Publicado em 30 de abril de 2020 às 14:20
O colapso econômico da União Europeia terá amplitude e velocidade "sem precedentes em tempos de paz", afirmou nesta quinta (30) Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE). >
Segundo ela, os cálculos feitos pelo BCE estimam que o PIB da zona do euro vai contrair de 5% a 12% neste ano, e que a velocidade e a escala da recuperação quando terminarem as quarentenas são ainda incertas.>
Antes do pronunciamento de Lagarde, as quatro maiores economias da UE -Alemanha, França, Itália e Espanha- haviam divulgado dados e previsões apontando para quedas recordes em seus PIBs.>
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A recessão é uma má notícia não só para a Europa como também para o Brasil: os europeus são os maiores investidores diretos no Brasil e estão em segundo quanto ao volume consumido das exportações brasileiras.>
Somados, esses países têm um PIB de 10 trilhões de euros (cerca de R$ 60 trilhões, segundo dados do Banco Mundial de 2018), 65% da soma de todas as economias do bloco.>
A maior delas, a Alemanha, divulgou previsão de recessão anual de 6,3%. França, Itália e Espanha (em ordem decrescente de tamanho do PIB) divulgaram números oficiais para o primeiro trimestre deste ano: contrações de 5,8%, 4,7% e 5,2%, respectivamente, em relação ao último trimestre de 2019.>
França e Itália, que já vinham de queda no PIB nos últimos três meses do ano passado, estão no que os economistas chamam de recessão técnica.>
Os quatro países são também os de maior população no bloco e os que registraram os maiores números de casos de coronavírus.>
Em todos, restrições para conter a transmissão do vírus foram impostas, com diferentes graus e duração. Na Alemanha, que tem o mais bem preparado sistema de saúde da Europa, o confinamento foi gradual, menos estrito e mais curto. As medidas começaram a ser relaxadas 29 dias depois do início da quarentena.>
Na Itália e na Espanha, que sofreram com hospitais superlotados e excesso de mortes, a atividade começou a voltar após um mês do início do bloqueio. A França é entre eles o país que ficará parado mais tempo: a retomada está prevista para 11 de maio, 55 dias após o início da quarentena.>
A recessão anual estimada pela Alemanha deve ser a maior desde a Segunda Guerra Mundial e encerrar dez anos de crescimento de um PIB que fechou 2018 perto de 4 trilhões de euros (cerca de R$ 24 trilhões), segundo o Banco Mundial.>
Ainda que tenha imposto restrições menos duras e mais curtas, o país teve sua economia muito afetada pela quebra das cadeias de suprimentos (a falta de componentes, grande parte importada da China, afetou a produção) e pela recessão global, que diminuiu as encomendas.>
Segundo o Ministério da Economia, a previsão para 2020 é de uma queda de 11,6% nas exportações. Para 2021, a previsão é de uma recuperação de mais de 5%.>
Na França, segunda maior economia do bloco, a contração do PIB no trimestre foi a maior desde a Segunda Guerra Mundial, segundo a agência nacional de estatísticas (a série histórica começa em 1949).>
O PIB francês encolheu 5,8% em relação quarto trimestre de 2019, levando a economia da França ao que os economistas chamam de recessão técnica (dois trimestres consecutivos de queda da economia).>
Os investimentos empresariais franceses recuaram 11,4% e o consumo das famílias caiu 6,1%.>
Na Itália, terceira economia do bloco, a redução foi a maior desde o começo dessa série histórica, em 1996: o PIB caiu 4,7% no primeiro trimestre, em comparação com o trimestre anterior, segundo o escritório nacional de estatísticas (Istat). O país já vinha de uma queda de 0,3% no último trimestre de 2019, no que é chamado por economistas de recessão técnica (dois semestres seguidos de contração).>
É a quarta vez nesta década que a economia da Itália entra em recessão.>
Com uma economia mais frágil e um endividamento de 135% do PIB em 2019, a Itália prevê um déficit de 10,4% de seu PIB neste ano para recuperar os danos provocados pela crise do coronavírus. O rombo é o dobro do registrado na crise global de 2008, o que já levou agências de risco a rebaixar a nota de crédito italiana (na prática isso significa que credores cobrarão juros mais altos para compensar um risco maior).>
Na Espanha, a quarta maior economia do bloco, o PIB recuou 5,2%, a maior redução em quase um século.>
Foi o maior recuo desde a crise da década de 1930, de acordo com a agência nacional de estatística do país (INE).>
É mais que o dobro da queda registrada (2,6%) no primeiro trimestre de 2009, após a crise global de 2008.>
Com um PIB de cerca de US$ 1,419 trilhão, segundo o Banco Mundial (cerca de R$ 7,8 trilhão), o país havia fechado o ano passado com a atividade em pequena alta, de 0,4% no último trimestre.>
As quedas no mercado imobiliário (9,6%), no consumo das famílias (7,5%) e no investimento privado (3,5%) foram alguns dos principais fatores de contração.>
O país registrou em abril deflação de 0,7%, principalmente por causa da queda nos preços de combustíveis.>
As previsões aumentam a pressão para que a União Europeia encontre uma solução para refinanciar a retomada do bloco sem aumentar a desigualdade entre seus membros.>
Por enquanto, os 27 países já concordaram com medidas que somam 540 bilhões de euros (R$ 3,24) para combater os danos provocados pelas quarentenas: prevenir desemprego, garantir renda a trabalhadores autônomos, dar crédito a empresas e fortalecer serviços de saúde.>
Os recursos, porém, só devem começar a fluir a partir de 1º de junho, quando estarão prontos os processos e regulamentações.>
Para a reconstrução, a proposta inicial é elevar o teto do Orçamento plurianual europeu (de 2021 a 2017) para usar esse colchão como garantia de um empréstimo feito pela UE e depois repassado aos membros que precisarem.>
O esquema ainda não foi detalhado, mas a Comissão Europeia disse que o valor total do fundo ficará na casa dos trilhões de euros.>
O objetivo é igualar as condições de acesso ao capital entre os membros, já que as situações de seus cofres públicos e de suas economias levam a riscos diferentes e, portanto, a taxas de juros diferentes.>
Com a garantia do bloco europeu, a UE pode levantar mais recursos a taxas mais baixas, e permitir que os países mais vulneráveis tenham o crédito necessário para investir.>
Ainda não há dados de todos os países para calcular a contração de toda a zona do euro neste trimestre (os números da Alemanha devem ser divulgados em 15 de maio), mas o escritório de estatísticas da UE estima queda de 3,8%, em relação ao trimestre anterior.>
Seria a queda mais acentuada desde o começo das séries temporais, em 1995.>
As estimativas são de que a área do euro feche este ano com uma recessão anual maior que a de 2009, quando o PIB contraiu 4,5%. Pode chegar a 7,5% em 2020, segundo o comunicado feito pelo economista-chefe da Comissão Europeia, Paolo Gentiloni, a membros do Parlamento Europeu.>
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