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Descoberta de ferramentas de 380 mil anos questiona teoria humana

Descoberta de ferramentas de 380 mil anos questiona teoria humana

Peças encontradas na Índia sugerem que homem moderno saiu da África antes do que se pensava ou aponta evolução tecnológica local

Publicado em 31 de janeiro de 2018 às 21:03

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Artefatos encontrados na Índia. (Reprodução / Sharma Centre for Heritage Education, India)

Compreender os processos migratórios e a evolução tecnológica dos povos ancestrais humanos não é tarefa fácil, sobretudo pela falta de evidências fósseis. Sem métodos de preservação ou condições únicas para a fossilização, os ossos se decompõem em poucos anos. Restam apenas as ferramentas para recontar a história. Em um punhado delas, descobertas na Índia, está reescrevendo a visão aceita para o início da migração da África para outras regiões do planeta.

Quando os hominídios deixaram a África, há cerca de 1,7 milhão de anos, levaram consigo uma assinatura: o machado de mão acheuliano. Essa peça de pedra talhada, com duas faces de corte, é característica do período conhecido como Paleolítico Inferior. A passagem para o Paleolítico Médio é marcada pelo surgimento de uma nova técnica de produção de ferramentas, conhecida como Levallois.

Artefatos arqueológicos indicam que essa evolução tecnológica ocorreu entre 400 mil e 300 mil anos atrás na África, e de lá se espalhou para outras regiões. Na Índia, ferramentas do Paleolítico Médio teriam chegado há cerca de 140 mil anos, mas análises em mais de 7 mil objetos descobertos no sítio arqueológico de Attirampakkam, no sul do país, indicam que esse processo ocorreu bem antes.

"Nós não sabemos quem eram os fabricantes de ferramentas, mas podemos sugerir um mais antigo e complexo, e menos linear, padrão de dispersão e interações entre várias espécies de hominídeos do que se acreditava", apontou Shanti Pappu, do Centro Sharma para Educação do Patrimônio, em Tamil Nadu, autor principal do estudo publicado nesta quarta-feira na revista “Nature”. "Isso desafio qualquer modelo simplista sobre a origem e evolução da fase do Paleolítico Médio da pré-história, e, certamente, a dispersão dos humanos modernos".

Uma das teorias mais aceitas relaciona a entrada dos povos da Índia no Paleolítico Médio com a dispersão do homem moderno a partir da África, mas Pappu e sua equipe descobriram em Attirampakkam ferramentas Levallois datadas em 385 mil anos, praticamente no mesmo período em que elas surgiram no continente africano.

A descoberta sugere a presença da cultura Paleolítica Média na Índia muito antes de qualquer migração do homem moderno ter dispersado a tecnologia para fora da África. Isso implica que esses movimentos migratórios aconteceram muito antes do que se pensava ou essa evolução aconteceu de forma independente entre os hominídios que já habitavam a região.

"Alguns arqueólogos acreditam na origem independente desta técnica, enquanto outros defendem a difusão de populações e ideias", explicou Pappu. "Encontramos técnicas Levallois muito específicas entre 380 mil e 172 mil anos atrás, e também vimos pontas Levallois logo na sequência. Algumas pistas sugerem que as origens do Levallois podem estar nas habilidades dos hominídeos acheulianos, mas não temos a resposta completa".

A mudança no processo de fabricação de ferramentas representou um grande salto tecnológico dos ancestrais humanos. Os machados de mão acheulianos eram, basicamente, pedras lascadas de modo a formar uma espécie de lâmina. Na técnica Levallois, existia o planejamento da ferramenta, que era extraída de uma peça de pedra maior. Ela permitia a fabricação não apenas de instrumentos de corte, mas de pontas de lanças e lâminas.

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"Isso marca uma mudança drástica das grandes ferramentas de corte que caracterizam a cultura acheuliana. Estudos em outros sítios do Paleolítico Médio que, diferente de nós, possuem fósseis bem preservados, sugerem o surgimento de novas abordagens para a caça e a exploração de recursos vegetais", disse o pesquisador. O Paleolítico Médio marca um 'pacote comportamental' totalmente diferente e sugere novas formas de adaptação ao ambiente local.

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