Publicado em 6 de setembro de 2019 às 17:35
Interrompendo uma relação até então marcada por elogios, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) criticou nesta sexta-feira (6) o presidente da Bolívia, Evo Morales, e disse que é no país vizinho onde estão ocorrendo os maiores incêndios florestais.>
"Agora há pouco, na conferência de Leticia [cidade na Colômbia onde ocorre uma cúpula sobre preservação na Amazônia] vi que tinha um ali [presidente] que não estava muito a favor das propostas dos demais. Parece que não estava integrado a nós", disse Bolsonaro, referindo-se a Morales, embora sem citá-lo nominalmente.>
"Ele disse que o capitalismo está destruindo a Amazônia. Como se no país dele não tivesse ocorrido as maiores queimadas", complementou o presidente.>
As declarações foram dadas no Palácio do Planalto, durante um ato de lançamento, pelo Ministério da Educação, de uma carteira de identidade estudantil gratuita.>
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Minutos antes, Bolsonaro fez um rápido pronunciamento por videoconferência na reunião em Leticia. Bolsonaro não viajou à Colômbia por recomendações médicas, já que deve se submeter a uma nova cirurgia neste fim de semana.>
Além de Morales, participaram do encontro os presidentes de Colômbia (Iván Duque), Peru (Martín Vizcarra) e Equador (Lenín Moreno). Também estiveram presentes autoridades da Guiana e do Suriname.>
A cúpula foi convocada por Duque e Vizcarra para coordenar uma respostas dos países que têm selva amazônica em seus territórios frente à onda de queimadas florestais na região.>
Brasil e Bolívia são os mais afetados pelas chamas.>
Foram dois os pontos da intervenção de Morales na cúpula -que antecedeu a do presidente brasileiro- que irritaram Bolsonaro.>
O boliviano de fato disse que o capitalismo era responsável pela destruição do meio ambiente, num contexto de crítica ao consumismo.>
Em outro momento, Morales se queixou da ausência do ditador venezuelano Nicolás Maduro. Embora a Venezuela seja membro da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, Maduro não foi convidado à cúpula por não ser reconhecido como presidente por quase todos os países presentes, entre eles Brasil, Colômbia e Peru.>
Morales disse que questões ideológicas não deveriam interferir num esforço de cooperação para preservação ambiental, o que motivou novos ataques de Bolsonaro na cerimônia de lançamento da carteira de identidade estudantil.>
"Esse presidente saudando o socialismo e dizendo que faltava um presidente ali [Maduro], que eu vetei. Um presidente que estava maduro demais, por isso que eu vetei", queixou-se Bolsonaro.>
A investida de Bolsonaro contra Morales destoa do história da relação entre os dois, que até então era marcada por afagos do brasileiro ao boliviano.>
Bolsonaro já elogiou Morales pela rápida devolução por parte das autoridades de La Paz do terrorista italiano Cesare Battisti. Além do mais, o brasileiro saudou o fato de o presidente do país vizinho não ter participado de uma reunião do Foro de São Paulo, grupo que reúne os principais partidos de esquerda na América Latina.>
Apesar das trocas de afagos, o presidente boliviano criticou recentemente, em entrevista à Folha de S.Paulo, a política de armas do governo Bolsonaro e disse que jamais adotaria políticas semelhantes em seu país.>
A fala de Bolsonaro transmitida por videoconferência na cúpula de Leticia foi rápida e fugiu do tom comedido adotado pelos demais mandatários.>
O presidente se queixou no vídeo do que chamou de "indústria de demarcação de terras indígenas" no Brasil.>
"No Brasil isso aconteceu há 30 anos, o que chamamos indústria de demarcações de terras indígenas, sobretudo na região amazônica. [Feita por] governos de esquerda no Brasil, socialistas, que não acreditavam no capitalismo na propriedade privada. Hoje temos sim a nossa região ameaçada", declarou o presidente.>
Em sua fala, Bolsonaro disse que "ainda está em jogo" um plano para "tornar a Amazônia um patrimônio mundial". O brasileiro se referiu às declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, que na cúpula do G7 defendeu que se discutisse um estatuto internacional para a floresta.>
"A questão das queimadas é quase que uma cultura em muitas regiões do Brasil e também nos países de vocês", disse o presidente brasileiro na transmissão.>
"As queimadas estão abaixo da médias dos últimos anos. Logicamente devemos evitá-las, mas esse furor internacional nada mais serve, a não ser para que Macron atacasse o Brasil e colocasse em risco a nossa soberania. Por mais uma vez ele disse que a soberania [da Amazônia] estava em aberta. Entendo que recado semelhante foi dado aos países de vocês", acrescentou o mandatário.>
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