Publicado em 29 de outubro de 2021 às 15:12
De 196 países virão mais de 25 mil pessoas no final deste mês, para uma única cidade: Glasgow, na Escócia. Lá, de 31 de outubro a 12 de novembro, elas terão a tarefa de encontrar caminhos para combater a crise climática, numa reunião chamada COP26. >
Geralmente anual, o encontro deste ano acontece depois de um hiato provocado pela pandemia de Covid. A conferência ocorre sob pressão para oferecer metas mais ambiciosas e maior esforço para cumpri-las. >
Isso porque o relatório mais recente do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima), divulgado há poucas semanas, mostrou que a janela para segurar o aquecimento global como prometido por seus participantes está praticamente fechada. >
O evento promete atrair a atenção, a presença e manifestações de grupos de ativistas ambientalistas, nos quais se destacam correntes mais jovens, como a Fridays For Future, liderada pela sueca Greta Thunberg. >
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Mas o que é, afinal, uma COP? Quando começou? Quais os principais conflitos? Que resultados já produziu? Tire aqui algumas dessas dúvidas. >
É uma conferência de 156 países, mais a União Europeia, para discutir as regras práticas da Convenção do Clima, um acordo firmado no âmbito das Nações Unidas para combater a mudança climática. >
A sigla significa Conferência das Partes da Convenção do Clima, e ela acontece anualmente. Em 2020, por causa da pandemia de coronavírus, foi adiada. >
Desde 1995, ano seguinte à entrada em vigor da Convenção do Clima. O objetivo é acertar regras para implementar o combate à crise climática e atualizar os resultados desses esforços. >
Nessa primeira COP os signatários concordaram em negociar um instrumento legal --um protocolo-- para implementar a convenção. >
Negociadores discutem em grupos temas específicos, como transparência, finanças ou adaptação, com o objetivo de entregar uma proposta de texto consensual. Essa etapa costuma durar uma semana ou se estender mais alguns dias. >
Na metade da segunda semana, ministros, que têm mandatos dos governos, se reúnem para tentar resolver pontos em que não houve consenso e concluir negociações. >
No último dia da reunião, é apresentado o texto de consenso, ou acordo, além de outras decisões que tenham surgido ao longo da COP. >
União Europeia - o grupo mais agressivo nas metas e medidas de descarbonização >
Umbrella (guarda-chuva) - formado por EUA, Japão, Nova Zelândia, Austrália, Rússia e Noruega, costumam bloquear iniciativas que façam muitas concessões a países emergentes. A Noruega, porém, embora grande produtora de petróleo, tem proposto metas ambiciosas e financiado países mais pobres >
Integridade Ambiental (EIG) - formado por países da OCDE que não estão nem na União Europeia nem no Umbrella: México, Coreia, Suíça, Lichtenstein e Mônaco. Pretende ser uma ponte entre países desenvolvidos e em desenvolvimento >
G77 + China - formado por 133 nações em desenvolvimento, entre elas o Brasil, a África do Sul e a China. Seu foco é obter maior financiamento dos países desenvolvidos. Dentro do G77 há ao menos oito subgrupos mais atuantes, além de outros menores: >
Basic - subgrupo do G77 formado pelos emergentes Brasil, África do Sul, Índia e China >
Pequenas ilhas - 40 nações que correm o risco de desaparecer por causa da elevação do nível do mar; defendem metas mais ambiciosas e pressionam por compensação por perdas e danos irreversíveis >
LDCs - 48 países menos desenvolvidos, da África, Sudeste Asiático e Oceania >
Like-Minded Developing Countriese - inclui Arábia Saudita, Belarus, Filipinas, Egito, Paquistão, Venezuela, Cuba, Nicarágua e outros e advoga que a imposição de compromissos ambientais aos países mais pobres é imperialismo dos mais ricos >
A mais importante até hoje foi a de 2015, na França, que produziu o Acordo de Paris: um projeto para reformar a estrutura da economia mundial, para sustar as mudanças climáticas e evitar as catástrofes que elas podem produzir. >
Outras COPs, porém, produziram avanços antes de Paris. >
Na de Bali (Indonésia), em 2007, a China concordou em negociar metas voluntárias que fossem mensuráveis, e na de Cancún (México), em 2010, foi criado o Fundo Verde do Clima e definido o objetivo de manter o aquecimento global em no máximo 2ºC acima da temperatura da era pré-industrial. >
A COP de Durban (África do Sul), em 2011, foi o evento em que se formalizou a necessidade de metas obrigatórias para todos os países, e na de Lima, em 2014, se acertaram vários dos pontos aprovados depois em Paris. >
O principal resultado prático desta COP será acertar as regras do mercado de carbono, para colocá-lo em funcionamento. >
Outro objetivo político é obter dos países metas mais ambiciosas de redução das emissões de gases de efeito estufa e planos mais concretos de como acelerar a transição para uma economia mais verde, incluindo condições de financiamento. >
1992 - Acontece no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92 (ou Eco-92, ou Cúpula da Terra). Considerado um sucesso, o acordo produziu três convenções da ONU, uma declaração sobre florestas e uma carta de intenções sobre desenvolvimento sustentável, a Agenda 21. O texto da Convenção do Clima, também chamada de Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima (UNFCCC) foi assinado na Rio-92 e entrou em vigor em 1994. >
1995 - COP1 - Berlim (Alemanha) - Produziu um mandato de negociação de um instrumento legal para implementar a Convenção do Clima >
1996 - COP2 - Genebra (Suíça) >
1997 - COP3 - Kyoto (Japão) - Estabeleceu-se o princípio de que todos os países têm responsabilidade de combater a crise climática, mas os que se desenvolveram antes têm responsabilidade de arcar com maiores custos e mais capacidade. O princípio ficou conhecido como CBDR (sigla de responsabilidades comuns, mas diferentes, em inglês), e estabeleceu metas para os países ricos, no período de 2008 a 2012. O protocolo, porém, não foi aprovado nos EUA, o maior emissor, tornando o acordo ineficaz. >
1998 - COP4 - Buenos Aires (Argentina) >
1999 - COP5 - Bonn (Alemanha) >
2000 - COP6 - Haia (Holanda) >
2001 - COP6-2 - Bonn (Alemanha) >
2001 - COP7 - Marrakech (Marrocos) >
2002 - COP8 - Nova Delhi (Índia) >
2003 - COP9 - Milão (Itália) >
2004 - COP10 - Buenos Aires (Argentina) >
2005 - COP11 - Montreal (Canadá) >
2006 - COP12 - Nairobi (Quênia) >
2007 - COP13 - Bali (Indonésia) - Produziu o Mapa do Caminho de Bali: nos dois anos seguintes, as partes do Protocolo de Kyoto concordaram em negociar sua extensão e um aumento nas ações; os países da Convenção do Clima que não participavam do protocolo, como a China, concordaram em negociar metas voluntárias que fossem mensuráveis e verificáveis. Esses compromissos valeriam para o período de 2013 a 2020. >
2008 - COP16 - Poznan (Polônia) >
2009 - COP15 - Copenhague (Dinamarca) - A conferência deveria produzir um acordo a partir das negociações iniciadas em Bali, mas fracassou, porque EUA e China se declararam despreparados para se comprometer obrigatoriamente com ações e metas, como queria a Europa. Líderes escreveram uma declaração política, conhecida como Acordo de Copenhague, prevendo metas voluntárias não sujeitas a cobrança, mas ele não foi adotado oficialmente. >
2010 - COP16 - Cancún (México) - Foi criado o Fundo Verde do Clima, principal mecanismo de financiamento climático. Foram formalizados compromissos assumidos em Copenhague, como o de que as metas cabem não só a países desenvolvidos, mas também a emergentes. Também ficou definido o objetivo de manter o aquecimento em no máximo 2ºC acima da temperatura da era pré-industrial, com uma meta indicativa de máximo de 1,5ºC. >
2011 - COP17 - Durban (África do Sul) - Produziu o maior avanço nas negociações desde o Protocolo de Kyoto: formalizou-se a necessidade de um acordo universal, com metras obrigatórias de corte de emissões de gases de efeito estufa para todos os países do mundo. O programa foi fechar o acordo em 2015 e colocá-lo em vigor a partir de 2020. >
2012 - COP18 - Varsóvia (Polônia) - Foi lançado um mecanismo internacional de perdas e danos, que compensaria países mais vulneráveis (ilhas, principalmente) pelos impactos das mudanças climáticas aos quais não é mais possível se adaptar. Foi feito o REDD+, um guia para reduzir emissões por desmatamento e degradação florestal. >
2013 - COP19 - Doha (Catar) - O acordo de Kyoto foi estendido até 2020 >
2014 - COP20 - Lima (Peru) - Foram discutidos os elementos do futuro Acordo de Paris: mitigação das mudanças climáticas, adaptação, financiamento, um mecanismo internacional que permita verificar e cobrar ações, perdas e danos e um plano de longo prazo. Definiu-se que as metas de redução de emissão seriam estipuladas por cada país, e não impostas de cima para baixo, como em Kyoto. >
2015 - COP21 - Paris - O Acordo de Paris estabelece: >
o compromisso de estabilizar o aquecimento global "bem abaixo de 2 º Celsius" em relação à temperatura do período pré-industrial, "envidando esforços" para estabilizá-lo em no máximo 1,5 º C. >
a adoção de metas determinadas de contribuições (NDCs) por todos os países, válidas a partir de 2020 e revisadas periodicamente >
a expectativa de que todos os países apresentem estratégias de longo prazo para atingir a neutralidade climática (equilíbrio entre emissões e remoções de gases de efeito estufa) até meados deste século >
2016 - COP22 - Marrakech (Marrocos) - Os países começaram a definir as regras de implantação do Acordo de Paris, mas a eleição de Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos e o subsequente desmonte da política ambientalista americana colocou os compromissos sob ameaça. >
2017 - COP23 - Bonn (Alemanha) >
2018 - COP24 - Katowice (Polônia) - Foram estabelecidas as regras sobre comunicação e prestação de contas regulares do Acordo de Paris, além do alinhamento entre investimentos e da consideração de perdas e danos. Mas a tentativa de estabelecer regras sobre o mercado de carbono foi bloqueada por negociadores do Brasil >
2019 - COP25 - Madri (Espanha) - O Brasil mais uma vez bloqueou um acordo sobre o mercado de carbono, além de ter impedido menções a oceanos e direitos humanos em textos discutidos. >
2021 - COP26 - Glasgow (Escócia) >
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