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Grifes que usam símbolos inspirados na suástica fazem sucesso

Grifes que usam símbolos inspirados na suástica fazem sucesso

Juventude neonazista cresce principalmente no estado da Saxônia, berço do movimento Pegida

Publicado em 2 de abril de 2018 às 11:18

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Thor Steinar. Marca modificou a suástica para poder usá-la como logo. (Reprodução)

Em algumas áreas do Leste da Alemanha, o neonazismo deixou de ser só uma ideologia para tornar-se um estilo dos jovens. Sobretudo no estado da Saxônia, berço do movimento Pegida (Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente), a juventude neonazista fez grifes da extrema-direita — como Thor Steinar, Reconquista, Rizist ou Masterrace Europe — crescerem em pouco tempo com a venda de camisetas com símbolos nazistas muitas vezes reconhecidos apenas à segunda vista, como o uso da palavra “Heil” (de Heil Hitler) em um outro contexto, como “Ski Heil”.

Martin Hering, frequentador das manifestações do Pegida, diz que a juventude do Leste se identifica com o estilo porque é moda, mas por trás da aparência está o espírito nacionalista, que ele chama de “patriota”, de não querer se tornar semelhante ao território do que era a antiga Alemanha Ocidental, onde há bairros de imigrantes que ele não quer ver na sua parte do país.

A loja de Hering, a Nationales Versandhaus, fica na pequena cidade de Gohrisch, na região chamada de Suíça Saxônica, a cerca de 45 km de Dresden. O negócio foi fundado já há oito anos, mas conseguiu prosperar com o surgimento do Pegida, em 2014, e do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), fundado em 2013. Participantes do Pegida são os maiores compradores de produtos da Versandhaus e as camisetas Rizist ou Thor Steinar.

De Gohrisch, cidade de pouco mais de 2 mil habitantes, partem para a Europa pacotes com camisetas com símbolos nazistas, livros que glorificam a Wehrmacht (forças armadas nazistas), outros que negam o Holocausto, adesivos ou CDs com músicas como “Adolf Hitler vive”.

— Nós queríamos a reunificação para ter uma grande Alemanha, não um governo de Angela Merkel que abriu o país para os refugiados — diz Hering, que tinha três anos quando o Muro de Berlim caiu.

Sabine Kirst, da Sociedade de Educação Política de Dresden, acompanha os lançamentos de moda neonazista e como o uso de símbolos e palavras proibidos por lei são contornados. Um exemplo é a grife Alpha Industries, que se tornou uniforme de extremistas em consequência do simbolismo que estaria por trás do seu nome.

— O “A” maiúsculo quer dizer “ariano”. Outras grifes, como a Ansgar Aryan, são mais explícitas ao usar imagens marciais e alusão à “raça ariana” — afirma Kirst.

As grifes e seus usuários são antiamericanos, anticapitalistas, antissemitas e antimuçulmanos. Assim, não é inteiramente um paradoxo a adoção também de símbolos comunistas, como a foto de Che Guevara com a boina basca — os neonazistas apreciam a ideia de que ele foi antiamericano e anticapitalista.

Não deixa de ser também uma ironia que um capitalista de Dubai tenha feito com que a marca Thor Steinar, nome que remonta à mitologia nórdica, crescesse vertiginosamente, com filiais em toda a Alemanha e lucro de mais de 100 milhões de euros por ano. A grife foi fundada em 2002 pelo alemão Axel Kopelke na cidade de Königs Wusterhausen, no Leste, e depois vendida a Mohammed Aweidah, que, sem se importar com o conteúdo, reagiu como um bom homem de negócios, fazendo a grife crescer oferecendo à juventude o “chique Thor”.

Um problema foi a proibição da marca por causa do uso da imagem da cruz suástica como logo, o que a lei alemã não permite. Mas isso foi rapidamente superado. O logo foi modificado, continuando, porém, a ser associado ao nazismo pelos compradores. Depois de valorizar a empresa, o investidor árabe resolveu vendê-la ao grupo alemão Mediatex GmbH, por trás dos quais estão simpatizantes da extrema-direita.

Alguns estádios de futebol proibiram o uso dessas grifes. Quando o Hertha, principal time de Berlim, joga no Estádio Olímpico, quem usa um modelo de uma marca típica de extrema-direita é barrado na entrada.

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Para o jornalista Felix M. Steiner, autor do estudo “Cultura juvenil de extrema-direita”, as cidades do Leste vivem em clima de medo da “cena neonazista”. O maior motivo de preocupação é que esses jovens desconhecem o contexto histórico da época. O assunto ditadura nazista é pouco abordado nas escolas alemãs.

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