aviária em seres humanos são esporádicos e estão todos relacionados ao contato próximo com animais infectados em granjas ou na natureza. >
Até o momento, não foi registrado nenhuma cadeia de transmissão direta desse influenza de uma pessoa para outra. No Brasil, não há nenhum caso confirmado do tipo.>
Para isso ocorrer, seria necessário que o H5N1 sofresse mutações — ou se recombinasse com outros tipos de influenza que afetam as pessoas ou as demais espécies (como aves e suínos).>
Mas será que isso pode acontecer um dia?>
"Eu diria que há uma incerteza, mas nunca estivemos tão próximos de um cenário desses. E uma pandemia de H5N1 seria uma tragédia", alertou Durigon.>
Para os pesquisadores, o H5N1 é um forte candidato a causador de uma futura pandemia. >
A pergunta aqui não é "se" isso vai acontecer, mas, sim, "quando", avaliam eles.>
A boa notícia é que, ao contrário do que ocorreu na covid-19, os governos e serviços de saúde já têm planos definidos sobre o que fazer caso um avanço do H5N1 se torne realidade — algumas vacinas, inclusive, já estão prontas ou em desenvolvimento agora.>
No Brasil, o Instituto Butantan — que já fabrica as vacinas contra a gripe usadas nas campanhas anuais — aguarda o aval da Anvisa para iniciar os estudos clínicos de um imunizante desenvolvimento especificamente contra a gripe aviária. Os testes devem envolver 700 voluntários e têm como objetivo principal checar se as doses são seguras e capazes de induzir uma resposta contra esse vírus.>
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