Publicado em 13 de dezembro de 2025 às 14:44
O fim de semana marca o segundo turno das eleições presidenciais no Chile.>
O ultradireitista José Antonio Kast e a comunista Jeannette Jara se enfrentam nas urnas neste domingo (14/12), na primeira vez em que o voto é obrigatório no país.>
As últimas pesquisas dão vantagem a Kast por margem superior a dez pontos frente a Jara. Mas não se sabe qual será o comportamento dos indecisos, o que dificulta qualquer prognóstico sobre o resultado da eleição.>
Kast parece ter aproveitado a transferência de votos dos candidatos de direita derrotados no primeiro turno. Ele conseguiu o apoio do libertário Johannes Kaiser e da representante da direita tradicional Evelyn Matthei.>
>
Um dos fatores de incerteza que marcam esta eleição é qual será o destino dos votos de mais de cinco milhões de chilenos que serão obrigados a votar pela primeira vez.>
Também não se sabe ao certo qual será a preferência dos eleitores que, no primeiro turno, votaram no candidato antissistema Franco Parisi, que conquistou a terceira posição, com quase 20% dos votos.>
Em todo este contexto, o advogado José Antonio Kast, líder da ultradireita e fundador do Partido Republicano, disputa a presidência pela terceira vez, com um discurso "linha-dura" baseado nos temas de segurança e imigração, além da redução dos gastos fiscais.>
Já a ex-ministra do Trabalho do atual governo, Jeannette Jara, representa uma aliança que reúne todos os setores da esquerda e da centro-esquerda chilena.>
Ela venceu o primeiro turno das eleições, com uma mensagem baseada no aumento do acesso às redes de proteção social e medidas para enfrentar os problemas de segurança e de migração, dois temas prioritários para os chilenos.>
Os dois candidatos tentaram conseguir o apoio dos eleitores considerados mais próximos do centro em uma eleição histórica, marcada pelo forte antagonismo representado pelos modelos de sociedade defendidos por cada um deles.>
Mas como se comparam as propostas mais emblemáticas de Kast e Jara?>
A candidata comunista de 51 anos defende que, se for eleita, seu governo apostará em representar a visão da esquerda e da centro-esquerda, agrupadas na coalizão política que a apoia.>
No setor econômico, Jara propôs a criação de uma "receita vital" de cerca de US$ 800 (cerca de R$ 4,3 mil) por mês, para melhorar a situação financeira das famílias mais vulneráveis. O valor seria coberto gradualmente, com subsídios estatais para pequenas e médias empresas.>
"No meu governo, queremos colocar mais dinheiro no seu bolso", declarou a candidata.>
Jara prometeu reduzir o preço das contas de luz e fazer com que o Estado forneça apoio econômico para a poupança dos jovens de 25 a 40 anos, para compra de moradia.>
Outra de suas propostas é eliminar o uso da Unidade de Fomento (UF) nos setores de saúde e educação, para evitar o aumento "excessivo" dos pagamentos.>
A UF é um índice reajustado diariamente, de acordo com a inflação. Ele é usado para indicar o valor da moradia, os empréstimos bancários e o custo dos seguros de saúde.>
Ela também propôs a criação de um subsídio unificado ao emprego para as mulheres, jovens e idosos, além da redução da lista de espera para atendimento médico.>
Em relação à imigração, diferentemente das deportações em massa prometidas por Kast, Jara propõe a criação de um registro biométrico e uma "regularização limitada" para os estrangeiros sem antecedentes penais, que estejam empregados e mantenham vínculos familiares, além de um registro biométrico dos estrangeiros que moram no país.>
Por outro lado, a candidata do governo se comprometeu a fortalecer o controle das fronteiras, com o apoio das Forças Armadas e tecnologia de vigilância.>
No campo da segurança, Jara afirma que seu governo atacará as finanças do crime organizado. Para isso, sua proposta é levantar o sigilo bancário, para rastrear o fluxo de dinheiro vinculado ao narcotráfico.>
"Não adianta ter mais prisões ou mais policiais, se não enfrentarmos a raiz do crime organizado", afirmou ela.>
Paralelamente, a candidata também prometeu fortalecer a polícia do país e aumentar o controle sobre as armas.>
No último debate presidencial antes do segundo turno, Jara anunciou que, se for eleita, renunciará à sua militância no Partido Comunista.>
Em relação à ameaça de uma possível intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela, Jara defende que o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, "sem dúvida, deve deixar o poder". Mas alertou que a proposta de Donald Trump, para ela, "viola o direito internacional".>
"Não vou apoiar a invasão de outro país", afirmou ela.>
O eixo central da campanha de Kast gira em torno dos temas de segurança e imigração. O ultradireitista articulou seu discurso em torno da ideia de um "governo de emergência", para enfrentar o aumento da criminalidade.>
Kast propôs a construção de prisões de segurança máxima, aumento das penas para os infratores da lei, o fim dos "narcofunerais", uma revisão da forma de aplicação de legítima defesa e a criação de uma força especial para recuperar zonas do país dominadas pela criminalidade.>
"O Chile voltará a ser um país seguro", declarou o candidato.>
Em relação à imigração, ele prometeu deportações em massa de imigrantes em situação irregular, incluindo voos fretados para levá-los de volta aos seus países de origem. O custo deverá ser financiado, em parte, pelos próprios passageiros.>
"Iremos fechar as fronteiras em todos os lugares onde houver passagens irregulares", afirmou Kast, como parte do seu Plano Escudo Fronteiriço.>
Mas, nos últimos dias, o candidato moderou seu discurso, declarando que as deportações no seu governo não seriam como as dos Estados Unidos.>
"Existem diversas formas de convidar as pessoas a sair, mas quem irá pagar? Eu não vou", afirmou ele.>
Kast também propõe que a imigração irregular passe a ser considerada crime e que os estrangeiros sem documentos não tenham acesso aos benefícios básicos fornecidos pelo Estado, como educação, saúde ou moradia.>
No setor econômico, o candidato prometeu promover a "austeridade", reduzindo os gastos fiscais em US$ 6 bilhões (cerca de R$ 32,4 bilhões) em um prazo de 18 meses.>
A viabilidade da aplicação desta medida vem sendo colocada em dúvida, devido à magnitude do corte. Sua concretização implicaria a redução de benefícios sociais para a população.>
Mas Kast garantiu ser possível proceder aos cortes sem prejudicar benefícios sociais, como a Pensão Garantida Universal, mas não detalhou como implementaria o ajuste.>
No setor tributário, o ex-deputado anunciou que, em seu eventual mandato, irá reduzir o imposto corporativo para grandes e médias empresas, dos atuais 27% para 23%. E prometeu eliminar o imposto de renda de capital na venda de ações, em alguns casos.>
Diferentemente do seu discurso nas eleições anteriores, Kast evitou comentar temas como o aborto e o casamento homoafetivo, bem como as violações de direitos humanos durante o regime de Augusto Pinochet (1915-2006). No passado, o candidato defendeu algumas de suas políticas.>
O plano de governo de Kast gerou comparações com figuras como o presidente da Argentina, Javier Milei, dos Estados Unidos, Donald Trump, e o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.>
No plano internacional, Kast declarou, em um dos debates presidenciais, que sua posição frente a uma possível incursão militar dos Estados Unidos na Venezuela está representada na frase inscrita no brasão de armas chileno: "Pela razão ou pela força.">
E, sobre o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, pioneiro das políticas linha-dura contra o crime, ele afirmou que, se todos os chilenos tivessem que votar hoje e o nome de Bukele estivesse na cédula, ele seria eleito.>
>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta