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Argentina aposta em 'dólar Coldplay' e 'dólar Catar' contra crise no câmbio

Argentina aposta em 'dólar Coldplay' e 'dólar Catar' contra crise no câmbio

Com 15 cotações diferentes para a moeda dos EUA, país tem restrições duras para a compra de divisas devido à baixa reserva de moeda estrangeira

Publicado em 12 de outubro de 2022 às 18:43

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  • Sylvia Colombo

BUENOS AIRES - Com a criação dos dólares "Coldplay", para auxiliar os produtores de espetáculos, oferecendo a eles um dólar mais acessível para a contratação de artistas e shows no país, o dólar Qatar, que na verdade se aplica a qualquer compra no exterior com cartões de crédito, acrescidas de mais dois impostos (que podem chegar a 75% do valor da compra), a Argentina agora possui 15 tipos de cotações oficiais.

Dólar está em alta
Argentina adotou cotações diferentes para o dólar, conforme o uso da moeda. (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O dólar "Coldplay" permitirá que produtores possam contratar espetáculos estrangeiros por um dólar cotado a 200 pesos, ou seja, sem recorrer ao paralelo. O acesso ao dólar em sua cotação oficial (149 pesos) só é permitido para importação de bens de capitais e de compra de maquinarias e de insumos para a indústria.

Desde 2018, essas restrições para a compra de dólar ficaram ainda mais duras, devido à baixa reserva da moeda estrangeira no país. A compra de dólar ao valor oficial está praticamente proibida a particulares, que só podem comprar US$ 200 para fins de poupança, por mês. Se precisam de mais, devem recorrer ao mercado "blue", no qual a moeda norte-americana vale quase 285 pesos — em alguns locais clandestinos de venda, já chega a 300 pesos.

CONHEÇA OS DÓLARES QUE ESTÃO EM VIGOR NO PAÍS

O "dólar oficial" é disponível apenas a importadores de determinados bens para a indústria e exportadores que liquidem suas vendas no exterior, além dos bancos e o Banco Central. Para ter acesso a esse dólar, os importadores o fazem por meio do Banco Central, que também compra as divisas ingressadas pelos exportadores, para engrossar as magras reservas argentinas.

Já o "dólar minorista" é o preço a que os bancos vendem os bilhetes de dólar a seus clientes. Por conta das restrições acima explicadas, apenas é possível adquirir US$ 200 por mês, e mesmo assim o comprador deve estar registrado e cumprir certos requisitos, como justificar a razão da compra da moeda.

Existe também o "dólar solidário", que usa como base o oficial, mas com a aplicação de um imposto de 65%. Também possui uma limitação de US$ 200 por mês, e deve ser justificada. Se o "minorista" se volta mais a quem tem pretensões de poupar com essa moeda, o "solidário" se presta à compra de bens considerados essenciais, como relacionados à saúde.

O "dólar blue", ou paralelo/informal, é o que rege o mercado de preços da Argentina, por ser o único mais acessível, ainda que ilegal. A cotação do "blue" se aproxima aos 300 pesos, e é quase 100% mais cara que o oficial.

Operações bancárias, transferências vindas de outros países, gastos em dólar na Argentina são feitos em dólar oficial, o que prejudica quem recebe. Isso leva a que muitos argentinos que recebam dólares do exterior, prefiram fazê-lo por meio de contas no Uruguai, que permite a retirada em dólar, ou que várias transações locais se realizem com os bilhetes de dólar, como compras de apartamentos e imóveis, que são em geral pagos em "cash", para evitar que custem o dobro.

O "dólar blue" é comercializado em casas de câmbio e por "arbolitos", vendedores avulsos. A atividade é ilegal, mas as autoridades fazem vista grossa para a maioria delas.

O "dólar Netflix" é o dólar aplicado a serviços de "streaming" estrangeiros pagos com cartão de crédito, como Netflix, Spotify, outros. Para pagar por esse serviço, se aplica o dólar oficial agregado de duas taxas, uma de 45% e outra de 8%, do chamado "imposto país", que se cobra sempre em que há uma compra realizada com moeda estrangeira.

Existe também o "dólar estrangeiro", que foi criado para que turistas estrangeiros não tivessem de recorrer à informalidade. A dificuldade de sua implementação, porém, resultou em baixíssima procura por parte dos turistas, que preferem aderir ao "blue", mais fácil e que compensa mais.

O dólar estrangeiro exige que o turista abra uma conta temporária, apenas pelos dias em que estará no país, no qual pode depositar até US$ 5.000. No momento de abertura da conta, recebe um cartão de débito, no qual pode realizar as transações necessárias em sua viagem no valor de um dólar intermediário entre o "blue" e o "oficial".

Segundo o governo, isso seria mais seguro para os turistas, que não teriam de se expor ao buscar vendedores ilegais. No final da viagem, o turista deve fechar a conta e o restante dos dólares é devolvido.

Em vigor apenas em temporada de venda da soja ao exterior, o chamado "dólar soja", permite que os exportadores recebam o resultado de suas vendas a um dólar na cotação de 200 pesos. No caso da soja, a principal reclamação são os impostos pagos ao governo, de 33%.

O "dólar Bolsa" é um tipo de câmbio que se aplica apenas para transações nesse mercado, e se obtém na compra de um título público e em sua venda. Sua cotação varia segundo o prazo entre uma ação e outra. Parecido ao "dólar Bolsa", há o "dólar contado com liquidação", cuja diferença é que os dólares resultados da transação são depositados no exterior.

Também parecido ao "dólar Bolsa" é o "dólar Senebi" (Segmento de Negociação Bilateral), aplicado a negociação de bônus.

Existem ainda os "dólares ADR", também parecidos ao dólar bolsa, mas com liquidação no exterior, e os "dólares Cedear", para ações cotadas em dólar no exterior.

Por fim, há também o "dólar Cripto", para aqueles que negociam compra e venda de criptomoedas, que são taxadas pelo Banco Central.

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