Em algumas áreas do Leste da Alemanha, o neonazismo deixou de ser só uma ideologia para tornar-se um estilo dos jovens. Sobretudo no estado da Saxônia, berço do movimento Pegida (Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente), a juventude neonazista fez grifes da extrema-direita como Thor Steinar, Reconquista, Rizist ou Masterrace Europe crescerem em pouco tempo com a venda de camisetas com símbolos nazistas muitas vezes reconhecidos apenas à segunda vista, como o uso da palavra Heil (de Heil Hitler) em um outro contexto, como Ski Heil.
Martin Hering, frequentador das manifestações do Pegida, diz que a juventude do Leste se identifica com o estilo porque é moda, mas por trás da aparência está o espírito nacionalista, que ele chama de patriota, de não querer se tornar semelhante ao território do que era a antiga Alemanha Ocidental, onde há bairros de imigrantes que ele não quer ver na sua parte do país.
A loja de Hering, a Nationales Versandhaus, fica na pequena cidade de Gohrisch, na região chamada de Suíça Saxônica, a cerca de 45 km de Dresden. O negócio foi fundado já há oito anos, mas conseguiu prosperar com o surgimento do Pegida, em 2014, e do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), fundado em 2013. Participantes do Pegida são os maiores compradores de produtos da Versandhaus e as camisetas Rizist ou Thor Steinar.
De Gohrisch, cidade de pouco mais de 2 mil habitantes, partem para a Europa pacotes com camisetas com símbolos nazistas, livros que glorificam a Wehrmacht (forças armadas nazistas), outros que negam o Holocausto, adesivos ou CDs com músicas como Adolf Hitler vive.
Nós queríamos a reunificação para ter uma grande Alemanha, não um governo de Angela Merkel que abriu o país para os refugiados diz Hering, que tinha três anos quando o Muro de Berlim caiu.
Sabine Kirst, da Sociedade de Educação Política de Dresden, acompanha os lançamentos de moda neonazista e como o uso de símbolos e palavras proibidos por lei são contornados. Um exemplo é a grife Alpha Industries, que se tornou uniforme de extremistas em consequência do simbolismo que estaria por trás do seu nome.
O A maiúsculo quer dizer ariano. Outras grifes, como a Ansgar Aryan, são mais explícitas ao usar imagens marciais e alusão à raça ariana afirma Kirst.
As grifes e seus usuários são antiamericanos, anticapitalistas, antissemitas e antimuçulmanos. Assim, não é inteiramente um paradoxo a adoção também de símbolos comunistas, como a foto de Che Guevara com a boina basca os neonazistas apreciam a ideia de que ele foi antiamericano e anticapitalista.
Não deixa de ser também uma ironia que um capitalista de Dubai tenha feito com que a marca Thor Steinar, nome que remonta à mitologia nórdica, crescesse vertiginosamente, com filiais em toda a Alemanha e lucro de mais de 100 milhões de euros por ano. A grife foi fundada em 2002 pelo alemão Axel Kopelke na cidade de Königs Wusterhausen, no Leste, e depois vendida a Mohammed Aweidah, que, sem se importar com o conteúdo, reagiu como um bom homem de negócios, fazendo a grife crescer oferecendo à juventude o chique Thor.
Um problema foi a proibição da marca por causa do uso da imagem da cruz suástica como logo, o que a lei alemã não permite. Mas isso foi rapidamente superado. O logo foi modificado, continuando, porém, a ser associado ao nazismo pelos compradores. Depois de valorizar a empresa, o investidor árabe resolveu vendê-la ao grupo alemão Mediatex GmbH, por trás dos quais estão simpatizantes da extrema-direita.
Alguns estádios de futebol proibiram o uso dessas grifes. Quando o Hertha, principal time de Berlim, joga no Estádio Olímpico, quem usa um modelo de uma marca típica de extrema-direita é barrado na entrada.
Para o jornalista Felix M. Steiner, autor do estudo Cultura juvenil de extrema-direita, as cidades do Leste vivem em clima de medo da cena neonazista. O maior motivo de preocupação é que esses jovens desconhecem o contexto histórico da época. O assunto ditadura nazista é pouco abordado nas escolas alemãs.
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